Leilão no picadeiro

O retorno de Ronaldinho Gaúcho ao futebol brasileiro tomou conta do noticiário esportivo nas últimas duas semanas. Um tanto pelo ato em si, mas muito pelo esforço dos clubes em pagar por Ronaldinho, e pagar caro! A mobilização das torcidas envolvidas, principalmente pela cobertura novelesca da imprensa, movimenta o consumo da notícia e dá retorno a emissoras de rádio e TV brasileiras ou não.

Não é de hoje, o mercado do futebol envolve uma série de questões que passam ao largo do próprio esporte. As transações internacionais, principalmente as europeias, mas também agora as do Oriente, tratam de valores que, comparados aos nossos modestos ordenados, são astronômicos. Mas se comparados aos valores que inúmeras empresas acumulam em torno do futebol, às vezes são uma ninharia.

Os negócios que circulam o futebol movimentam cifras altíssimas. São produtos de toda ordem que patrocinam jogadores, pagam uma grana aos meios de comunicação para exibirem suas marcas ao lado dos craques, que exibem tais marcas em quaisquer circunstâncias, tratam-nos como consumidores de futebol e nós, fieis amantes do produto mais rentável da mídia comercial, compramos os produtos que fazem toda essa roda girar.

As recentes repatriações do futebol brasileiro, além de colocar o Brasil na rota das transações, servem para agitar a nossa roda. Os retornos de Ronaldo, Adriano e Robinho foram notícia no mundo todo. Envolveram inúmeras parcerias com “investidores” e, de alguma forma, “privatizaram” nossos clubes.

É sabido que Ronaldo e Corinthians ganham muito dinheiro com uma parceria que envolve um pouco de futebol e muita exposição. Se em 2009, o Fenômeno foi fundamental nos títulos paulista e da Copa do Brasil, em 2010 foi praticamente um ex-jogador em (reduzida) atividade. Mesmo assim rendeu milhões aos cofres corinthianos e aos seus também.

O Flamengo envolveu a empresa que fornece material esportivo ao clube no pagamento de salários altíssimos ao atacante Adriano. O investimento rendeu um título brasileiro ao rubronegro e vários depoimentos às delegacias do Rio de Janeiro. O negócio aí foi tão mal feito que, após a saída de Adriano, o Flamengo passou por maus bocados e quase foi rebaixado, sendo salvo por São Judas Tadeu, seu padroeiro.

A passagem de Robinho pelo Santos foi vitoriosa, mas curta. O rei das pedaladas não conseguiu sequer ser o maior destaque da equipe campeã paulista e da Copa do Brasil em 2010. Acabou ofuscado por uma excelente molecada que jogou como gente grande. No fim das contas, nem o Santos, nem Robinho empreenderam grandes esforços para permanecer juntos. O alvinegro praiano deu preferência a manter os garotos e assinou um contrato poucas vezes visto no futebol brasileiro com sua prata da casa, o atacante Neymar.

Agora, o quadrado mágico vai se fechar. O último remanescente do quarteto que prometeu e não cumpriu na Copa de 2006 está voltando. Ronaldinho Gaúcho, depois de ser mandado embora do Barcelona por Josep Guardiola, passar um bom tempo sem clube até assinar com o Milan e confirmar, durante um curto período, as expectativas depositadas em seu futebol, negocia com três, ou talvez quatro clubes brasileiros.

De repente, Assis, ex-jogador do Grêmio, que era até um bom meio-campo, mas nada extraordinário, encontrou o pote de ouro no final do arco-íris. O irmão e empresário de Ronaldinho dá pulos de alegria ao ver as quantias oferecidas ao craque por Grêmio, Flamengo e Palmeiras, além do burburinho sobre uma possível presença do Corinthians nessa parada.

O que se viu daí por diante foi o leilão de uma joia. E os clubes (que figuram entre os maiores devedores do futebol brasileiro) apresentando lances cada vez mais elevados. A mídia faz disso uma novela, e não há nada como um suspense para levantar a audiência e vender anúncios.

As inúmeras pistas e boatos sobre o paradeiro do craque o levavam cada dia a um clube diferente. O tema não saiu dos meios de comunicação e Ronaldinho, de um jogador esquecido no banco de reservas e em processo de ruptura com a torcida milanista passou novamente a ocupar a melhor parte do imaginário coletivo dos torcedores. De repente, o jogador genial do Barcelona podia estar desfilando seu talento em gramados brasileiros.

Enquanto isso, Assis se torna o todo poderoso dono do produto maior. Capaz de dispor de sua preciosidade para visitação, apreciação e negociação. A ponto de mobilizar inúmeros torcedores em torno de uma entrevista que não disse nada, mas tinha até tranmissão em tempo real pela internet.

E estes que, de fato, vão pagar a conta disso tudo, se não figuram na novela, ao menos ganham um papel no picadeiro…

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