Lu. Pedacinho d`alma…

Certa vez alguém muito inteligente disse que a revolução é uma festa de pão e rosas. Evidente que sim: o coletivo faz a revolução formada por indivíduos que pensam, mas também amam. O amor por outro ser humano. Não existe melhor forma de expressão de tern

Que o coração bate todo mundo sabe. Agora pular. Poucos sabem ou percebem. Muitos imaginam que de tempos em tempos ele pula. Na “verdade verdadeira” ele só pula uma vez. Uma vez na vida e nenhuma na morte.



I



Fim do mês dois do presente ano. Ele de saída das vastidões muitas vezes secas e inóspitas do Planalto Central. Ainda era obrigado a se armar de terno e gravata todos os dias. Ela de férias na Cidade Maravilhosa. Copacabana. Alojada num “apê” desses localizado na rua Toneleiro.


 


Cada vez mais insatisfeito com a vida. Horas procurando o que fazer. Viu um texto num desses sítios de esquerda. Leu, gostou. Gostou também da foto dela ao pé do artigo. Pensou ele: “menina inteligente… e linda”. Escreveu uma mensagem de parabéns a ela. Resposta seguida, meio clichê. Iniciou-se, graças a 3º Revolução Industrial, um processo com muito de platô e cheio de mistério e conquista. Lento, gradual. Nada seguro…


 


A internet de arma do imperialismo na Guerra Fria transformou-se para eles num instrumento infalível de conquista e conhecimento mútuos. Perceberam que talvez se conhecessem há mais de 300 anos num idealismo altamente permitido pela arte da conquista e zelo. Não de qualquer conquista. Amor à primeira teclada.


 



II


 


Ora do trabalho. Uma vez da Inglaterra. “Taxista vai mais rápido”. Chegava em casa. Casa não, um protótipo de quitinete na 716 Norte. Mal cabiam seus livros e computador. Corria para a internet discada. Várias noites de expectativas em torno de mensagens cada vez mais reveladoras. Pelo menos subjetivamente. Certo ponto ela diz: “olha, meu nome é Luciana Dias e não ‘das Noites’… tenho que dormir, trabalho amanhã”. Mais ou menos isso.


 


Descobriram uma forma mais confortável de se comunicar. Torpedos. Dependendo o horário, era um atrás do outro. Não resistiram. Se ligaram e se encantaram. Um com voz “paulistanês” da Vila Maria. Outra com um “carioquês” maravilhoso. Estavam se aproximando. Ainda não geograficamente. No fundo de cada coração. Certamente…


 


Não agüentou e perguntou “você quer ser minha musa?” Ela mal respondeu. Não acreditou. Um amigo dele, Rodrigão, paulista idem, acompanhava tudo de perto. Ela o convidou para passearem pelo Rio. Ele preocupado com sua volta ao Planalto de Piratininga. Rodrigão, num “paulistanês” carregado diz: “Elias, a Luciana é a ‘mina’, cara. Se liga…”. “Tô ligado Rodrigão, mas tudo é um processo…”, respondia ele.


 


No seu último domingo (01/IV) em Brasília, pressionado por Rodrigão, com tédio do Fantástico e já envolvido por ela, ele ligou. “Lu é o seguinte: isso, isso e mais aquilo”. Ela caiu de rir com a história dele, mas subentendeu a essência do que ouviu. Ela animada emenda um torpedo se declarando bonita e carinhosa… Senha.


 



III



Últimos dias em Brasília. As mensagens se multiplicavam. Um calor de amor e ansiedade invadiu o coração e a alma dos dois. Três da manhã era cedo. Quentes mensagens prenunciavam um amor cheio de aventuras, de vivacidade e raríssimo caráter. Nada religioso, nada clichê, nada pequeno-burguês. Promessas nada vazias. Prenúncio de raro sentimento e cumplicidade. Vão se encontrar em SP. Em alguns dias.


