Heleno, o camaleão que muda de posição para atender o presidente-capitão

Depois de fazer paródia com o “Centrão” em 2018, general Heleno não reconhece a existência do grupo no governo Bolsonaro

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, disse que mudou de opinião sobre o Centrão, e que não reconhece mais a existência do grupo.

A declaração foi feita em resposta a um questionamento do deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) durante reunião da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara.  Heleno foi convocado para prestar esclarecimentos sobre a disseminação de notícias falsas a respeito da pandemia pelo presidente da República.

Na época, o general associou o grupo a ladrões:

– Sobre Centrão, aquela brincadeira que eu fiz foi numa convenção do PSL, na época da campanha eleitoral. Naquela época existia à disposição na mídia, várias críticas ao Centrão. Não quer dizer que hoje haja Centrão. Isso foi muito modificado ao longo do tempo.

O ministro foi mais longe, tentando se desfazer da declaração pretérita:

– E eu não tenho hoje essa opinião, e nem reconheço hoje a existência desse Centrão. Naquela época é uma situação. A evolução de opinião faz parte da vida do ser humano. Então isso aí faz parte do show. Do show político.

À época, na reunião do PSL que oficializou a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência da República, em 2018, Heleno cantou: “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”, substituindo a palavra “ladrão”, da letra original, pelo nome dado ao bloco partidário, uma paródia da música “Reunião de Bacana (Se Gritar Pega Ladrão)”, de Ary do Cavaco e Bebeto Di São João, referindo-se à aliança de Geraldo Alckmin (PSDB) com o Centrão.

Diante da mudança de opinião do general, uma pergunta: qual a diferença dos representantes do Centrão que apoiaram Alckmin e o Centrão de hoje que, segundo ele, não existe mais?

A única diferença, a despeito da mudança dos personagens resultante da eleição de 2018, é que os atuais integrantes do Centrão – e não de todo Centrão, que fique claro, mas apenas de um núcleo mais fisiológico que se move exclusivamente por emendas e cargos, apoiam Bolsonaro, o atual chefe do ministro.

Nesse sentido, esses setores do Centrão mudaram para pior.

A diferença entre o ex-governador de São Paulo e o atual presidente da República é descomunal e o fosso entre o que um e outro representam em compromisso com valores, por exemplo, como a vida e democracia, só aumentou nesses quase dois anos de tragédia bolsonarista que está em curso no país.

Essa é a diferença que o ministro não quer ou não pode reconhecer para justificar a velha política que Bolsonaro passou a adotar para se blindar no Congresso Nacional, usando as práticas mais espúrias da política do toma-lá-dá-cá, sem nunca, na essência, tê-las abandonado, desde os tempos em que exerceu de forma medíocre seus mandatos de deputado federal.

Em essência, portanto, quem mudou, mesmo, não foi o Centrão e, sim, Heleno, o camaleão que muda de opinião para atender o capitão-presidente.

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