Foi bonita a Festa, pá!

Retornando ao Brasil após uma das experiências mais marcantes da minha vida: ter participado dos 3 dias da Festa do Avante, grande evento político-cultural realizado há 42 anos pelo Partido Comunista Português (PCP). Confesso que, ao ver a dimensão da Festa ao vivo, desisti do meu propósito inicial com esta visita, que era tentar reproduzir algo nas dimensões da Festa do Avante no Brasil. Seria impossível.

 A Festa só existe tal como é em Portugal porque neste país aconteceu uma coisa chamada Revolução dos Cravos, em abril de 1974. Diga- se o que quiser de equívocos que foram cometidos pelo PCP ao longo da história, mas duas coisas não se podem negar: 1) o Partido Comunista Português é um partido de massas naquele país, sua influência é crescente e cada vez mais determinante para manter na margem esquerda a "geringonça", a coalizão progressista que hoje governa Portugal; 2) Como diz o slogan do evento, realmente "Não há festa como esta".

A Festa, em termos de público e volume de programação, talvez só pudesse ser comparada no Brasil ao Rock in Rio. Mas seu sentido é completamente distinto, e é ainda maior, dada a diversidade de expressões presentes: cada região do país monta a sua barraca, com comidas, bebidas e programação cultural própria, além de vários palcos temáticos espalhados pelo amplo e belo terreno onde acontece a Festa. Terreno que, por sinal, foi comprado pelo PCP há muitos anos. Isso mesmo! Não foi uma benesse do estado, como a cidade do rock para o Medina. Foi comprado com recursos da contribuição dos militantes do PCP.

A chamada "implantação" de cada edição da Festa começa meses antes, e tudo é construído pelos militantes do partido de forma voluntária. Isso mesmo: voluntária! Segurança, receptivo, limpeza, montagem de estruturas, venda de produtos. Só quem recebe na Festa, vejam só, são os artistas, um valor único para todos independente do palco que se apresentem. E nomes importantes da cena musical europeia e mundial costumam marcar presença. Até Criolo já se apresentou por lá em outra edição.

Teria mais a dizer, especialmente sobre a dimensão econômica da Festa, que é a melhor síntese entre cultura e economia solidária que tive a oportunidade de conhecer. Mas deixo aqui algumas imagens e as palavras publicadas no Jornal Avante, publicação semanal do PCP vendida nas bancas de todo o país, na edição especial sobre a Festa que saiu nesta quinta feira:

" Costuma- se dizer pelos recantos da Festa que ali se concretiza durante 3 dias a sociedade pela qual lutam os comunistas. A comparação pode não ser rigorosa mas não é de todo disparatada. Da sociedade futura não se pode precisar datas nem características. Porém sabemos que será construída com mãos semelhantes às que ergueram e fizeram funcionar mais esta Festa do Avante!"



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