Novos formadores de opinião

A bela Praça de Casa Forte, concebida por Burle Marx em terras antes ocupada pelo engenho que deu nome ao bairro, nos idos de 1645 foi palco de sangrento combate vencido pelos luso-brasileiros contra os holandeses – episódio memorável da Insurreição Perna

Domingo passado, no auge da euforia com a vitória do presidente Lula e do candidato a governador Eduardo Campos, comentava-se um desses causos. Um professor universitário habituado às pelejas eleitorais contava que, por desencanto com os erros cometidos por petistas no governo, estava decidido a não votar em Lula. Mas preferiu não fazer alarde de sua atitude, “para não influenciar outras pessoas”, dizia ele, já que se considera integrante do segmento social “formador de opinião”.


 


Acontece que mudou o voto de última hora. Não por moto próprio, mas influenciado justamente pela sua empregada doméstica que, ao saber que o patrão anularia o voto, apelou:


 


– Doutor, por favor, não faça isso. Se Lula perder meu pessoal pode ficar sem o Bolsa Família!


 


O professor “acordou”, dizia ele, para a bobagem que ia fazer. Mais ainda quando a empregada completou o argumento:


 


– Errar é humano, doutor, deixe Lula continuar, ele é bom pros pobres.


 


O fato, narrado ali na praça como exemplo de consciência de uma eleitora menos instruída, na verdade expressa um fenômeno que se generalizou em todo o país, confirmado pelos mapas eleitorais. A força que elegeu Lula veio principalmente de baixo, dos mais pobres, da grande massa que passou a ter vez com a assunção do governante que tem a alma do povo e a cara da gente. Os “formadores de opinião” passaram a ser os componentes do que os publicitários e pesquisadores denominam classes C, D e E, invertendo a equação que punha no topo da influência político-eleitoral a chamada classe média localizada nos segmentos A e B.


 


A base dessa inversão está justamente no fato de que as camadas populares são as grandes beneficiárias da obra de governo do presidente Lula, não apenas por conta dos programas sociais – Bolsa Família, Pronaf, Prouni, Luz para Todos e outros -, mas pela efetiva expansão das oportunidades de trabalho. Nos bairros periféricos do Recife, por exemplo, cresceu muito o número de lojas de eletro-doméstico, confirmando a melhora do poder aquisitivo da população mais pobre.


 


Bom. Supondo que esse seja de fato o fenômeno social verificado no último pleito, cabe agora considerar a necessidade de elevar o nível de consciência dessas camadas populares e concretizar o seu poder de influência através de organizações de massas que efetivamente possam exercer pressão política permanente, inclusive no interregno entre as eleições. Tarefa de todos os que pugnam por um Brasil soberano, democrático e progressista.

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