Nova estratégia militar de Bush para o Golfo

Todos conhecem, histórica e geograficamente a região denominada de Golfo Pérsico. Eu prefiro chama-la de Golfo Pérsico-Arábico, pois ela é meio persa e meio árabe. É a entrada da região de maior concentração de petróleo no planeta. E tem uma pequena entra

A nova escalada militar


Entre várias medidas que Bush anunciou ao mundo no dia 11 de janeiro passado, uma delas foi a mais polêmica: ampliação das forças militares, das tropas, de soldados, em pelo menos 21,5 mil homens, dos quais pelo menos 17 mil ficarão sediados em Bagdá. Claro que tal plano precisa ainda ter a aprovação do Congresso, que agora tem maioria democrata, mas, ao que tudo indica, após algum debate, a tendência é pela aprovação. Ao invés de retirar-se de forma mais acelerada do Iraque, Bush amplia suas tropas na região. Foi o que fez Nixon e Kissinger no início da década de 1970 quando da derrotada guerra contra o Vietnã.



Não que tivéssemos ilusão – e anunciamos isso aos nossos leitores – que ocorreria um anúncio de retirada das tropas, mesmo que gradual. Mas ampliar as tropas e sem data e cronograma para uma retirada, repercutiu muito mal entre os países e a União Européia. Desde que tomou posse, Bush e seus ideólogos da nova direita, os chamados “carinhosamente” pela imprensa americana de neocons (novos conservadores), especialmente Karl Rove, um dos principais ideólogos dessa nova direita que entende o Projeto Americano de ser a liderança mundial do século XXI, que levará “democracia” e segurança ao planeta, claro que sob o tacão e as botinas do exército americano, ainda hoje o maior e o mais poderoso do planeta, imbatível e sem inimigos à vista em curto e médio prazo.



No entanto, o que mais nos chama atenção nesse momento não é tanto essa nova escalada de tropas, aumento dos efetivos. Isso pouco fará diferença, pois a derrota americana no Iraque e em todo o Oriente Médio e na Ásia, como no Afeganistão, é uma questão de tempo. Números bem fundamentados por generais da reserva das próprias forças armadas dos Estados Unidos, sugerem que, para qualquer controle total e efetivo do território iraquiano, seria preciso pelo menos 500 mil soldados e lá, com esse aumento recente, estão estacionados apenas e tão somente 160 mil, já contando os novos que estão chegando (iniciaram o desembarque esta semana). Portanto, essa escalada militar não é a que me preocupa.



Prestem atenção, leitores,a esta frase dita por Bush na semana passada, ao justificar o incremento de tropas: “O sucesso no Iraque também requer a defesa de sua integridade territorial e a estabilização da região, diante do desafio oferecido pelos extremistas. Isso começa por meio de ações, por respeito ao Irã e à Síria (…). O Irã vem fornecendo o apoio concreto à ataques contra tropas americanas. Nós deteremos os ataques, contra nossas forças. Nós interromperemos o fluxo de apoio vindo do Irã e da Síria. E nós localizaremos e destruiremos as redes que oferecem treinamento e armas avançadas aos nossos inimigos no Iraque”.



Há pelo menos cinco possíveis interpretações para o conteúdo desta frase, a saber: 1. Os EUA apenas reforçarão as fronteiras com o Irã e a Síria, a partir do Iraque ocupado militarmente; 2. Os EUA conduzirão uma campanha pela interdição de tráfego tanto de insurgentes como de armas vindos desses dois países; 3. Pode significar que tropas americanas podem receber ordens para cruzar as duas fronteiras dos dois países, perseguindo insurgentes até em território vizinho; 4. Podem ainda receber ordens de ataque dentro de território sírio e iraniano e 5. Finalmente, esses confrontos fronteiriços podem significar ordens de ataques diretos e maciços contra alvos, por via aérea, nos territórios do país árabe vizinho e persa.



Não há indícios claros do que ocorrerá, mas podemos inferir algumas possibilidades, em função de elementos que vem sendo apresentados pelo que se convencionou chamar de CentCom, ou na sigla em inglês, Central Comand, ou Comando Central das Forças Armadas Americanas. Tal órgão militar é um dos maiores exércitos e tropas estadunidenses, que se espalham por várias regiões do mundo. Cobre áreas na África, a partir do Quênia, a sudoeste, passando por toda a região do Oriente Médio (em inglês, Midle East), chegando até ao Cazaquistão, a Noroeste. É exatamente sob a responsabilidade do Comando Central é que os Estados Unidos estão hoje envolvidos em duas batalhas infernais, no próprio Iraque e no Afeganistão.



