O debate Keynes

As concepções teóricas dos economistas compõem uma ciência que se propõe rigorosa, voltada à aferição das atividades comerciais, financeiras e industriais, de um ponto de vista estático. Não se descarta a relevância de que medidas e observações possam ser

Por sua vez, a História Econômica é objeto de uma análise, geralmente retrospectiva, que permite avaliar a projeção e os limites, no tempo histórico, do entrecho e das pessoas dramáticas interagindo na fatia, alargadamente denominada de economia política de um país, etc. 


 


 


A Teoria Econômica distancia-se, dessa forma, da História Econômica, que busca a atuação concreta da atividade social, política, econômica no tempo envolvendo preferencialmente, os aspectos da organização dos recursos econômicos, sua distribuição entre as classes sociais, etc.,


 


 


O papel de JMKeynes pode e deve ser estudado, portanto, sob dois aspectos. O primeiro deles é o de teórico da economia que busca os parâmetros do enunciado keynesiano e a coerência interna do seu pensamento, distanciando, ou aproximando, a sua formulação das demais escolas do passado ou do presente. Como o pensamento de Keynes foi efetivo e atuou nas diversas tentativas de amenizar a crise e definir as
políticas fiscais e monetárias indispensáveis , envolve pesquisar o caráter histórico do Keynesianismo durante a Grande Depressão. De essa maneira, verificar o desempenho de Keynes e do Keynesianismo nos anos do New Deal, e nas décadas posteriores, é tarefa historicamente necessária para avaliar, não a exatidão da doutrina posta à prova ( o que é trabalho do economista ). Sob outro enfoque, a sua adequação ao momento histórico em que foi desdobrada e como interagiu com a política e a atividade social da época.


 


 


Vejamos os primórdios da intervenção Keynesiana nos acontecimentos que
antecederam a efervescência da crise dos anos 30. A Inglaterra, terra do Lorde, atravessava, nos anos 20, séria crise de desemprego, os sindicatos se uniam e o movimento trabalhista crescia recebendo a adesão do Partido Liberal (Liberal Party), apoiado por Keynes. Na eleição de 1929, os descontentamentos desaguaram na empresa eleitoral e Keynes atuou intensamente, redigindo um panfleto que acentuou a presença das suas idéias na formulação de políticas fiscais positivas (investimentos
público, portos, estradas, etc.) sob o sugestivo título: Pode Lloyd Georg( Primeiro Ministro do Reino Unido) fazer Isto? (/Can Lloyd George do It?)./ A despeito de sua prosa exuberante e uma crítica severa ao Partido Conservador, na oposição, não o apoiou o eleitorado, nem o governo da época.


 


 


Não há dúvida de que a situação da Inglaterra piorou nos anos seguintes sofrendo as consequencias da depressão internacional especialmente ameaçadora do papel britânico de grande centro financeiro e, também, de grande parceiro nas atividades de intercâmbio comercial do mundo. Keynes novamente buscou convencer o governo inglês, preparando detalhada elaboração de suas idéias para o governo, ainda desta feita sem obter êxito A crise prosseguiu, mas somente com a publicação, em 1936, do seu texto sobre a Teoria Geral do Emprego, Interesse e Juro, as concepções econômico-políticas de K. começaram a receber maior atenção de economistas e políticos., inclusive do governo e da famosa City, o núcleo duro do mundo financeiro inglês e ainda mundial.


 


 


As objeções governamentais ao receituário keynesiano fundavam-se em argumentos práticos, dentre eles que as medidas a serem adotadas, tais como obras e serviços, dependentes do Estado, não poderiam ser executados em prazo exíguo. Para a construção de uma estrada, exemplificava-se, era indispensável adquirir a terra
mediante compra a bem da utilidade pública, e outras providências administrativas que iriam retardar a contratação de operários e outros profissionais. Afirmavam que tais providências dependiam das administrações regionais e não do governo central. Outros se escoravam na convicção de que as causas do desemprego decorriam de aspectos estruturais e exigiam longo prazo para serem contidas. Não havia como
esperar a maturação de cometimentos da natureza das indicadas por Keynes.


