Espiral dialética

Conectando a revolução industrial ao pé da letra na mina escura
e funda no fundo de quintal da aldeia global etecetera e tal
futebol e carnaval no circo da chuva em falta de pão para todos
haja pau grande do big irmão patrão da magna civilização
na contramão as tribos perdidas, unidos da barbaridade da cidade
os desunidos do Caos cagante e andante, o lixo montante
maré grande a romper pela tangente o cerco da classe/raça superior
a dar passagem assim assado ao circum-Caribe antepassado das Índias acidentais
represa na garganta da gente libertada pela ciência sem fronteiras
da base dialética natural saída da cabeça de Engels na velha Prússia operária
ao coração da marronagem multimídia de Frank Etienne no Haiti aqui e agora
outras periferias: subúrbios de Londres, Tóquio e San Paolo de Piratininga
Via dos Imigrantes
diabo velho bandeirante Anhanguera, já era!…

A verdadeira história da verdadeira cabanagem está à venda na feira
Ver O Peso da lida: 'mas porém', vendedoras de ervas mágicas, peixeiros
açougueiros do Mercado da carne e estivadores das Docas não sabem que sabem
quando e onde o pau cantou:
mas o terreiro é portal de ignotas paragens da vida, conexão de deuses e mortais…

São Benedito da Praia do Bruno de Menezes guarda segredos dos orixás
parentes na Santaria, Candomblé, Catimbó, Umbanda…
em busca do cacique bandoleiro Guamã (vivo ou morto que nem Zumbi)
o café Palheta foi roubado de Caiena que o roubou do Suriname que roubou
de alguém desde a biopirataria original cometida desde Etiópia…
ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão:

eis a salvação da humanidade pela contravenção e a economia da verdade!…
(como diria Stanislau Ponte Preta: implantem-se a moralidade,
ou que nos locupletemos todos…)

levem-se a abolição do Apartheid às últimas consequências
com um justo e perfeito plano Mandela
ou venha a nós o Apocalypso, dito a sambatória internacional
(salve-se quem puder com vivas aos sobreviventes da lei de Darwin:
'mas, antão' o comunismo primitivo estará morto e enterrado pra sempre
e do socialismo cientifico nunca mais se há de falar).

O café Palheta foi do Pará dar em São Paulo onde fez barões do Império
A fim de desagravar a invasão de Portugal pelas tropas do general Junot
Mandou-se a cabocada paraense das tropas de resgate invadir Caiena:
erro fatal da corte anglolusobrasileira, pois 'havera' do pulo da cerca
fazer contágio da revolução dos escravos do Haiti e da República
O grão Pará plantado em Piratininga deu sustância ao grito do Ipiranga,
debaixo do equador ouviu-se o grito imperador e mais do que depressa
respondeu-se presente: a gente sempre buscou o país do Cruzeiro do Sul…
Presente! O povo do Pará velho de guerra estava pronto
a tomar parte da Independência do Brasil varonil…

Que fez o Rio de Janeiro em agosto? Manda ao Norte mercenários ingleses…
longe do agente imperial juntar-se ao povo e erguer o proclama de Muaná
foi negociar seis por meia dúzia com coloniais da “data magna”,
daí o estouro da boiada em outubro e a tragédia do brigue “Palhaço”
grande palhaçada de 252 paraenses
presos e assassinados nos porões do navio São José Diligente:
“Palhaço” por vergonha burguesa…
desengano da independência e causa direta da fúria dos Cabanos.

À míngua de interesse acadêmico acerca da saga da Casa das Canoas,
todavia sempre necessitados de trabalho escravo desde o berço do Presépio
medalhões da pátria deram anistia aos cabanos sem entender a história:

civilizados não esquecem, mas perdoam quando lhes convém;
bárbaros ao contrário não perdoam, mas facilmente esquecem…

E o café Palheta voltou a fazer história no extremo-norte dos brasis
agora em contrabando das Guianas e Caribe: marzão transamazônico
o troco veio em sandálias havaianas, automóvel rabo de peixe e Brega music
a questão do Amapá há de contar melhor toda estória das canoas tapuias:
como “havera” o Haiti vir aqui parar nesta paragem do Apocalypso global
contrabandos, ritmos e cantares das antigas e mui procuradas Antilhas
velhos batuques de Moçambique nas brisas do ar caribenho até o grão Pará.

