Frente ampla para resgatar o Brasil

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Um dilema tem afetado setores da esquerda no Brasil, e se refere a forma de luta a ser travada contra o Governo Bolsonaro e suas ameaças de estabelecer em nosso país mais uma vez um regime autoritário e de viés fascista. Uma parte da esquerda tem resistido à aceitar a composição de uma frente ampla, que possa reunir todos os segmentos e personalidades da sociedade que se opõem a política desastrosa de um governo que até hoje, um ano e meio depois, somente fez desconstruir os frágeis pilares que tinham sido erguidos nas duas últimas décadas e que estavam levando o nosso país a resgatar dívidas sociais imensas.

Não é admissível atitudes sectárias daqueles que julgam ser possível somente à esquerda e a organizações progressistas levar adiante um movimento que possa garantir pressão suficiente sobre o Congresso Nacional. Neste momento somente a soma das indignações, sem nenhum tipo de cerceamento a colorações ideológicas, pode ser suficiente para retomarmos o país que nos está sendo tomado por indivíduos absolutamente incapazes de lidar com um estado da dimensão do Brasil e de solucionar os problemas graves do nosso povo.

Isso não significa esquecer a história. Sabemos que muitos que hoje se opõem ao governo Bolsonaro estiveram presentes nos atos e manifestações que pressionaram para a destituição de uma presidenta honesta e legitimamente eleita. E até mesmo alguns dos que o apoiaram no segundo turno nas eleições, para combater a esquerda. Muitos desses sequer reconheceram ter participado de uma farsa e não assumiram ter sido responsável por ajudar a pavimentar o caminho que levou a essa terrível situação de crise que vive o país, em função de uma eleição, que já se sabe hoje, foi dominada pelas fake news, pela disseminação de notícias falsas que influenciaram claramente no resultado eleitoral.

Ao mesmo tempo é inegável que aquele resultado eleitoral não era o aguardado com o golpe que foi aplicado e levou à destituição da presidenta Dilma Rousseff. O objetivo de todo o caos político criado após a eleição de 2014, tinha como meta levar ao poder aqueles que foram derrotados. Isso ficou claro com o discurso de Aécio Neves, do PSDB, quando se recusou a reconhecer o resultado e prometeu que faria tudo para que a presidenta eleita não governasse. Houve método na loucura política que nos direcionou para o abismo. Mas o trem descarrilhou no meio do caminho. Houve um golpe dentro do golpe que transferiu o Poder para as mãos do PMDB. O mundo político orbitou e se descontrolou por completo com a sucessão de fatos, impulsionados pela atuação política da operação lava-jato, nitidamente com o intuito de desqualificar e desconstruir reputações de lideranças políticas. Acontece que a própria esquerda contribuiu para isso, a não só seguir dividida, como houve ataques mútuos de partidos que disputavam com seus candidatos uma vaga no segundo turno. Essas divergências que se explicitaram ostensivamente aprofundou a divisão no segundo turno, contribuindo também para facilitar a vitória de Jair Bolsonaro.

Sabemos que aqueles que participaram do movimento golpista não se retrataram por contribuir com o caos político no qual o Brasil se viu metido, e não imaginamos que fossem fazer isso, porque seria como assumir o crime cometido. Porém, os partidos de esquerda também precisavam assumir o erro por terem se atacado em vez de se unirem, e por essa razão a divisão se mantém até hoje.

Sem querer estabelecer comparações, mas tentando encontrar exemplos na história de situações parecidas, a Alemanha viveu algo parecido. A disputa entre os comunistas, cuja força crescia naquele país na segunda década do século XX, e os sociais-democratas, que tentava impedi-los de conquistar o poder, terminou por abrir caminho para um aventureiro que já havia tentado aplicar um golpe, e se tornou opção da burguesia, levando aquele país em direção ao abismo nazista. O que temos no Brasil hoje é resultado de equívocos semelhantes, embora ainda haja tempo de corrigir. Só que isso não será possível se houver resistência a uma ampla aliança que garanta a força necessária para levar multidões às ruas e pressionar os parlamentares a tomar a decisão de iniciarem um processo de impeachment do presidente por crimes de responsabilidades, que são muitos.

A Frente Ampla, que congregue num mesmo movimento os segmentos organizados que compreendam a necessidade de frear os instintos fascistas que são demonstrados nas declarações e atos do presidente, de seus ministros e apoiadores, é urgente, para impedir que essa loucura persista. Não podemos, de forma alguma, admitir que propagandas fascistas, discursos de ódios e apelos para a instalação de uma nova ditadura militar aqui no Brasil, ganhe corpo e se transforme em no pesadelo que nos jogue em mais um período de trevas como já vivemos por duas décadas, 21 anos transformados em uma longa noite de crimes cometidos contra adversários, lideranças políticas, jovens que se recusavam a aceitar as imposições ditatoriais, com perseguições, prisões, torturas e assassinatos.

Não é conveniente neste momento insistir em discursos que tornem mais relevante os rancores políticos do que a necessidade de perceber a importância de se juntar as forças contra um perigo nesse momento bem maior. Se trata de defendermos nossas liberdades, e assegurarmos que a tênue democracia que existe em nossa país, não seja mais uma vez solapada por mais um golpe antidemocrático.

É preciso haver clareza que não se trata de formar uma frente eleitoral. Não é esse o objetivo agora. Seguramente nas eleições essas forças que se juntam agora não estarão do mesmo lado, pelo menos em um primeiro turno. O que está se formando agora é uma frente ampla para impedir que o discurso de defesa de uma ditadura militar se torne realidade. E sabemos que isso pode acontecer. Há toda uma arquitetura política sendo feita na direção de garantir uma forte base militar sob o controle do governo Bolsonaro, envolvendo as polícias militares, e agora a Polícia Federal. E temos que ter bem claro que quando ele fala em “armar a população”, ele está se referindo a seus seguidores e apoiadores. Portanto é real a possibilidade de surgir uma frente fascista-miliciana que lhe dê o suporte necessário para se impor de forma absolutista e ditatorial. Por isso esse momento é de união para impedir que essa tragédia política se realize e leve nosso país de volta às trevas. O momento é de responsabilidade. Precisamos levar nosso país de volta aos trilhos, e retomar o processo de desenvolvimento econômico, com responsabilidade social e respeito à nossa diversidade.

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