Em torno de Isadora Duncan

Isadora Duncan dizia que sua dança não tinha sido criada por ela. A dança já existia havia milhares de anos e tinha sido somente recolhida ou despertada por ela.

Esse filme “Les enfants d’Isadora” (Os filhos de Isadora) foi realizado pelo cineasta francês Damien Manivel e está sendo exibido pela Mubi. O cineasta é um jovem francês, mas já possui dez filmes longos (incluindo produção e direção de fotografa), todos realizados neste século. É assim um típico cineasta destes tempos.

O que isso pode dizer? Que Damien Manivel é um cineasta que não tem ligação de subordinação com as grandes produtoras, mas que não se furta a produzir obras para o grande público e sempre buscando uma boa cinematografia. Ele faz filmes querendo fazer cinema esteticamente de boa qualidade. A gente pode perceber o clima dos seus filmes pelos títulos que são além de “Os filhos de Isadora”, “Takara – A noite em que nadei” e mais “O parque” e também “Um jovem poeta”.

Contam uma estória em torno desse filme “Os filhos de Isadora”. É que em 1913, quando seus filhos morreram tragicamente, Isadora Duncan criou uma coreografia chamada “Mãe”. Agora, cem anos depois em 2013, a equipe do filme quis recriar essa “Mãe”. A meu ver, o filme tem muito a ver com bailarina ou bailarinas, mas não se preocupa em rever uma estória. O filme é belo em sua imagem, mas não por alguma estória e sim pelas imagens e pelo movimento de cada uma das imagens. Como as participantes se movimentam. Como andam. Como falam numa certa leveza sensual.

Tentaram introduzir na estória nas cenas finais, e fizeram a atriz Elsa Wolliaston se transformar numa espécie de fantasma de Isadora Duncan. E assim, em razão do artificio, conseguiram fazer um final feio depois de tanto tempo de cinema belo.

Elsa Wolliaston

Esqueci de comentar uma expressão que reproduziram no filme, uma afirmação de Isadora Duncan. Embora autora de uma obra extremamente pessoal e muito forte, ela dizia que sua dança não tinha sido criada por ela. A dança já existia havia milhares de anos e tinha sido somente recolhida ou despertada por ela.

Olinda, 13. 12. 22

Os velhos e a continuidade

Eu digo isso porque já conquistamos uma continuidade de vida, inclusive nos países ainda pobres como o Brasil, em que um velho Lula está Presidente da República. Ele já começou a trabalhar, embora só tome posse no dia primeiro de janeiro.

Assim, é preciso pensar em todos, claro. Mas existem as questões específicas, e eu como sou um velho de 92 anos e quase mais 4 meses de idade, fico aqui inquieto. Ainda que a minha posição pessoal seja muito boa com minha sobrinha Trudy dirigindo minha vida. Brigamos algumas vezes, mas ela não se deixa abater e vai sempre encontrando o caminho melhor.

E quem não tem aposentadoria e uma Trudy, como é que faz? Já são muitos os brasileiros velhos perdidos na natureza, eu sei. Sofrendo até mesmo fome. E muitas doenças. Por isso o novo Governo, entre as suas propostas, deveria pensar em criar Centros de Trabalho para velhos. Esses Centros deveriam ser expandidos em Centros de Trabalho propriamente, mas também Centros de Criação para possíveis artistas, Centros de Recreação para quase todos, Centros de Saúde e Centros de Educação e outros Centros. E esses Centros seriam dirigidos por jovens e pelos velhos que estivessem em condições físicas e psicológicas.

Claro que esses Centros custariam despesas para o Governo, mas com a continuidade passariam a ser financiados pelos próprios trabalhos dos velhos. Seria uma forma específica de sociedade, que se poderia dizer ser socialista, com o desejo principal de criar boas condições para uma camada bastante grande da sociedade. E com a possibilidade pela evolução da medicina de a cada tempo ser maior.

Embora o Governo Lula seja uma grande mistura, temos a certeza de que pessoas como Fernando Haddad e sua maneira de pensar dentro do Ministério da Fazenda possam contribuir para novas formas sociais inclusive.

Olinda, 12. 12. 22

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