Joaquim Gutierrez: Poetas da América (3)

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Hoje quero dar aos leitores notícia de mais um poeta de nossa América. Sei que é mais fácil falar de franceses, ingleses, americanos ou espanhóis. São mais conhecidos, até mesmo do que inúmeros brasileiros. Além de Neruda, Gabriela Mistral, talvez Huidobro, Vallejo, Jorge Luís Borges, Ruben Dario e mais alguns, nada sabemos dos bons poetas que essas terras índias/negras/latinas produzem. Tenho procurado neste espaço lembrar alguns nomes. A minha esperança é de que, embora suas obras não cheguem em livros, revistas ou jornais, possam ser descobertas na internete, a enorme sala de leitura virtual acessível a todos. Comecei com Vallejo, depois Huidobro. Hoje quero lembrar de Joaquim Gutierrez a quem fui apresentado, há algumas décadas, pela musicóloga, pesquisadora, doutora Laura Cervantes, da Universidade de San José, da Costa Rica. Com seu livro Cocori, que carinhosamente me autografou, o mestre Gutierrez anotava logo abaixo uma informação surpreendente para mim. Dizia que estivera em Goiânia, no ano de 1953. Penso que pode ter participado do Primeiro Congresso Nacional de Intelectuais, em fevereiro de 1954 e a memória do grande poeta nascido em Puerto Limón em 1918 tenha sofrido um pequeno lapso. Minhas variadas andanças e tropeços me afastaram do rico manancial de Joaquim Gutierrez. Confidenciou, porém, o poeta a nossa amiga comum Laura Cervantes, que em Goiânia se sentiu em casa. Disse mesmo que ao almoçar desfrutou de uma grande familiaridade, como se estivesse em Alajuela, Costa Rica. Comera feijão, mandioca, carne de paca e de outras caças, comuns naqueles tempos da adolescente Goiânia. Gutierrez viveu no Chile, onde publicou sua famosa novela infantil Cocori, sendo agraciado com o prêmio Rapa Nui, em 1948. Cocori teve inúmeras edições, em vários línguas, em todos os continentes, inclusive uma tradução brasileira. Por outra coincidência, acabei redigindo a orelha numa mesa de bar em São Paulo, quando a encarregada da edição, sabendo de minha afeição e algum conhecimento da obra do poeta Gutierrez, me pediu que fizesse aquela ligeira apresentação. Joaquim Gutierrez publicou ainda as novelas Manglar e Puerto Limón, La hoja del aire, Murámonos, Crônicas de guerra, Vietnam, entre outras, e uma importante obra poética. O poeta faleceu em 2000. È conhecido no Brasil por sua novela Cocori. Sua obra, porém o tornou uma das figuras literárias mais conhecidas da Costa Rica, como afirma Carlos Rafael Duverrán, em sua importante antologia Poesia Contemporánea de Costa Rica, publicada por Editorial Costa Rica em 1978, de onde recolho e traduzo o poema Canção de Ninar para Despertar um Menino. Espero que os leitores aceitem minha contribuição e procurem conhecer mais deste grande poeta da bela e intensa Costa Rica e das letras latino americanas.


Balada Campestre

(Joaquim Gutierrez)

Tarde do amanhecer.
Sob o cantar alegre da sineta
estendem-se os rebanhos apinhados
lerdos de suor, sobre a relva
suculenta e úmida.
Os gritos guturais dos peões
indicam o caminho
com seu giz escarlate no silêncio,
porém ficam as pegadas dos cascos
e um cheiro de esterco florescido.

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