Miséria da pseudociência

As universidades têm sido invadidas por atividades que difundem e “legitimam” a pseudociência através de cursos de extensão, pós-graduação e graduação,
pesquisas, palestras e seminários. O assunto já assombrou o médico Roberto Cooper, da Companhia de A

Widson Porto Reis apresentou na Primeira Conferência Iberoamericana sobre Pensamento Crítico da revista Pensar, na Argentina, em setembro de 2005, o trabalho intitulado “A Pseudociência nas Universidades Brasileiras”. Nele, menciona cursos existentes em instituições privadas, como “Astrologia Clínica”, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo; “Astrologia Aplicada na Gestão de Pessoas”, na UBC; “Terapias Naturais e Holísticas”, na Universidade Castelo Branco; “Feng-Shui”, na Universidade Veiga de Almeida; “I-Ching”, na Faculdade Cândido Mendes; “Florais de Bach”, na Faculdade Helio Afonso (FACHA) e na Estácio de Sá (UNESA); Reflexologia, na UNISUL.
O fenômeno ocorre também em entidades públicas, financiadas, por tanto, com dinheiro do povo. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) ministra cursos de extensão em Reiki – técnica oriental de cura com as mãos –, Aromaterapia e Mandalas. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) tem cursos de extensão para a formação de profissionais esotéricos: “Terapia Floral”, “Fisiologia Chinesa e Práticas Energéticas”, “Astrologia, Corpo e Saúde“, “Cromoterapia” e “Ecologia da Mente” (que lava os cérebros dos alunos com Radiestesia, I-Ching, Feng-Shui e Tarô – o Hospital Escola São Francisco de Assis pretende implantar estas técnicas no tratamento dos pacientes).
O autor considera que “seria muito bem-vindo um profissional que pudesse prescrever tratamentos naturais reconhecidamente eficazes, separando-os de inócuos, e às vezes perigosos, curandeirismos. Mas como todo cético escaldado sabe, o rótulo de terapias naturais geralmente é uma fachada para as velhas esotéricas técnicas ‘milenares’.
Realmente, uma análise mais cuidadosa do programa desses cursos revela o que se espera: radiestesia, florais de Bach, cromoterapia e reflexoterapia são algumas das disciplinas que um bom naturólogo terá em seu currículo”.
Também a religião vem ampliando seu espaço. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul criou em 2001 o Núcleo Interdisciplinar de Estudos
Transdisciplinares Sobre Espiritualidade. Esse núcleo fez parceria com a Sociedade Brasileira de Apometria – “para quem não conhece, a apometria é uma técnica espírita, controversa mesmo entre os adeptos desta religião, que consiste em aplicar ‘pulsos magnéticos concentrados e progressivos no corpo astral do paciente’”, informa Widson. A apometria envolve desobssessão (exorcismo) e defesa contra vampirismo e espíritos parasitas. Ainda na universidade gaúcha, o Grupo Psi-Alfa-Ômega pesquisa a Transcomunicação Instrumental (TI), que possibilitaria captar mensagens dos mortos nos ruídos de velhos rádios valvulados ou ver espíritos em difusas imagens de televisão.
O autor de “A Pseudociência nas Universidades Brasileiras” defende que sejam realizadas pesquisas acadêmicas sobre as pseudociências, pois “não se deve esperar que as alegações da astrologia e outras artes divinatórias, de diversas terapias alternativas e de inúmeros fenômenos paranormais sejam descartadas somente por desafiar o senso comum. Pesquisar é preciso.O que torna o quadro atual preocupante é que o que se está fazendo em grande parte dentro da universidade não é somente pseudociência, é ciência ruim; ciência ruim em nome da legitimização da pseudociência. Os astrólogos, ufólogos, terapeutas alternativos e religiosos que vêm utilizando o nome da universidade em suas pesquisas não estão em busca da verdade, mas apenas da validação, custe o que custar, de suas crenças pessoais. … O que estes pesquisadores estão fazendo é o que Richard Feynman chamava de ‘ciência de culto a carga’: algo que usa a linguagem científica, que segue os preceitos básicos do método científico e que até mesmo parece ciência – pelo menos tanto quanto um boneco parece um homem – mas no qual falta um elemento fundamental: integridade científica”.
No quadro nacional da invasão das pseudociências no território do que deveria ser o “templo do saber”, Widson, que é formado em engenharia metalúrgica, com mestrado em ciência dos materiais, pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), considera que a situação mais grave é a registrada na Universidade de Brasília, a UnB. É o que será relatado neste espaço na próxima semana.

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