Depressão Ponto Com

A depressão já se estende para o setor das empresas de alta tecnologia nos Estados Unidos, dentre elas a Circuit City, indicada como a segunda rede de  comercialização eletroeletrônica do país, secundando a Best Buy. Os meios de comunicação informam

A fabricante de chips Advanced Micro Devices (AMD), por sua vez, anunciou em 17 de janeiro a demissão de 1,1 mil funcionários, o equivalente a 9% da sua força de trabalho, para cortar custos diante da queda da procura por seus produtos. A medida será acompanhada de desinvestimento (redução do ativo investido) na linha de negócios de computadores de mão, relata Valor  Econômico  de 19 do corrente. A empresa é a segunda maior fabricante de chips do mundo, atrás da Intel. O colunista  Steve Hamm, Valor (19), expõe: “Durante meses a indústria global de computadores pessoais (PC) evitou o pior, mas o período de prosperidade parece que está chegando a um fim abrupto. Em relatório divulgado em 14 de janeiro, a consultora IDC informou que o quarto trimestre de 2008 foi um fiasco, com as vendas unitárias de PCs caindo 0,4%%. A IDC prevê tempos de vacas magras para os fabricantes de PCs, com previsão de queda de 5,3% em 2009 e uma recuperação lenta em 2010.”



No dia 22 a  Microsoft anunciou outra desaceleração nas suas atividades, cortando drasticamente a sua folha de empregados nos países em que opera. A informação é no sentido de que as demissões – as primeiras de grande escala na história da Microsoft – ocorrerão nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, marketing, vendas, financeira, jurídica, recursos humanos e tecnologia da informação. A intenção é reduzir as despesas operacionais anuais em US$ 1,5 bilhão.



A Sony, relata a Reuters do Japão  (22), anuncia prejuízo anual recorde de 2,9 bilhões, decorrente da  queda na demanda e valorização do iene. A companhia revelou medidas de reestruturação em suas operações com eletrônicos. No mesmo dia 22, que nos permite supor uma orquestrada sinalização, a Intel anunciou que vai fechar cinco fábricas nos EUA e na Ásia, desempregando cerca de seis mil trabalhadores. A empresa norte-americana vai proceder ao encerramento de duas fábricas nos EUA, deixando de ter uma unidade no conhecido “Silicon Valley”, e três na Ásia, segundo noticia a BBC. A conjuntura agrava-se com a redução dos diversos níveis governamentais  norte-americanos na aquisição de serviços e bens empregados na IT (Tecnologia da Informação), subsídios decorrentes das autorizações  dos poderes públicos, com a exceção do Tesouro. Se avaliarmos o que ocorre com a demanda militar, o impacto pode ser cruel para o setor.



A diminuição da procura de produtos de alta tecnologia, principalmente no setor de produção (no caso da AMD, Intel, Microsoft e da Sony), revela um  aspecto delicado  da crise, ainda mais preocupante quando  denota a escassez  de investimento nos setores de maior sensibilidade. Os investimentos voltados para as indústrias dessa natureza são reputados  capital de risco inovador, e constituem um dos  motores da chamada Nova Economia norte-americana. O Vale do Silício, nos Estados Unidos, é o símbolo dessa nova era da explosão tecnológica. Era em que o capital de risco, quer publico, quer privado, contribuiu com  enormes recursos, inclusive os derivados dos fundos de pensão norte-americanos, para o seu auge. Nos Estados Unidos, a abertura de empresas para o mercado acionário ofereceu aos investidores oportunidades de obter retornos.



A situação nem sempre foi satisfatória, denotando desequilíbrio e redução de atividade já  de algum tempo. Observa Michael J. Mandel, no livro Depressão.Com, Record,  RJ, 2000, p. 82: “Quando  a economia e o mercado de ações caem, o mesmo acontece  com o financiamento de novas e inovadoras empresas – e não acontece em pequenas proporções. Como resultado do crash de 1987, o capital de risco caiu em 50%, de 5,2 bilhões de dólares em 1987 para 2,6 bilhões em 1991. A disponibilidade de capital de risco aumenta e cai com o índice da bolsa Nasdaq, embora com menos sobressaltos”.



A formação de profissionais nessa área  exigiu  demorada e exigente dedicação nas maiores unidades e centros de pesquisas. A dispensa de milhares deles revela enorme desfalque de cérebros, em setor de importância inquestionável para uma economia compelida a renovar-se constantemente, a fim de enfrentar duríssima competição. A redução do emprego altamente especializado é desastrosa num campo dependente do aumento contínuo da produtividade. Como observa M.Mandel, futura recessão causará seu  dano mais devastador nos trabalhadores educados, bem pagos e treinados em computação que se supõem   imunes aos altos e baixos da economia. Ela afetará particularmente a força de trabalho flutuante, de trabalhadores temporários, consultores independentes, free lancers, programadores e autônomos, que prosperaram no surto da Nova Economia.



O desempenho da tecnologia neste setor, por outro lado, propaga-se com muita intensidade e os seus resultados são absorvidos quase instantaneamente, não só  por empresas similares, pois   a produção inovadora  é compartilhada por empresas que dela se servem como acessórios complementares na comercialização de seus bens. A concorrência na indústria automobilística demonstra esta simbiose entre tecnologias extremamente criativas, e outras mais convencionais.



Michael J. Mandel anota, no texto citado, oportuno para a depressão  que se avizinha:  “A questão chave é que o papel da inovação na economia mudou. Onde um dia foi uma influência reguladora, amortecendo as oscilações do ciclo econômico, agora se acentua. Em vez de moderar a próxima recessão, a inovação a tornará   pior. Em vez de proporcionar uma base para a economia, a mudança tecnológica – ou a perda súbita dela – abrirá um alçapão. Aqui está o que vai acontecer quando a inovação diminuir.”



Os indícios de arrefecimento  do ciclo tecnológico decorrerão do fato de que as empresas do ramo requerem falência, como vimos, e milhares de empregos de alta qualidade  são perdidos para a economia. Por sua vez, a disponibilidade de capital inicial para novas empresas,  provoca a queda na taxa de inovação tecnológica e reduz o seu ritmo.



O índice Nasdaq é um indicador válido para se apurar o momento e o percurso dá área tecnológica, mas exprime também o conjunto da economia norte-americana, desde um dos seus setores mais sensíveis.

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