Guarnieri e a liberdade

Parabenizo o senhor Petrônio Bezerra, pelo exercício de expressar o seu pensamento, contrário ao meu artigo da semana passada. Custou muito caro, ao brasileiro, a reconquista da liberdade de opinião, de organização, e a extinção da implacável censura a

O grande dramaturgo Nelson Rodrigues, cunhou uma máxima definitiva: toda unanimidade é burra. E os meus textos estão distantes, quilômetros, de consensos. As sociedades evoluem, iluminam-se, quando as idéias encontram oxigênio para se confrontarem.


 



O cidadão pode ser de esquerda, de direita, centro ou simplesmente um eterno e exímio malabarista em cima do muro. Todos devem ter o mesmo inalienável direito de exercer as suas opiniões, ideologias.
Mas o que eu gostaria mesmo, era de destacar a imensa perda de um extraordinário ator, dramaturgo e ativista político da cultura brasileira. Refiro-me ao Guarnieri. Dias atrás, perdemos o Raul Cortez.


 



O Guarnieri, como diz Flávio Aguiar, foi um dos renovadores contemporâneos da dramaturgia nacional, ao lado de Ariano Suassuna, Jorge Andrade, Maria Clara Machado, Vianhinha e vários outros.


 



O traço principal de Guarnieri foi de provocar a tomada de posição, despertar as consciências através de um teatro reflexivo, lúcido, crítico, sobre as condições externas que envolvem a condição humana em relação ao seu país, à sua comunidade, as injustiças políticas e sociais, econômicas.


 



Exatamente por isso, suas peças e interpretações, confrontavam o comodismo, o individualismo. O seu desaparecimento é tão mais sentido porque nos dias atuais, essa necessidade tornou-se bem mais premente em decorrência da apologia dessa postura egocêntrica, determinada pela nova ordem econômica neoliberal.


 



O humanismo, encurralado, aparentemente tornou-se algo anacrônico, superado. O outro semelhante é um inimigo em potencial no cotidiano, como se fôssemos criaturas geneticamente predadoras. Uma tentativa de regressão filosófica, antropológica, de conceitos superados séculos atrás.


 



Os monstros humanos que representam aberrações seríamos todos nós. E assim mergulharemos, sem exceção, nas trevas.


 



Isso é repassado, subliminarmente, através das várias, difusas manifestações que se pretendem culturais. Guarnieri combateu tenazmente. Seu legado é um exemplo para nós.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor