Mídia abafa repressão e mortes no Peru

A mídia hegemônica brasileira, que no seu complexo de vira-lata adora satanizar Cuba, Venezuela e outras experiências latino-americanas que se […]

A mídia hegemônica brasileira, que no seu complexo de vira-lata adora satanizar Cuba, Venezuela e outras experiências latino-americanas que se contrapõem ao império dos EUA, tem dado pouco destaque à onda de violência no Peru. Desde a deposição do presidente Pedro Castillo, em 7 de dezembro passado, mais de 50 pessoas já foram assassinadas e centenas foram feridas e presas pelo governo direitista de Dina Boluarte. A brutal repressão no sofrido país vizinho não é capa dos jornalões e pouco aparece nos telejornais do Brasil.

No último sábado (21), a polícia invadiu o campus da Universidade San Marcos, em Lima, e deteve quase 200 ativistas que exigiam a renúncia da presidenta golpista, a convocação de novas eleições e a libertação de Pedro Castillo. Imagens que circulam nas redes sociais comprovam a brutalidade da repressão contra os manifestantes, principalmente indígenas, que se deslocaram de várias partes do país para a capital.
Os presos ficaram incomunicáveis e sofreram maus-tratos. Até a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) denunciou a violência, condenando a operação policial seguida de detenções em massa. O órgão solicitou esclarecimentos do governo peruano, a garantia da integridade dos detidos e o respeito aos devidos processos legais. A CIDH também criticou a ausência de agentes do Ministério Público e da Defensoria do Povo no acompanhamento do caso.

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Cresce a resistência popular

Dina Boluarte, que era vice de Pedro Castillo e traiu os movimentos sociais – em especial, os indígenas –, parece disposta a se perpetuar em seu poder ilegal. Ela decretou estado de emergência e está conduzindo, juntamente com o Exército, a violenta repressão. Apesar da brutalidade fascista, a resistência popular cresce no país. Nesta semana, segundo fontes do próprio governo, 74 piquetes bloqueavam estradas de 10 das 25 regiões do Peru. Já os aeroportos de Arequipa e Juliaca seguem fechados pelos militares para evitar protestos, assim como está suspenso o serviço ferroviário entre Cusco e Machu Picchu.

Segundo o ativista peruano Oscar Apaza, em artigo postado no site Jacobin, “os protestos no Peru após o impeachment de Pedro Castillo não dão sinais que devem diminuir. Diante da repressão letal, os manifestantes não exigem mais apenas eleições, mas a renúncia da presidente Dina Boluarte e uma nova Constituição”. Ele descreve como a deposição e a prisão do presidente legitimamente eleito foi um golpe orquestrado pela oligarquia branca peruana, com apoio da Forças Armadas e da “mídia dominante”.

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O autor afirma que a resistência popular está crescendo, apesar das mentiras divulgadas pelo governo. “Boluarte parece ignorar o fato de que a dor pelos mortos – e o desejo de justiça que ela produz – tornou-se outra razão para se mobilizar. Os protestos não se referem mais apenas à exigência de eleições, trata-se de pessoas que exigem sua demissão imediata e uma nova constituição. As condições do Peru parecem gritar, parafraseando Emiliano Zapata, que se o povo não tiver justiça, o governo de Boluarte não terá a paz que está pedindo”.

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