Nuno Mendes: A gente vê o que ouve

Sábado, 28 de Julho de 2007, logo de manhã por volta das oito e meia estou saindo de Jundiaí com destino à Atibaia para participar de um curso sobre o Socialismo.Este era um  dos dois compromissos importantes que tinha para o dia.

O outro seria a apresentação de uma festa em Jundiaí, no Clube São João, de lançamento do DVD dos Racionais Mc´s, com participação dos grupos: Realidade Cruel, Cagebe, 288 e Jay Tee Mc´s. E confesso que, ainda no caminho para Atibaia, já estava apreensivo com relação à festa pelos sucessivos fatos que aconteceram recentemente e que, criaram uma associação negativa e pejorativa ao Hip-Hop de maneira geral mas, principalmente ao Rap. Mas deixa o tempo correr, ele é o rei.
Foi um bom dia de sábado, quanto ao aprendizado a partir das informações recebidas no curso.


 



Já a noite, toda a apreensão que poderia estar sentindo dissipa-se logo quando entro no ginásio do clube. Casa cheia, um clima livre de toda e qualquer tensão, os manos e minas cumprimentando-se como iguais, independentemente de classe, cor, sexo, etc., os grupos ansiosos para mandarem suas rimas, uma evidente atenção quanto as questões de organização do evento como: segurança, som, luz e estrutura de palco dignos do porte do evento. etc. Um público aproximado de 3.000 pessoas, e isso à temperatura abaixo dos 10 graus. O evento todo transcorreu na mais “pura calma”, sendo que, nos intervalos das apresentações trocava idéias com manos próximos ao palco e uns diziam; “Nuno, logo mais to te enviando meu som novo (caso do Muroni Slick); outros “Nuno, é isso que ta faltando”; outros ainda “ Meu, sou técnico em informática, mas isso aqui é minha vida”; e ainda teve aqueles “Manda um salve….”, “Dá um autógrafo…”, “Podemos tirar uma foto…”, etc.. Tinha um clima de paixão no ar. Ali, nesses momentos, esteve representada de várias formas a verdadeira essência do Hip-Hop que a grande mídia não quer mostrar, aliás ela não estava presente ou se estava, escondeu-se. De vergonha!. Do lado de fora do evento quando a festa estava atingindo o apogeu, com a apresentação dos Racionais, um representante da “lei e ordem públicas”(Polícia), diz pra um dos organizadores do evento “Meu, se alguém aqui escorregar e bater a cabeça você será o responsável e viremos atrás de você”. Já que não tinham autoridade pra entrar e provocar diretamente a galera, como aconteceu na virada cultural, na Pca. da Sé, comparecem pra fazer um terrorzinho psicológico, né?!. Mas isso também faz parte e, ao invés de enfraquecer como querem, fortalece. Voltando pra dentro da festa, entre as apresentações dos grupos, sucediam-se as críticas ao sistema vigente, nas letras e nas idéias dos grupos. Realmente está sendo um bom dia (e noite também) de sábado!


 



Outro fato interessante foi que muito do que havia escutado em teoria no curso pela manhã, estava presenciando na prática na noite do mesmo dia. Grande semelhança com o Rap, na grande maioria das vezes, a gente vê o que escuta. Muito do que o Julio Velloso falou no curso sobre, Socialismo Científico pela manhã e, o que o Nivaldo Santana falou sobre Estratégia e Táticas ( tanto de um lado quanto de outro ) à tarde, eu estava ali vivendo à noite, num evento de Rap.



Por  volta das 5:20 da manhã, depois de terminado o evento, deixo um amigo na rodoviária de Jundiaí despedindo-me.


 


– Valeu rapaz, é nóis na fita!



Nuno Mendes é locutor da rádio 105 FM – SP.

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