Golpismo da TV Globo é desmascarado

O veterano jornalista Raimundo Rodrigues Pereira deveria receber um prêmio das entidades democráticas e populares pelas reportagens publicadas nas duas últimas edições da revista Carta Capital – pena que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), sob o comand

Nos textos, escritos em conjunto com Antonio Carlos Queiroz, o incansável repórter, que leva a sério a profissão e a ética, desvenda “a trama que levou ao segundo turno” da eleição presidencial. Numa investigação séria e meticulosa, ele desmascara o papel da poderosa TV Globo, que com sua tática do “bate e assopra”, sempre em busca de benesses, vinha iludindo muita gente nos últimos tempos.


 


Na primeira reportagem, publicada na semana passada, Raimundo Pereira descreve a operação montada pelo delegado da Polícia Federal, Edmilson Bruno, e a equipe da Rede Globo para fabricar um factóide político na véspera do primeiro turno. Após vazar ilegalmente fotos do dinheiro apreendido na tentativa desastrada de compra do dossiê da máfia das sanguessugas, o policial ordenou que sua difusão fosse feita no Jornal Nacional daquela noite, 29 de setembro. Essa conversa tenebrosa chegou a ser gravada, mas a TV Globo preferiu ocultá-la e atender as instruções do delegado, assim como evitou noticiar a queda do avião da Gol, ocorrida na mesma tarde, para não ofuscar a criminosa operação contra o candidato Lula.


 


Ratzinger, o conservador da Globo


 


Já no segundo artigo, nesta semana, os dois jornalistas escrevem mais um capítulo do “dossiê da mídia”, no qual reafirmam, com novos dados, a reportagem anterior e ainda polemizam com o diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel. Batizado nos dois textos de cardeal Ratzinger da emissora, “numa alusão ao papel ultraconservador do atual papa, Bento 16, durante o pontificado de João Paulo II”, Ali Kamel até publicou matéria paga em vários veículos, inclusive na Carta Capital, para se contrapor as denúncias de Raimundo Pereira. Mas não convenceu. “Ele foi escorregadio”, desdenhou Mino Carta, para quem o diretor da Rede Globo não respondeu minimamente as perguntas feitas pela revista. 


    


“É invenção nossa que 70% das ambulâncias da Planan foram liberadas durante o governo FHC e que a Globo cuidou de não mencionar o fato? E é invenção nossa que até hoje o Jornal Nacional não destacou um repórter para investigar as relações de Barjas Negri [ex-ministro da Saúde de FHC] com Abel Pereira [lobista vinculado ao PSDB]? E é que pelo menos uma reportagem foi produzida sobre Abel Pereira, e editada, e até hoje não foi ao ar?”, ironiza Mino Carta. O Ratzinger da TV Globo, famoso por suas idéias conservadoras, por seus métodos truculentos e por ter escrito um livro negando a existência de racismo no Brasil, agora ficará conhecido por ter dado um golpe midiático que garantiu o segundo turno das eleições.


 


Cadê a ética jornalística?


 


Para Marcos Coimbra, diretor do instituto de pesquisas Vox Populi, foi esta sorrateira manipulação da mídia, na antevéspera do pleito, que desnorteou todas as sondagens eleitorais, que davam vitória para o presidente Lula, e que evitou a sua reeleição já no primeiro turno. “Os eleitores brasileiros foram votar no dia 1º sob um bombardeio que nunca tínhamos visto nem mesmo em 1989… Em nossa experiência eleitoral, não tínhamos visto nada parecido em matéria de interferência [da mídia]”, garante Coimbra.


 


Diante deste vergonhoso golpe midiático, que entrará para a triste história da imprensa nacional, poucos jornalistas levantaram as suas vozes. A maioria dos colunistas da televisão, rádio, jornais e revistas, que vive esbravejando em “defesa da ética”, nada falou. Entre as raras e meritórias exceções vale registrar a revolta de Luis Nassif, que escreveu em seu blog o texto intitulado “Réquiem do jornalismo”, ou a justa indignação de Paulo Henrique Amorim, que publicou em seu site Conversa Afiada um incisivo artigo condenando “o golpe do Estado que levou a eleição para o segundo turno”. Outras figuras conhecidas da imprensa brasileira preferiram o silêncio dos cúmplices! Confessaram a sua preferência tucana!


 


A podre história da Globo


 


Baixada a poeira, a tendência é que o presidente Lula seja reeleito no próximo domingo. As sondagens revelam até que Geraldo Alckmin poderá ter menos votos do que no primeiro turno, o que só confirma o poder corrosivo da mídia, com seus factóides, na votação anterior. Neste caso, como diz o ditado, “há males que vêem para o bem”. O lamentável episódio da manipulação da TV Globo poderá servir para despertar os iludidos sobre a imperiosa e urgente democratização dos meios de comunicação. A mídia hegemônica virou um partido da direita e precisa ser confrontada. Do contrário, ela colocará sempre em risco a democracia e a própria Constituição e maculará a já tão susceptível ética jornalística.


 


Além disso, o episódio serviu para refrescar a memória sobre a postura conservadora e golpista da Rede Globo. Como na parábola do escorpião, ela não consegue negar os seus instintos de classe por mais que se curvem às suas ambições. No livro “Mídia, crise política e poder no Brasil”, Venício de Lima dedica dois excelentes capítulos para falar das “intimidades com o poder da TV Globo”. Lembra do seu papel ativo na preparação do golpe militar de 1964, de seus sólidos e lucrativos vínculos com a ditadura, da fraude nas eleições de 1982 contra Leonel Brizola, da criminosa omissão na campanha das Diretas-Já em 1984, da ingerência na nomeação do ministro da Fazenda do governo José Sarney e de vários outros episódios lamentáveis de interferência desta poderosa empresa nos rumos políticos do Brasil.

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