Deliberações no plenário da Câmara na 52ª legislatura

A Câmara dos Deputados, ao longo dos quatro anos da última legislatura, só deliberou em 36,75% das sessões convocadas com essa finalidade, mantendo a pauta bloqueada por medida provisória ou projeto de lei em regime de urgência constitucional em 63,25% da

Atribui-se a paralisia do Congresso ao excesso de medidas provisórias, mas essa não é a principal motivação, até porque o atual presidente tem editado menos medida provisória que seu antecessor. As razões do bloqueio dos trabalhos legislativos, além das manobras dos líderes partidários (da oposição e também da situação), são basicamente três: a) a mudança na regra de edição de MPs, b) a crise política e c) a postura dos presidentes das Casas do Congresso, notadamente da Câmara dos Deputados.


 


Desde que foi promulgada a Emenda Constitucional nº 32, em 11 de setembro de 2001, as medidas provisórias passaram a bloquear a pauta da Câmara ou do Senado após 45 dias de sua edição. Como o Congresso raramente vota as MPs antes dos 45 dias, a pauta da Casa onde se encontra a MP fica automaticamente bloqueada. Essa é uma das  razões do baixíssimo índice de deliberação nas duas Casas do Congresso.


 


.A crise política – iniciada com Waldomiro Diniz, alastrada  com a imagem do funcionário dos Correios recebendo propina e incendiada com a entrevista de Roberto Jefferson – transformou o legislativo numa delegacia de polícia, com enorme reflexo sobre o funcionamento do Congresso. Todas as atenções estavam voltadas o trabalho do Conselho de Ética e das várias Comissões Parlamentares de Inquérito, que descobriram novos escândalos, como o do mensalão e das sanguessugas.


 


Outro aspecto que influencia a capacidade de deliberação está associado à postura e comportamento dos presidentes das Casas do Congresso. Quanto maior a liderança, credibilidade e firmeza dos presidentes, maior a participação dos parlamentares nas deliberações de plenário. Na gestão de João Paulo Cunha (PT), um presidente bem articulado, o percentual de sessões com deliberações foi de 43,81%, acima da média, de 34,75%.


 


O período de Severino Cavalcanti (PP), de baixa credibilidade, foi o de menor índice de deliberação, apenas de 21,57%, com 78,43% das sessões obstruídas. Na curta gestão de vice-presidente, José Thomaz Nono, que conduziu com firmeza as sessões, a média de deliberação foi de 50%, a mais alta da legislatura. No período de Aldo Rebelo, um presidente com grande prestígio na Casa, o índice de deliberação foi baixo, 32,79%, mas em razão do auge da crise política e do recesso branco durante as eleições gerais de 2006.


 


Na distribuição dos dados por ano, constata-se que em 2003, o primeiro ano da legislatura, o índice de deliberação em plenário foi de 56,47%, muito acima da média. Na segunda sessão legislativa, em 2004, caiu para 23,97%. Na terceira sessão manteve-se baixa, em 24%. No quarto e último ano da legislatura houve uma pequena recuperação, com 34,29% das sessões com deliberação.


 


O atual presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT/SP), vem imprimindo um ritmo que há muito não se via no Congresso. A pergunta que se impõe é se esse ritmo frenético, com deliberações até nas segundas-feiras, será mantido. Uma das variáveis que interferem no resultado – a postura do presidente – Arlindo incorpora bem. Ele tem compromisso com a recuperação da imagem da instituição, goza de credibilidade e é firme na cobrança da presença dos parlamentares. Que o Congresso volte a deliberar, e com qualidade.

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