Do longuíssimo ciclo das Luzes ao pós-colonial ou pós-qualquer coisa
A diabolização do Outro pelas margens revessas da história
do fim do mundo, o belo-horrível Apocalypso
ilhas Afortunadas e descobrimento do País do Vento (Amerika pele-vermelha)
Imagine conversa de compadres em Macondo sobre mundos novos e velhos
A antiquíssima “ilha do Brazil” por mares nunca dantes da imaginação
o país do Futuro
carregamento de mitos greco-romanos e emigrantes
pirataria de tesouros africanos depositados no Egito dos faraós
daí a rapina praticada por súditos da deusa Europa
conexão de saberes de ilhas imaginárias e continentes globalizados
dialética da arte evasiva do universo…

Da cadeia de Robben Island, Cidade do Cabo, Nelson Mandela assomou o mundo
Frankétienne armado de palavras contundentes até os dentes
desvendou mistérios dos vóduns, furou o cerco de Ravine-Sèche;
Deszumbizou o Haiti: pérola afroameríndia das Américas;
Dalcídio Jurandir salvou os campos de Cachoeira do dilúvio universal
a criaturada grande da grande ilha do Marajó tomou o Ita do Norte
na bagagem do índio sutil retirante das ilhas no Rio de Janeiro
Arca de palavras mestiças pilotada por Cobra Norato
Herdeiros de Toussaint l'Ouverture povoando o Brasil
por via de ocupação de Caiena e o roubo do café Palheta…

Eis que Macondo zerou o fado negreiro e seus habitantes resgataram
e armaram caravelas queimadas e deixada por Cortez…
Velas ao mar a redescobrir novos mundos
que nem o imperador Mandinga a remos em caiaques e navegantes negros
muito antes de Colombo!

Quem diria, compadre! Um rei negro a atravessar o mar da África ao Haiti
Passando, a remo, pelas bocas do Amazonas e delta do Orenoco…
Acha pouco?

"uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos" (Gabriel Garcia Marques),
reviravolta do vasto mundo sem solução (codinome: “mudança climática”)…
É o presente vivo e curioso que explica o passado morto, sepultado e mumificado:
Imagine Dalcídio, Frankétienne e Mandela

(Amazônias, Antilhas, Áfricas…).

Conversa de academia do peixe frito sobre Engels, Marx e Lênin…
Estes uns a explicar Zenão de Eléia, o velho Sócrates, Heráclito, Hegel…

A cicuta de Macondo é antítese da dialética importada de Atenas
Curare fabricado de veneno de jararaca pela mão da vingança
Ovo de serpente na senzala pelo insano trabalho escravo de Casa Grande
O fardo da natureza humana e a promessa de liberdade
Arte e engenho de homens e mulheres que não nasceram pra Besta.

Ah, a grande e desbocada risada de bordel na zona franca de Manaus!
quem será por vós, cabocos e cabocas do diabo Jurapari
que fala e ri pela boca dos pajés?
Hora da onça beber água: caixa de Pandora da devastação das florestas
bêbados e drogados, sex-shop, fast-food, aids [ai, Jesus!]
febre de sezão… garimpo, malária, sina de pária… maldição
Salvação da pátria em casas de Mina no Maranhão e grão Pará
minas de diamante de sangue em Serra Leoa!…
canoa furada ou pé na estrada, moçada…
Estrelas estremecem na escuridão da noite estranha…
O tambor no terreiro evoca os deuses e os guias na Encantaria.

(não ria, seu tolo! A obra humana vem apenas de começar)

O caos é criativo, tudo começou da água (segundo Zenão)
Em fogo e gelo o mundo vai se acabar, dizem profetas do dito cujo.
E eu com isto? – disse-me um caboco – amanhã vou pra Quatipuru.

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