 


“Rodrigão é o seguinte: vou para SP, meu carro vai lotado de tralha, mas cabe você. Ta afim, velho?” Rodrigão não pestanejou: “Vambora irmão!!!!”. Saíram de carro num quatro de abril. Conversando. As mensagens iam e vinham. Em mão-dupla. Ele mostrava ao Rodrigão cada mensagem recebida. Rodrigão emendava: “Aí mano, não te falei que a Luciana era a ‘mina’…”.


 


Ele não via a hora de chegar em SP. Missão seguinte. Buscar seu pré-anunciado (pelos pássaros que povoam a Praça da Sé e também pelas leis históricas e naturais) pedaço d` alma no Aeroporto de Guarulhos. Coração a mil. Se viram. Ela sem saber o que fazer. Saíram a mil do aeroporto. Foram ao Shopping. Trocaram um longo e inesquecível primeiro beijo. Coisa linda.


 



IV



Conheceu a família dele. Dona Aurora, o Claudião, a cachorra e os gatos. Saíram. Foram ao Bom Motivo. Ele falando em namoro. Ela encetou um “como somos namorados se ainda nem me pediu em namoro?” A resposta dele foi um pedido respondido em sim. Naquela noite se amaram, se beijaram, trocaram carinhos e declarações. Lindo demais, como ela gosta de dizer.


 


A vez dele de conhecer a família dela. Como se repetiria quase toda semana, ele pegou seu carro rumo à Petrópolis. Serrana cidade fria. Uma família muito legal e de coração quente. Como dois adolescentes andaram cheios de alegria de mãos dadas pela cidade. Petrópolis, São Paulo. São Paulo, Petrópolis. O itinerário da felicidade e do amor verdadeiro. Paradas pelo Rio. Vontade de se terem e se querer cada vez maior. Todo mundo diz que foram feitos um para o outro. A começar por Lulu Santos…


 


Amor para a vida inteira. Regada por declarações. Dormem abraçadinhos dos pés à cabeça. Músicas ao pé do ouvido. Ele canta para ela, “Um dia gatinha manhosa eu prendo você…” Ela responde, “Ainda bem que você vive comigo, porque senão…” Realidade. Planos. “Tamu juntu” virou o lema da relação. Vivem agarrados. Ele pediu um sorvete. Ela diz à funcionária: “Ô muoooooça me vê duas ‘culherzinhas’ pra gente tomar o sorvete ‘namoradamente’”.


 


Fascínio de alma gêmea. Mútuo culto. Vivem por um sorriso. E morrem por um beijo. Beijam-se loucamente. E loucamente seus corpos se transformam em um só. Alguns dias longe. Sinônimo de falta. Espera com paixão. Só para ambos tem um lugar no coração de ambos. Corações feito “mininim”.


 



V



O que seria da vida deles sem eles? Uma questão com certeira resposta. Adoram atos públicos de amor. Porém a simplicidade os apega. O olhar. Algo que se reflete no leito de um rio. Suficiente para ler. Signo de afeto, carinho, admiração, aprovação, tesão, vida longa a dois.


 


Em cada abraço. Em cada telefonema. Em cada mensagem. Uma única certeza. Ela diz, “meu namorado”. Ele a chama, “vem ficar comigo”. Não ficar depois do fim da festa. É ficar antes, durante e depois.


 


Eternos namorados. Casamento marcado. Assim como Matilde para Pablo Neruda, Luciana, ou simplesmente Lu é para ele. Ele que escreveu com todo carinho essas palavras a seu pedaço d’alma. Ainda guarda espaço para algo em torno de Neruda. Como abaixo se recita. No original. Dele para ela…


 



La reina
(Pablo Neruda)


 


Yo te he nombrado reina.
Hay más altas que tú, más altas.
Hay más puras que tú, más puras.
Hay más bellas que tú, hay más bellas.



 
Pero tú eres la reina.
Cuando vas por las calles
nadie te reconoce.


 


Nadie ve tu corona de cristal, nadie mira
la alfombra de oro rojo
que pisas donde pasas,
la alfombra que no existe.



 
Y cuando asomas
suenan todos los ríos
en mi cuerpo, sacuden
el cielo las campanas,
y un himno llena el mundo.



 
Sólo tú y yo,
sólo tú y yo, amor mío,
lo escuchamos.

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