Nino Brown: ''A Revolução da Mente''

Este artigo marca uma grande estréia. É a primeira entrevista que realizo para o Hip-Hop a Lápis. Sempre priorizamos, os artigos escritos em próprio punho, mas esta não é uma regra e as exceções apesar de raras foram todas muito bem vindas. Também rara

Salve Nino Brown, muita satisfação poder realizar essa entrevista, gostaria que começasse falando de como conheceu o hip-hop?


 



Nino Brown – Sai de Recife para São Paulo no dia 12 de outubro de 1974,estava com 12 anos de idade, fui morar na favela do jardim Calux em São Bernardo do Campo. Meu primeiro emprego registrado foi de metalúrgico como soldador, estava com 14 anos de idade, comecei a me envolver com os bailes blacks em 1977, era a febre da Soul Music.


 


Fui na sede do jardim Calux, estava com 15 anos, percebi que o DJ falava o seguinte: “Pessoal daqui a pouco o som de James Brown!”


 



Vi que as pessoas ficavam eufóricas, isso me deixou muito curioso, quando finalmente chegou a hora, o som de James Brown estava sendo tocado nos tocas discos.


 


Daquela noite em diante eu não era mas o mesmo. Tive uma mudança na minha vida, e a musica de James Brown passou a fazer parte de mim. Comprei meu primeiro disco do James Brown que se chamava, Revolution of the Mind, que significa A Revolução da Mente, pois fiz essa revolução. Decidi que não queria só dançar, mas estudar e tirar nota 10 na prova, e ser o orgulho pra minha família, como a historia é longa vou resumir…


 


Foi dessa forma que comecei a minha trajetória, em novembro de 1978 o grande show do James Brown no palmeiras, eu tinha que ir. E fui com apenas 16 anos, além de James Brown também gosto de Gerson King Combo, Tony Tornado, Jorge Ben, Sandra Sá, Cassiano, Tim Maia, Banda Black Rio, Miguel de Deus, Luiz Gonzaga, Leci Bradão e tantos outros que me dá muitas saudades! Em maio 1980 veio as grandes greves no ABC Paulista, todos foram mandados embora, inclusive eu. Foi difícil mas fazer o que? Pois a luta continua…


 


O hip-hop em sua opinião segue hoje um rumo certo?


R – A única coisa que falo nos lugares em que vou é que as pessoas que querem fazer parte do hip-hop, tem que primeiro conhecê-lo. Para só depois fazer o hip-hop, fazendo desta forma todos vão ganhar. Inclusive quem fundou o hip-hop no mundo. Sempre vamos ter alguém, que quer fazer de seu jeito. Então essa pessoa não tem compromisso, é melhor ela ficar no lugar dela, não deixar estragar uma coisa que levou muito tempo para ser construído.


 


Qual sua função na Zulu Nation?


R – Antes de falar da Zulu Nation eu preciso contar uma historinha. Aqui no Brasil sempre soubemos que o Afrika Bambaataa é o pai do hip-hop junto com Kool Herc entre outros e que ele fazia parte de uma gangue e uniu os elementos e batizou de hip-hop. Pois muito bem, em 1994 eu mandei uma carta para a Zulu Nation querendo obter mais informação sobre o início do hip-hop. Não demorou muito a Zulu Nation mandou resposta, veio um questionário tipo uma ficha de afiliação com 30 perguntas a meu respeito. Foi um desafio para mim, mas consegui ser um membro Zulu, então Zulu Nation é uma entidade fundada em 12 de novembro de 1973 por Afrika Bambaataa, para fazer um trabalho com os jovens que viviam nas ruas do Bronx, afros-descendentes, porto riquenhos, entre outros. Então a minha função na Zulu Nation é divulgar a historia não só do hip-hop mas tudo que se refere à educação, à família, e até hábitos alimentares… Em resumo a Zulu é uma organização de pessoas em busca da paz, amor, união e principalmente um caminho de vida justa.


 


A Zulunation Brasil agora é ONG – organização não governamental?


R – Sim somos uma ONG.


 


Qual a opiniao de Afrika Bambaataa sobre o hip-hop brasileiro?


R – O Afrika Bambaataa falou na Casa do Hip-Hop de Diadema em 3 de Setembro de 2002. Disse que o hip-hop brasileiro está tão forte quanto lá, e que temos que fazer um hip-hop com a cara do Brasil, tipo misturar com samba, capoeira, bossa nova, maracatu, etc.


 


Qual sua opinião a sobre o hip-hop ter atuação política?


R – O hip-hop surgiu com esse propósito. Acho que é políticas publicas, toda atuação que tem sua estratégia, precisamos tomar cuidado aonde pisamos, é só isso.
Fazer política para os excluídos, urbanizar todas as favelas, melhorar a saúde a educação, mais centros culturais na periferia, o transporte, a política traz melhoria de vida para todos, essa seria minha atuação, junto com o hip-hop na política. Mas eu não sou candidato.


 


Aliado G é candidato a deputado em SP no Ceará Bob PTG, ambos são oriundos do hip-hop. No caso do Bob ele inclusive é membro da Zulu Nation Brasil. Qual sua opinião sobre essas candidaturas?


R – O fato de Bob PTG ser membro da Zulu Nation Brasil, isso não impede dele ser candidato. Ele sabe das coisas ou seja sabe separar, tomara que ele ganhe e faça um ótimo mandato no ceará. Mas fico preocupado com muita gente dizendo que é do hip-hop e que é candidato, ora será que pra ser candidato tem que ser do hip-hop? Porque as pessoas não falam, eu sou candidato e pronto, sou cidadão e tenho o direito de me candidatar.


 


Desejo boa sorte ao Aliado G, apesar de nunca ter falado com ele, eu sou um cara que estou sempre  ligado nas coisas que acontece aqui e lá fora. Costume cobrar das pessoas aquilo que elas prometem.


 


A casa do hip-hop de diadema que acaba de completar 7 anos agora também é ponto de cultura? Quais os projetos que esta sendo desenvolvidos?


R – Além dos elementos do hip-hop que são projetos de muito tempo. Com esse Ponto de Cultura o negócios agora é cursos profissionalizantes para a comunidade, computação, fotografia, fazer uma ação para as pessoas tira seus documentos, exames de vista gratuito, ou seja tudo feito com muita seriedade sem enganar a comunidade do hip-hop de Diadema e do mundo.


 



Você é um leitor do hip-hop a lápis? O que pensa sobre esse projeto de pessoas do próprio hip-hop escrevendo suas próprias histórias?


R – Sim sou leitor do hip hop a lapis, tenho o livro que guardo com muito respeito. Ali tem pessoas falando de mim e eu nem sabia, fique emocionado! Acho que demorou para as pessoas do hip-hop escreverem suas próprias historias. Eu já estou me preparando pra isso, pois ano que vem faço 30 anos de correria.


 


Tem alguma história interessante que queira nos contar?


R – Sim, estou com 44 anos, casei com uma pessoa que conheci no baile black, o nome dela é Sueli, tenho duas filhas uma com 24 Sirlene que já casou, outra com 21 Cibele que mora comigo e com a Sueli é lógico, não paro de ouvir James Brown.


 


Para encerrar a entrevista, me diga, você é a lenda viva do hip-hop?


R – Caro Toni C., valeu pela consideração! Eu não sou uma lenda do hip-hop, agente só vira lenda quando morre, é ai que vão lembrar da gente, se existe uma lenda no hip-hop brasileiro, essa lenda chama-se… Nelson Triunfo. King Nino Brown Zulu Nation -mantendo o hip hop vivo.

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