Graças Rodrigues: A turma do Hip-Hop na literatura

São eles sim. Estão fazendo bonito no meio dos cultos e preparados. Os meninos do hip-hop.  Estão mostrando seus trabalhos da forma mais corajosa e real que eu já vi. Não são, hoje, apenas, o tema de romances, poesias ou de música.

São eles mesmos que escrevem suas histórias. E, digo mais, não existe qualquer acanhamento na forma como se auto descrevem, nas crônicas, nos versos, nas letras de músicas. São os heróis de suas histórias e de suas próprias vidas. Quem melhor para contá-las do que aqueles que as viveram ou vivem? Sim, porque o centro da questão está no sentimento e sensibilidade; na emoção desses momentos sofridos que só quem viveu ou ainda vive tem carta branca para falar.


 
Já foram temas de livros, filmes, músicas, notícias de jornais, revistas e, agora, com ou sem licença dos literatos, escrevem. São autores e personagens. Tudo junto.



Vão mostrando, até com certa audácia, que aquilo que falam é aquilo que vivem. A fome que descrevem é mais legítima, a dor que os atormenta tem mais força, a alegria que demonstram é mais autêntica.


Descobriram que não precisam de anel no dedo, de dinheiro no bolso e nem de quilômetros de livros lidos para serem escritores. Têm o principal: a experiência de vida. Olhe que não é aquela vida preguiçosa, sem barulho, cheia de calma que faz a mente de muitos escritores escolher o objeto da sua obra, mas sim a tormenta, o mar revoltoso, os subir e descer dos morros, o estarem pra lá da periferia, sempre na linha do perigo que os faz heróis de seus contos. Ou então aquela alegria ingênua, total, completa, cheia até as bordas de felicidade por motivos os mais variados, mas verdadeiramente intensos e perfeitos… E não me digam que sou contra a leitura, contra a formação acadêmica ou outras graduações, que não é verdade. Leio tudo e de tudo. Gosto de ler. E nem me daria o direito de fazer semelhante asneira! Estou apenas conhecendo o outro lado da literatura que vem se fazendo nos bairros, nas noites selvagens e cheias de paz desses meninos, que podem dizer:…”Agradeço aos amigos… por ter me dito oi… Por levar a sério minhas brincadeiras e de sorrir de minha seriedade…”, “gradeço ao inimigo… por ser responsável por eu ter nascido num barraco de madeira…” (Toni C. *) ou…”Hoje não precisamos nos reunir mais clandestinamente e quando flagrados, não precisamos sair correndo”.(Marcelo Buraco) e mais “… a arte é propriedade da humanidade e não de classe social nenhuma”.(Mano Shetara),…”Igual a mim, Normal, e tal, estou feliz…” (PH Boné), …Ele começou a viciá-la de prazer de viver a vida.”(Helder Ladislau), entre outras pérolas colhidas nos escritos dos “manos” e “minas” nos livros O Rastilho da Pólvora e Hip-Hop a Lápis como prova da capacidade e seriedade dos trabalhos que vêm executando.



Para vocês, sempre um parabens constante, tanto quanto suas descobertas contínuas. Que esse fogo não perca o brilho nem arrefeça. Continuamos acreditando em vocês.


Graças Rodrigues –
  

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