Formação sindical na conjuntura atual

 Vivemos uma conjuntura que nos permite transmitir idéias, debatê-las, influenciar outras pessoas. Essa possibilidade de participação democrática nem sempre ocorre. Basta voltarmos ao Brasil, de 1964 a 1985, época da ditadura.

Em 1975, lecionava nas Faculdades da Zona Leste (hoje UNICID). Em outubro, foi torturado e morto o jornalista Wladimir Herzog. Ocorreram manifestações contra a ditadura. Ao chegar à Faculdade, fui abordado por um colega, que lecionava Sociologia: “Pelo programa, hoje começaria a abordar Marx. Acha que devo abordar, nesse momento tão tenso ? “ Respondi: “ Deve dar continuidade normal ao programa, tomando os devidos cuidados.”

O colega assim fez. No intervalo, um aluno disse:“Por que todo sociólogo é comunista?” O professor respondeu: “Não é verdade, há sociólogos com as mais variadas posições políticas e ideológicas”. O aluno retrucou: “Lá no DOI-CODI, onde trabalho, todos os sociólogos presos são comunistas”. O professor dirigiu a conversa para a inadequação da amostragem que o aluno utilizava. Ainda, no intervalo, encontrei-me com o professor que afirmou que não continuaria ensinando a teoria marxista, porque poderia ser preso.

A ditadura caiu em 1985 e um período democrático teve início. Não vivemos uma democracia plena. Trata-se da democracia burguesa, onde predominam os interesses do capital. Mas, interessa mais à luta dos trabalhadores e trabalhadoras do que a ditadura. Sobre a república democrática burguesa, Marx escreveu em “As lutas de classe na França de 1848 a 1850”, que sua constituição sanciona o poder social da burguesia, ao mesmo tempo que retira as garantias políticas desse poder, impondo-lhe “condições democráticas que, a todo momento contribuem para a vitória das classes que lhe são hostis e põem em risco as próprias bases da sociedade burguesa”.

Nessa conjuntura, é fundamental o processo de formação que ocorre, quer sejam nos movimentos que visem melhorar os salários e as condições de trabalho, quer sejam nos que se referem à luta política propriamente dita, como por exemplo, nas eleições que ocorrerão em outubro . Por outro lado, a formação acontece nos cursos, debates, palestras, seminários, elaborações de planejamentos estratégicos.

Desenvolve-se positivamente, o convênio assinado pela CTB presidida por Wagner Gomes e que tem como Secretária de Formação e Cultura, Celina Areas, e pelo CES, presidido por Gilda Almeida. Desde novembro de 2008, estiveram presentes 947 sindicalistas nos Cursos de Formação Básica, 171 nos Seminários de elaboração de Planejamento Estratégico, 196 em cursos e seminários nacionais, 357 nos cursos, oficinas e seminários de planejamento estratégico nas entidades de base da CTB e 580 em palestras. Ao todo, são 2251 participantes.

Mas o grande desafio do momento é a participação efetiva dos sindicalistas na eleição de candidatos comprometidos com as transformações profundas da sociedade brasileira, com a construção de um projeto nacional de desenvolvimento, que distribua a renda nacional e que valorize o trabalho. E no processo eleitoral, apresenta-se uma grande oportunidade para os sindicalistas se formarem e contribuírem no processo de formação dos trabalhadores e trabalhadoras em geral. Ao enfrentarem o debate – que traz a descrença na política como um dos seus componentes básicos – os sindicalistas precisam se preparar, estudando, procurando argumentos que possam convencer. Ao mesmo tempo, nesse diálogo, os trabalhadores e trabalhadoras continuam o seu processo de formação. Assim, o processo eleitoral nos leva a ter dois objetivos claros: a conquista dos votos e a possibilidade concreta de contribuirmos para a elevação do nível de consciência dos trabalhadores e trabalhadoras.

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