Elogio da traição

As eleições demonstraram organização impecável para um País de grandes distâncias e regiões socialmente diversificadas. A moderna tecnologia da informação, adequada ao registro de eleitores e votantes, assinalou a competência da Justiça Eleitoral para coo

As eleições não pecaram por organização, no entanto, em São Paulo, manobra e comportamento dos mais lamentáveis, feriu e deslustrou as esperanças em um comportamento político e, sobretudo ético, correspondente às virtudes demonstradas pela Justiça Eleitoral.


 


O Governador do Estado de São Paulo, ao revés de posicionar-se à altura do cargo que exerce, profanou aspectos éticos de vida, atitude e respeito aos princípios de consideração ao próximo e à sociedade, ao trair, despudoradamente, o seu amigo, companheiro de partido, apoiando, sem pejo ou ressalvas, diverso candidato de outro partido, excluído e humilhado pelo filho que não é pródigo.


 


 


Dupla traição e menosprezo, ao homem Alckmin, pelas relações de amizade, nunca desmentidas, e ao Partido que o acolheu. Ao amigo buscou livrar-se para afastá-lo do tortuoso caminho de sua ambição pessoal ainda que à custa de uma atitude sem pudor. Ao Partido, a desmoralização de frustrá-lo na sua unidade e coerência. Ao Estado de São Paulo por demonstrar que São Paulo é apenas um trampolim para o vôo do tucano sem alma, sem coragem e respeito, mero pássaro despido de cores e penugem plainando desarvorado, ferido de morte pelo acicatar da desilusão de ver o seu governador atraiçoá-lo para obter a qualquer custo e meio, objetivos personalistas. Como será visto pelos brasileiros quem mente, esconde-se, esquiva-se de sua gente em nome de ambições pessoais. Como será possível à Nação confiar nesta farsa hipócrita e no seu autor, mimetizado, embaindo o povo e a gente paulista e brasileira. Como assegurar que não reincida na felonia, no engodo, quando a ambição se transformar em volúpia pelo poder e benesses que os homens de duas faces estão sempre prontos, sem pejo nem vergonha, a apossar-se, sorrindo ou com olhos mortiços fixados nas presas a seu alcance?


 



O poder pelo poder, sem lisura e mérito, não é poder, mas pobre quimera, fantasma desfibrado de uma ambição sem decoro.


 



Para o trágico momento de nossa imprensa mal falada e pior dita, a transparência do embuste reveste-se dos atributos do mais vulgar dos maquiavelismos. Louvam o malfeito, de Quixote é o reverso. Aplaudem quem lhes atira às bochechas a mais despudorada infidelidade, humana e da política, que se reveste para os desmemoriados fariseus em golpes de melíflua pusilanimidade. Adoram, contritos, o bezerro de ouro, ungido pela perfídia, mas não há hoje sem amanhã. A criatura, envaidecida pelo arrimo encontrado, filho único de uma grei desvairada, afeiçoado ao engodo, pode-se lançar-se ares afora, aprendiz sem compromisso, de mestre aturdido pela desmesurada lição.

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