Estratégia da RPD da Coreia para romper o bloqueio americano

Na última quinta-feira (25) o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, recebeu o líder da República Popular Democrática da Coreia, Kim Jong Un, na Ilha de Russki, diante do Porto de Vladivostok, dizendo que “precisamos restaurar o poder do direito internacional, voltar ao modelo no qual o direito, e não a lei do mais forte, determine a situação do mundo”.  

Completou seu raciocínio afirmando que diante da ideia de desnuclearização da península coreana “tive a impressão de que o líder norte-coreano compartilha o mesmo ponto de vista. E tudo o que os coreanos precisam são garantias de segurança”, disse ele. Esse tipo de garantía, segundo Putin, deveriam ser compartilhada não apenas pelos Estados Unidos, mas também pela China, o Japão e a Coréia do Sul. Enquanto Putin fez suas declarações, o líder Kim Jong Un afirmou que “acabamos de ter uma troca de opiniões muito substancial”. Na verdade este foi o primeiro encontro de Kim Jong Un e Vladimir Putin, já que o encontro anterior de chefes de Estado da Rússia e da Coréia havia sido em 2011, entre Kim Jong Il e o ex primeiro Ministro Dmitri Medvedev.

Também na semana passada, ao rechaçar as palavras do conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, – que afirmou a necessidade de que a Coréia demonstre “reais indicações” de sua posição estratégica de desnuclearização da península coreana — o Vice-Ministro de Relações Exteriores da RPD da Coréia, Choe Son-hui considerou o conselheiro americano uma pessoa que não pode estabelecer pré-condições, já que o presidente Donald Trump havia declarado estar disposto a voltar para a mesa de negociações depois da frustrada cúpula realizada recentemente em Hanoi, capital do Vietnã, entre os dois países, Estados Unidos e RPD da Coréia. Neste mesmo pronunciamento, a chancelaria coreana deixou claro que em eventual próxima cúpula o Secretário de Estado Mark Pompeu deveria ser substituído por um representante “mais cordial e mais maduro” para se envolver nas negociações.

Estes dois acontecimentos se sucederam à realização da primeira sessão da XIV Legislatura da Assembleia Popular Suprema da República Popular da Coréia em 12 de abril do mês passado em Pyongyang, a capital do país. De alguma maneira, os fatos relatados podem ser relacionados à orientação defendida naquela Assembleia, quando o líder coreano ressaltou que “a independência é a filosofia política de nossa República” e constitui o núcleo da ideia defendida por ele diante dos deputados recém eleitos do país. “Com a independência em todas as atividades e mantendo firmemente sua própria posição, o Estado Socialista pode salvaguardar a dignidade e o destino do povo, assim como construir e atingir o socialismo conforme as condições reais e com seus recursos”, disse Kim Jong Un na ocasião.
A questão da geopolítica

No pronunciamento de Kim Jong Un à Assembléia Nacional, o líder coreano deixou claro que “geograficamente, nosso país se situa entre as potências, seu território ainda está dividido e nossa República constrói o socialismo enquanto se intensificam as manobras das forças hostis com o objetivo de contê-la, debilitá-la e estangulá-la. Também recrudesceu cada vez mais as contradições e confrontações das potências pela conquista da hegemonia regional e mundial”. E conclui: “tal como colocamos um fim ao prolongado período de chantagem nuclear com a nossa dissuasão nuclear, debemos buscar a anulação das sanções por parte das forças hostis com nosso espírito independente e baseado no apoio em nossas próprias forças”.

Assinalou Kim Jong Un em sua análise que “a orientação estratégica do nosso Partido e do Governo da República na construção de uma economia socialista é adequá-la às condições do país, modernizá-la, informatizá-la e nela introduzir as últimas conquistas científicas (…) Há que elaborar estratégias e metas para o desenvolvimento das indústrias mais avançadas como a mecânica, a eletrônica, a informática, a nanotecnologia e a bioengenharia e concentrar os investimentos”. Ao lado destas preocupações no nível econômico o líder ressaltou a necessidade da República se incumbir de aperfeiçoar o sistema jurídico e de elevar o papel das leis na vida estatal e social, assim como desenvolver ainda mais a capacidade de defesa nacional que ele considera um meio onipotente para salvaguardar a soberania da República.