O exército americano e suas forças armadas, de mais ou menos um milhão de homens mais bem treinados e bem pagos mundo possuem nove frotas navais espalhados pelo planeta. Todas essas frotas navais são capitaneadas por um Porta-Aviões nuclear, da classe Nimitz, como por exemplo o USS Dwight Eisenhower. A composição básica de uma Frota Naval é, além do Porta-Aviões, com pelo menos 85 aeronaves, prontas para combates imediatos, dois destróieres, com pelo menos dois mísseis de cruzeiros guiados (cruise), uma fragata e dois submarinos de proteção, além de um imenso navio cargueiro. Essa frota padrão tem pelo menos 15 mil homens em alto mar e pelo menos 2,2 sempre prontos para desembarque. Essas nove frotas navais americanas estrategicamente espalhadas pelo mundo, podem atacar qualquer ponto e alvo na terra, em qualquer lugar do planeta a, no máximo, uma hora de vôo de seus aviões supersônicos. Tais aeronaves saem dos Porta-Aviões, voam no máximo uma hora e retornam em segurança para o navio, sem necessitar aterrisar em qualquer país.



A 5ª Frota Naval é a que se incumbe de ficar estacionada na região do Golfo Pérsico-Arábico. Protege, especialmente, a passagem dos super-petroleiros que transitam por ali levando petróleo para os Estados Unidos e outras regiões do mundo (pelo menos 22% de todo o petróleo consumido pelos americanos passa por essa região). O ponto de maior preocupação dos americanos é exatamente o Estreito de Ormutz, que deve ter no máximo quatro quilômetros de largura.



Esse Comando Central sempre foi chefiado por um general quatro-estrelas (de exército) ou mesmo por um general do Corpo de fuzileiros (marines corps). A novidade agora são duas: 1. Pela primeira vez, foi nomeado um marinheiro, um almirante – William J. Fallon – para comandantes em chefe da 5ª Frota e 2. Uma nova Frota Naval estaria sendo deslocada para o Golfo.



Imediatamente, os analistas militares e internacionais vão se indagando: porque reforçar como dobro de homens, marinheiros aptos a desembarques a região já altamente militarizada do golfo? Por que no comando um almirante, vindo da aviação, com experiência inclusive da fase final da guerra contra o Vietnã em 1975 e de comando na I Guerra do Golfo em 1991? Alguns especialistas afirmam que é para ir se preparando para o próximo alvo, para o próximo ataque, ainda que sem ocupação de territórios: o Irã!



Assim, as alternativas listadas acima sobre o discurso de Bush, vão ficando claras a quarta e quinta possibilidade, ou seja ataques em territórios iranianos e eventualmente sírios, podendo haver incursões aéreas para destruição de determinados alvos civis ou militares ou até mesmo instalações nucleares.



Perspectivas



É possível que o Irã siga desafiando a maior potência militar no planeta com o seu programa nuclear, talvez pelo fato de saberem que a capacidade militar de deslocamento de tropas estadunidense para atuar em algum país possa estar no limite de sua capacidade. Pode ser também que o Irã confie cegamente na força de seu povo e na mobilização das massas contra um eventual ataque americano.



O que vai ficando claro é a completa ignorância de George W. Bush em aceitar as recomendações de dois grandes amigos de seu pai, que lhe entregaram recentemente um extenso relatório com quase 200 páginas, sobre sugestões sobre o Iraque. Uma dessas sugestões deixa claro que é preciso partir para a via diplomática, conversar com a Síria e especialmente com o Irã, que tem influência forte entre os xiitas do Iraque e do Líbano.



Mas isso Bush não acatou e vai seguir o caminho inverso. Alguns autores chamam isso de “diplomacia da intimidação”, ou seja, de meter medo nos vizinhos, de intimidá-los e nunca conversar com eles, pedir-lhes opiniões e sugestões.



De minha parte não resta dúvida de que a solução do ponto de vista da mente republicana de George W. Bush é cada vez mais dura, mais militarizada. Para isso, enviará mais tropas não só para o Iraque, ampliando a ocupação e presença americana, mas quer militarizar e controlar cada vez toda a região de golfo Pérsico-Arábico, onde estão os países que apóiam os Estados Unidos, os monarcas proprietários dos petro-dólares. De nada adiantará essa nova rodada de visitas da Secretária de estado, Condoleeza Rice, especialmente a recente que fez a Mahmoud Abbas, na Palestina, tentando retomar o Mapa do caminho (Road of Map), na vã tentativa de retomar o diálogo de paz entre palestinos e israelenses, assunto para a próxima coluna.



(1) “Washington usa na área a diplomacia da intimidação”, artigo de John Kifner, do jornal The New York Times publicado no jornal Estadão do dia 16 de janeiro de 2007, página A16; “Como no Vietnã, o tiro antes da queda”, Harold Meyerson, da revista American Prospect, vinculada ao Partido Democrata dos Estados Unidos, publicado na Folha do dia 12 de janeiro de 2007.

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