Mano Robson: Humilhado, espancado, algemado. Pelo “capitão do mato”

Caros amigos do Projeto Casa Brasil, companheiros e tecnicos e toda coordenação nacional. Gostaria agora nesse momento de compartilhar com todos, o meu desabafo, sobre um fato ocorrido, após uma prestação de serviço.

Tudo ocorreu agora pouco por volta das 13:00, quando vinha para a unidade do movimento hip-hop, onde também é a minha casa.


 


Ainda quando o meu companheiro, Ewerton ainda estava aqui, juntamente com a minha Denise Viana Alencar, convidei o bolsista do Telecentro para irmos dá suporte técnico na unidade da Petrobrás.


 



Depois que eu verifiquei as máquinas junto com ele, e identifiquei os problemas, voltávamos para Casa do Hip-Hop, o bolsista foi até sua casa almoçar, ele mora ali perto, e até me convidou. Mas como eu ia fazer um relatório do que ocorreu em Parnaíba e terminar de gravar duas músicas no estúdio.


 



Fui para a parada de ônibus, esperando o busão, tranqüilo como sempre, haviam outras pessoas por perto e tal. Quando de repente fui abordado com imensa violência, com uma 765 na cabeça, quem segurava a arma era um policial dizendo assim:
– Vamos para parede se não eu te atiro!


 


Imagina a cena, eu apavorado só perguntei, o que é que estava acontecendo?


 


Tinha uma 60 pessoas na parada de ônibus, imagina só a humilhação, imagina a cena, algemado segundo o policial em Flagrante. Apanhei muito, um popular que passou perguntou:
– O que foi que esse neguinho marginal fez?


 


O policial respondeu que havia roubado dois celulares e não queria confessar. E o popular me deu um tapa na cara, e um murro nos peitos, fui direto pra central de flagrantes, no 8º distrito policial.


 


Lá fui apresentado às vítimas, que foram perguntadas:
– Foi ele?
– Não sei, parece com ele…


 



O policial então falou com a vitima: Olha, trabalhamos com “sim” ou “não”. Foi ele ou não foi?
– Foi ele sim.


 


Imediatamente, eles perguntaram pra mim pelo Lessin, que estava comigo e foi almoçar, como ele estava vestido, e iniciaram uma busca, mais o Lessin, não foi encontrado.


 


Quando deu umas 17:00 horas, já havia trocado mó idéia com os detentos que me conheciam pelo nome, alguns já tinha ouvido algumas músicas do Tiroteio Verbal Mc´s meu antigo grupo do Maranhão. Puxaram toda a minha ficha criminal, e pessoal, descobriram que eu realmente tava falando a verdade, ligaram no Casa Brasil do Dirceu, e após verem a minha foto com o Governador em Parnaíba, o escrivão delegado só falou: É o seguinte você não pode ficar aqui mais nenhum segundo, desculpa, e isso acontece mesmo.


 


Eu só falei, “tudo bem doutor!”. Assinei uns papeis e fui pra minha casa. Cheguei na unidade e mobilizei as testemunhas do ocorrido, pessoas do movimento hip-hop, movimento negro, a imprensa. É  de extrema revolta eu tenho mais de 10 testemunhas de onde eu tava as 20:30 de ontem, qualquer manifestação desde já eu agradeço, mesmo revoltado consegui digitar. Estou abrindo processo contra todos que tenham tido participação nesse crime contra a pele preta. E viva Abdul Jamal (No corredor da morte), porque hoje eu vivi o que ele viveu, esse foi o meu enquadro de número, bem não têm como dizer já perdi as contas.


 


Ma neste, foi o único em que eu pensei que ia morrer, não tenho condições psicológicas de viajar amanhã, fora que tenho que ir em um monte de lugar buscar os meus direitos.


 


Obrigado pela paciência de ler tudo isso,ontem no rio delta desfrutando da liberdade da natureza, hoje na prisão, com uma pá de irmãozinho meus. Preto, favelado, sem oportunidade na vida, com filho pra criar.


 


Hoje sou eu, amanhã será meu filho, mais uma vitima do racismo!


 


Da África fomos seqüestrados e jogados nessa porra de país o qual eu tenho, ainda que ser patriota, cantar o hino, aprender a língua, que não é a do meu povo, até quando?


 


Graças a Deus estou bem, sem hematomas, eles sabem bater!


 


Mano Robson é Robson Luis Moreira, MC técnico de informática do projeto Casa Brasil, Morador de Teresina Piauí.

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