Muito prazer, senhor Keynes (1)

John Maynard Keynes nasceu em Cambridge, na Inglaterra, em 1883, filho
de John Neville Keynes, administrador da Universidade de Cambridge e
dela professor. Keynes estudou economia no Kings College , e trabalhou
na secção da Índia do Império Britâ

Keynes era um intelectual peculiar da formação acadêmica inglesa. Fez
carreira na administração do Império britânico e na Universidade de
Oxford. Conviveu e influenciou um dos mais famosos grupos de
intelectuais de uma região londrina, o Bloomsbury Group, definido pelo
Dicionário de Oxford como “ conjunto (a set) de escritores e artistas
vivendo ou se associando em Bloomsbury, nas primeiras décadas do século
20”. Alguns nomes desse seleto grupo são conhecidos no mundo todo,
dentre eles os escritores Virginia Wolf, EM. Foster, Lytton Strachey,
Aldous Huxley, Khaterine Mansfield, numerosos pintores, músicos, em
suma, pessoas representativas da vida cultural inglesa, intensa na
época. Dentre eles destacava-se JMK, como era conhecido, colecionador de
artes plásticas, dedicado ao teatro, à música, empreendimentos que
conjugava com o seu trabalho de economista ativo, quer nas atividades
governamentais, quer no exercício do magistério. Alguns desses
escritores se referem a Keynes, no estilo peculiar do grupo, que envolve
admiração e fina ironia. Dentre as amizades de Keynes incluía-se George
B. Shaw, a quem Keynes fez referência ao seu mais famoso livro, a Teoria
Geral, numa correspondência em que não poupou elogios ao que seria uma
obra que iria revolucionar a economia nas próximas décadas . Um desses
autores expressou um sentimento que era comum: Mainard Keynes is
Bloomsbury.


 


 


Em 1919, Keynes foi o principal representante do Tesouro britânico na
Conferência da Paz ( reunião dos países vitoriosos na guerra de 1418
com o objetivo de estabelecer as responsabilidades pelo conflito, as
reparações devidas pelos derrotados as divisões territoriais, os
mandatos sobre as antigas colônias, etc.). Inconformado com o rumo das
medidas adotadas, Keynes resignou e escreveu um longo texto onde apontou
as incongruências do Tratado de Versalhes, dentre elas as funestas
reparações exigidas da Alemanha, que não poderiam ser pagas e
redundariam em sérios entraves à recuperação econômica da Europa. As
Conseqüências Econômicas da Paz (Economic Consequences of the Peace) foi
um duro libelo que não perdoou estadistas famosos que dominaram as
sessões, dentre eles Wilson (Presidente dos Estados Unidos), Clemenceau,
( Primeiro Ministro da França) e LLoyd George, o britânico. Demonstrou
Keynes que a preocupação desses estadistas estava mais relacionada com
fronteiras, nacionalidades, balança do poder, expansão imperial,
reparações de guerra e enfraquecimento do poderoso inimigo, a Alemanha.
Refere-se Keynes à atitude da Alemanha da época que não aderiu ao
bloqueio destinado a sufocar a Revolução Soviética. Keynes não se
refere, nesse caso, somente à ilegalidade do bloqueio, mas ao erro de
adotá-lo “injurious to our permanent interess, as well illegal.” A
firme orientação do livro, a sólida argumentação que o embasou, projetou
o jovem economista para um cenário que duraria até a sua morte, em 1946.


 


 


Keynes, no texto mencionado, demonstrou a sua capacidade de analisar
os acontecimentos sem preconceitos políticos, ou submissão aos cânones
da Economia Clássica. Daí por diante despontou como economista apto a
proporcionar meios e condições para impedir a precipitação do
capitalismo na mais profunda crise cíclica da sua história, repleta de
altos e baixos. As teses que sustentou, culminando com a publicação, em
1936, do famoso texto Teoria Geral do Emprego, Juro e Dinheiro,
respondiam às demandas do momento, pois os riscos ameaçavam a
sobrevivência do regime.


 


 


Seymour H. Harris no prefácio do livro de Alvin H. Hansen, A Guide to
Keynes, assegura que A General Theory of Employement, Interest and
Money, publicado em 1936, em conjunto com Origen of Species de Charles
Darwin e Das Kapital de Karl Marx, é um dos mais relevantes livros
publicados nos últimos cem anos. Para Harris, a General Theory oferece
uma exposição árdua, muitas idéias não são apresentadas com clareza e
existem algumas confusões e até erros. Em linhas gerais essas
observações são corroboradas por quase todos os economistas que se
dedicaram a esclarecer, criticar e acrescer o trabalho do famoso Lorde.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor