Luis Buñuel e “o Discreto Charme da Burguesia”

Mesmo nos filmes aparentemente mais simples de Buñuel, e nas suas sequências formalmente cinematográficas, o espectador lê observações totalmente agudas.

A Mubi está exibindo certamente um dos filmes das produções mais simples de Luis Buñuel, “Le charme discret de la bourgeoisie”. Somente é preciso lembrar que, para esse cineasta, artista plástico intelectual, sempre é uma questão complexa descobrir os caminhos mais simples da sua narrativa.

Em “O charme discreto da burguesia”, ele procura se encaminhar para contar a simples estória de um grupo de burgueses, entre eles um Embaixador que se junta para um lauto jantar, mas as coisas simplesmente se complicam e é assim que a gente, espectador, vai descobrindo as formas pelas quais se encaminham os burgueses.

Seriam grandes partidários das leis, mas ao mesmo tempo vivem nas sociedades com estranhas ligações, e talvez nesse filme a pessoa que melhor se exprime dentro de uma ética autêntica seja o Bispo, que procura a burguesa família e se contrate para ser o jardineiro da casa. Uma cena do Bispo como jardineiro com a dona da casa é provavelmente a melhor para julgarmos a ética do próprio Bispo.

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Se eu fosse dessas pessoas que se apegam a um tema e vão atrás até esgotá-lo, eu possivelmente seria um buñueliano, pois nele e nos seus filmes eu encontro as questões mais intimistas que me tocam. E mesmo nos filmes aparentemente mais simples, e nas suas sequências formalmente cinematográficas, o espectador lê observações totalmente agudas.

Um filme de Buñuel que eu não me lembrava do nome, e só com a colaboração do meu biógrafo Luiz Joaquim lembrei, é “Simão do Deserto”, que poderia me deixar suspenso em ligação. Vi esse filme que tem 45 minutos de duração num Festival no Rio, e fiquei entusiasmado para sempre, mas ainda não o revi, exceto me parece uma vez.

Aliás, quando eu ouço falar em Luis Buñuel me lembro logo do nosso cantor compositor Alceu Valença, isso através do filme “Belle de Jour”. E sempre me lembro de que o começo de Buñuel foi mesmo com essa obra genial plástica drástica existencial que é “Un chien andalous”, com a sua cena radical que corta profundamente o nosso olho.

Olinda, 18. 01. 23

Sinto falta dos jornais

Nós velhos não gostamos de falar em coisas que existiram antes, que agora estão deixando de existir. Eu me refiro concretamente hoje aos jornais. Não tenho tido atração para ler a Folha de São Paulo, e leio só alguns dias o Le Monde, principalmente pelas dificuldades que tenho com a minha vista. E na verdade, desde a campanha Presidencial do Brasil com Lula e Bolsonaro, tenho acompanhado as notícias pelo J10 da GloboNews. Às vezes vejo o jornal 247 da internet.

Me parece que estava suspenso, mas há algumas semanas tenho acompanhado as entrevistas que o Mário Sérgio Conti faz nas sextas-feiras na GNews, depois do J10, e considero que muito me informo corretamente. Hoje, Mário entrevistou o advogado Luiz Francisco Carvalho Filho, que eu não conhecia, e colocou dados importantíssimos sobre este momento totalmente inseguro que novamente estamos vivendo.

E o advogado lançou dados fundamentais sobre esta situação política, que está sem dúvida tão difícil quanto a que vivemos em 1964. Luiz Inácio Lula da Silva está vivendo um Governo com tanta ou mais insegurança do que o vivido por Jango. É incrível o trabalho que ele já tem realizado e os saltos que têm dado. O advogado disse que provavelmente uma das grandes seguranças de Lula é a sua ligação com o mundo. Lula tem o apoio ao mesmo tempo dos Estados Unidos e da China e isso faz com que o próprio exército brasileiro se encolha.

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Vivemos durante os quatro anos do governo Bolsonaro talvez o mais errático período de Governo na história do Brasil. E foi através dessa figura macunaímica que é Lula, que conseguimos atingir um Governo democraticamente eleito. Nós vimos como Bolsonaro e seu grupo conseguiram se eleger contra uma chapa excelente, que foi a liderada por Fernando Haddad. Como Lula conseguiu se juntar com Alckmin e como está vivendo realmente um Governo de frente ampla democrático. Se não fosse isso, não teria conseguido tomar posse.

Enfim, eu vivi todo o período de ditadura de 64 e embora tenha conseguido sobreviver, não tenham dúvidas do quanto eu perdi material e psicologicamente. Não fosse o golpe de 64, minha vida seria totalmente outra, claro.

Olinda, 21. 01. 23

O desatino já tomou conta

Já está quase fazendo um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia e ao invés de vermos alguma afirmação para um cessar-fogo, o que está ocorrendo é uma concordância entre o presidente da Ucrânia e os presidentes dos Estados Unidos e da Alemanha para o fornecimento de tanques de guerra, para que a guerra tome uma nova dimensão. Não é possível que esse pessoal não veja que essa guerra tem que parar. Tem que haver um acordo entre todos os países envolvidos. Todos são responsáveis. Não é só a Rússia.

Não é possível que esse pessoal queira chegar à 3ª Guerra mundial. Não é possível que a Ucrânia não esteja totalmente destruída. Certamente, o povo é quem mais sofre. O presidente deve se apegar à ânsia de ser um ‘herói’.

Karl Marx Moderno – Ilustração: O Povo

Carlos Marx com a sua filosofia mostrou como é possível novo caminho para a humanidade conseguir sair do regime capitalista e criar um novo regime que mantenha uma sociedade equilibrada. Onde haja uma forma de manutenção social menos dependente do que cada um possa realizar. Só assim teremos um mundo sem fome. Com cultura. Com educação. Marx pregava uma revolução proletária, mas com a forma como se desenvolve a sociedade não poderá mais haver revolução. E o governo que poderá ser implantado por Lula aqui no Brasil poderá ser um exemplo de um novo modelo para o mundo. Sem delírio.

Olinda, 25. 01. 23

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