 


 


Os britânicos se opunham, nos setores dominantes, a qualquer comprometimento em despesas que pudessem aumentar o déficit orçamentário. Sustentavam que os dispêndios elevados, dentre outros efeitos indesejáveis, abalariam a confiança do grande mercado financeiro da City. Esta precaução, com o equilíbrio orçamentário, era de caráter geral e se manifestou nos Estados Unidos, nos primeiros tempos do
governo Roosevelt.


 


 


Argumento de caráter mais técnico repousava no fato de que o dinheiro, empregado em obras públicas, decorria de empréstimos governamentais, ou seja, era retirado dos particulares. Soma zero ao cabo de contas.


 


 


Os déficits orçamentários e a irresponsabilidade nos gastos acarretariam desconfiança dos investidores, ou mais enfaticamente, falta de confiança, que paralisaria a aquisição de papéis públicos destinados a cobrir os déficits governamentais.


 


 


Tudo isso, aliado ao apego à ortodoxia, foram óbices ao primeiro Keynesianismo. Muitas dessas objeções estiveram presentes no grande debate que se instaurou nos Estados Unidos na década de 30. Em quase toda parte os movimentos sociais manifestaram a sua presença. Vimos, na última coluna, como os movimentos populares nos EUA, contribuíram para que o governo Roosevelt anuísse ao gasto público, empreendendo ações governamentais de caráter Keynesiano. A distribuição da renda, provocada pelas reivindicações e lutas sociais, exerceu papel preponderante na
recuperação da economia americana, pois foram elas antecipatórias das políticas de dispêndio governamental. A influência keynesiana só adquiriu expressão quando os movimentos sociais foram suficientemente fortes para adotá-las como adequadas no momento histórico em que constituíam o caminho indicado para minorar a depressão e o enorme desemprego. Não foram as concepções Kelsenyanas, adotadas expressamente como política do Estado, mas se desenvolveram através do processo social e histórico liderados pelos sindicatos, Roosevelt e grande parte do Partido Democrático. Esta conjugação de lideranças populares permitiu, contra os mesmos obstáculos ideológicos existentes na Inglaterra, aos setores Kelsenyanos da administração americana, liderados pelos economistas do Departamento do Tesouro, de 1934 a 1945 dirigido por Henry Morgenthau (1891-1967) superar, junto a Roosevelt, os conservadores integrantes do Departamento de Estado.


 


 


A adoção de políticas deste naipe não se restringiu ao universo anglo-saxão. Na Alemanha, a classe operária não chegou ao poder pela dissidência intransponível de socialistas e comunistas (KPD), ambos, principalmente o KPD, cresciam nas eleições, mas foram politicamente superados por uma ousada manobra dos conservadores (grande finança, gigantescos conglomerados ), que indicaram Hitler à nomeação para
Reichskanzler da Alemanha. Em janeiro de 1932, o chanceler alemão Brüning (1885-1970), da conhecida República de Weimar, decidiu que o seu país iria pleitear findassem as reparações de guerra ,prescritas ao alemães pelo Tratado de Versalhes (1919). Vimos como Keynes se opôs à natureza elevadíssima dessas reparações e às conseqüências que acarretaram para a segurança e a economia européias. Este pleito era apoiado pela Inglaterra e Itália, a França manifestou-se contrária e os Estados Unidos não adotaram uma posição clara. Logo depois Hitler recebeu, como dizemos coloquialmente, o poder, de mão beijada.O governo nazista adotou políticas internas assemelhadas às Keynesianas, usufruindo do poder totalitário que lhe permitiu reduzir salário, impedir demonstrações populares, prendendo os socialistas e comunistas .
A Alemanha ingressou num período que os historiadores denominam de Autarquia econômica.


 


 


No Brasil não ocorreu mero golpe de Estado, mas a Revolução de Trinta que produziu decisivas modificações econômicas, sociais e políticas. A industrialização adquiriu dinamismo, enriquecido, mais adiante, pelas restrições à importação de produtos industrializados. A oportunidade também não deixou de surgir para outras nações latino-americanas.


 


 


Nas últimas semanas, a polêmica sobre o Keynesianismo suscitou dois excelentes artigos do professor Paulo Singer e o ''Economist'' iniciou um debate sobre as idéias keynesianas no site da revista com a participação de prêmios Nobel e pessoas que se interessaram em compartilhar do espaço cedido pela editora.

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