Educafro, tamu junto e misturado

Uma força de massa e vanguardista da juventude negra e da periferia vem mostrando as garras como fizeram os Panteras Negras na década de sessenta.

O princípio de atuação desta entidade é lutar pelo ingresso da juventude negra e afro-descendente nas universidades rompendo com uma secular opressão que marginaliza a juventude negra do direito à formação superior.


 


Mas como dizia uma das faixas que li durante a marcha no dia da consciência negra, no último 20 de novembro: “A informação é o caminho pra revolução”.


 


Esta marcha contou com 10 mil irmãos e irmãs da Educafro, lembrando a saga do Quilombo dos Palmares, a entidade amplia suas lutas, pois entende que onde há opressão, deve haver resistência.


 


Segunda Feira, dia 18 de dezembro no período da manhã estudantes do Educafro não exitaram em realizar uma ação corajosa e ousada. Se reuniram e foram até a sede da prefeitura de São Paulo com faixas protestando contra o aumento abusivo das tarifas e queriam protocolar o protesto. Foram impedidos de entrarem na prefeitura e posteriormente dispersados com cacetetes e gás de pimenta. Não desanimados os estudantes partiram para o coração financeiro de São Paulo, a Avenida Paulista. Pararam um ônibus e ocuparam o interior do veículo com as faixas e esticaram do lado de fora fazendo do veículo um outdoor de protesto. Logo chegou a policia pra dispersar a manifestação e junto com eles a imprensa que fica 24 horas por dia monitorando as decisões financeiras e econômicas que são encaminhadas ali nos importantes prédios da Paulista.


 


Como a polícia queria liberar o interior do ônibus, os estudantes do Educafro esvaziaram os pneus do veículo e travou o trânsito, as televisões começaram a transmitir o evento ao vivo nos jornais do meio dia. Mesmo com a tentativa de desvirtuar os fatos e passar a idéia de baderna, a imprensa acabou ajudando a mostrar para a população as faixas, a ousadia e o protesto legítimo. De certa forma mostraram para os empresários e para o governo que este aumento não foi engolido pelo povo que teve a alma lavada com esta atitude. Mais do que isto percebeu que é preciso se organizar e protestar, mostrar sua indignação.


 


Quando a polícia conseguiu retirar os estudantes e as lideranças do Educafro do interior do ônibus após intensa negociação, estes saíram em marcha pela avenida exibindo suas faixas e distribuindo materiais para a população.


 


Esta ousadia me comove! Olha que eu já conhecia esta ousadia de outros episódios como no período da campanha onde o Educafro lotava a sede dos monges Franciscanos no Largo São Francisco para ouvirem e debaterem as propostas dos candidatos que apresentavam plataformas para o povo negro e afro-descendente. Nestas ocasiões eu acompanhava o candidato a deputado estadual Aliado G que sempre foi recebido com grande entusiasmo pelos irmãos e irmãs do Educafro e as identificações com o movimento hip-hop ficavam nítidas.


 


No dia da marcha do 20 de novembro minha admiração redobrou quando carregaram por várias avenidas de São Paulo um busto de Zumbi do Largo São Francisco indo para a Praça da República. Lá deixaram várias faixas no prédio da Secretaria de Educação, depois indo pra Reitoria da UNESP na Xavier de Toledo protestar contra a farsa na avaliação do vestibular e em seguida caminhando para o Largo da Memória. Para deixarem o pesado busto do Herói do povo negro e brasileiro que foi carregado nos braços durante toda esta marcha.  


 


Isto já seria um grande ato, mas a marcha continuou até a frente do Teatro municipal de São Paulo para protestar contra a elitização da cultura paulista e debaixo de um sol de 33° graus subiram a Av. Consolação na contra mão até a Paulista. Em baixo do vão livre no Masp se juntarem as outras entidades do movimento negro para a partir daí fazerem uma marcha conjunta até a Assembléia Legislativa.


 


Estou acostumado com passeatas e manifestações, mas neste dia os manos e manas do Educafro me surpreenderam. Para quem não conhece este percurso são mais de 25 Km, é o equivalente a duas Corridas de São Silvestre que tem 13 Km de extensão. E tem mais, todo este percurso foi feito por mais de 10 mil pessoas cantando, tocando instrumentos de bateria e dançando nas grandes avenidas do centrão de São Paulo. Tem que ter muita convicção, organização e ideal de luta. E isto está provado que nos mais de mil núcleos do Educafro espalhados pelas periferias tem de sobra.


 


Vida longa ao Educafro, Zumbi dos Palmares revive na luta com vocês, o caminho para transformação e revolução é longo e podem ter certeza: Tamu junto e misturado!


 


Termino com o grito de guerra de 10 mil Educafro´s: “Che, Zumbi, Antônio Conselheiro: na luta por justiça somos todos companheiros!”

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