A luta pela reunificação da península coreana

Em seu pronunciamento, Kim Jong Un destacou a luta histórica pela reunificação da pátria coreana, que julga estar em uma nova fase atualmente. Disse ele que “com a firme decisão de conquistar a todo o custo a reunificação do país, causa pela qual se empenharam o grande líder Kim Il Sung e o grande dirigente Kim Jong Il, adotando sucessivas medidas de suma importância para melhorar as relações Norte-Sul e para assegurar a paz na Península Coreana”.

O dirigente coreano procura, neste ponto de seu discurso, analisar as relações Norte-Sul da seguinte forma: “Sem dúvida, as forças conservadoras do Sul responderam com incrível urgência à aspiração da Nação e à esperança de uma comunidade internacional e tratam desesperadamente de promover o retorno das relações Norte-Sul ao período anterior à publicação da Declaração de Panmunjon”. (Nota da Redação: Esta Declaração foi assinada em 27 de abril de 2018, ou seja, completou 1 ano de vigência, que pontua os acordos entre as duas Coreias em temas como a desnuclearização, o reencontro de famílias separadas pela guerra e o próprio reconhecimento do final do conflito em 1953, que ainda está para ser concretizado). Os Estados Unidos também procuram influenciar nesse processo obrigando abertamente as autoridades sul-coreanas a “moderar a velocidade” e manobram por todos os meios para que o cumprimento dos acordos Norte-Sul se subordine à sua política de pressão e sanção contra a Coréia do Norte".

"Devido a esses fatos", prosseguiu o líder coreano, "nos encontramos diante da disjuntiva de prosseguir relaxando a tensão na Península e promovendo a melhoria das relações inter coreanas ou retroceder ao passado caótico que ameaçava com o desencadeamento da guerra". (…) "Não podemos permanecer de braços cruzados diante desta situação que ameaça gravemente o destino e o futuro da Nação, assim como a paz e a segurança da região. É urgente a tomada de medidas para superar os problemas em função das demandas e aspirações de toda a Nação". Finalizou o líder Kim Jong Un que "aproveito esta oportunidade para reiterar minha profunda decisão de converter as relações inter coreanas como sendo de reconciliação, de uma sólida e durável cooperação para escrever uma nova história de paz e co-prosperidade que todos os compatriotas desejam".

Sobre a terceira cúpula entre EUA e RPD da Coreia

"Ultimamente o império pensa outra vez em uma terceira cúpula, e nos transmitem percepções sobre uma solução dos problemas por meio do diálogo, mas ao mesmo tempo não se propõe a renunciar a sua política de hostilidade — o que seria a melhor maneira de estabelecer novas relações bilaterais — e, ao contrário, pensa erroneamente que com sua pressão máxima poderia nos dobrar". Segundo o líder Kim Jong Un "os EUA por um lado propõem solucionar o problema mediante o diálogo e por outro exaspera cada vez mais sua hostilidade. Esta é uma forma de proceder tão estúpida e perigosa como aquele que quer apagar o fogo com a gasolina". (…) "Como o sentimento de hostilidade entre os dois países está arraigado por muito tempo, para que se possa colocar em prática a Declaração de Panmunjom é necessário que ambos coloquem em nível secundário suas respectivas pretensões unilaterais e encontrem caminhos mais construtivos para resolver o problema, que concordem com os interesses de cada um". (…) "De toda a forma, até antes do final do ano esperarei com paciência que os EUA tomem uma decisão audaz, mas sem dúvida alguma lhes será difícil agarrar uma boa oportunidade como a que fizemos anteriormente". O líder coreano encerrou seu discurso dizendo sobre esta questão das relações com os EUA, "somente quando um acordo firme por escrito algum conteúdo imparcial que se ajuste aos interesses de ambas as partes e que possam ser aceitas por elas, eu assinaria sem pensar duas vezes. Isto, no entanto, só depende da atitude que tomem os EUA". (…) "O governo da RPD da Coréia consolidará e desenvolverá os laços de amizade e cooperação com todos os países do mundo que respeitem a soberania de nosso país e o tratem de forma amigável, avançando mão a mão com todas as forças amantes da paz no mundo para estabelecer um duradouro e sólido sistema de paz na Península Coreana!".

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