Conversa de dois brasileiros em Hangzhou, China

Nas nossas longas conversas, um dos temas constante do cardápio é o papel condutor do Partido Comunista da China na organização do país e no desenvolvimento da sociedade chinesa

Foto: Reprodução

Depois que passei a morar em Hangzhou, em 2015, descobri que nessa cidade também vive outro brasileiro que, como eu, é casado com uma chinesa. Residente em Hangzhou desde 2011, Saulo, 70 anos, jornalista aposentado, tem longa vivência no Brasil profundo, fruto do tempo em que trabalhou com as comunidades indígenas Parakatêjês e Mebengocrés (Caiapós) no Sul do Pará e Ashanincas (Campas) na fronteira do Acre com o Perú.

Há seis meses, depois que nasceram meu casal de sino-nordestinos, Yan e Ana, esse meu amigo tem desempenhado o papel de avô brasileiro dessas minhas crianças.

Entusiasta do socialismo com características chinesas, vez por outra compartilharmos nossas observações sobre a China e sobre nossas perspectivas sobre o Brasil. Também normalmente, ativamos essas conversas com macaxeiras amarelas e brancas vindas do sul da China, alguns queijos europeus e cheiros de carne assada, da Região Autônoma da Mongólia.

Nas nossas longas conversas, um dos temas constante do cardápio é o papel condutor do Partido Comunista da China (PCCh) na organização do país e no desenvolvimento da sociedade chinesa, bem como a maneira com que os chineses em geral olham para o mundo. Por exemplo, Saulo e eu observamos em nosso último encontro que nos 100 anos de existência do PCC celebrados no ano passado, as suas prioridades para transformação do país estão em sintonia com as complexas demandas da maioria do povo chinês.

Leia também: Após seis meses, EUA põem mais lenha na Ucrânia com ajuda de US$ 3 bi

Para uma melhor compreensão desse tópico, observamos que poderíamos dividir o século de sua existência em três etapas. A primeira de 1921 a 1976, cujo principal arquiteto foi Mao Zedong; a segunda, de 1977 até 2012, liderada pelas orientações políticas e econômicas de Deng Xiaoping, o arquiteto dessa China moderna; e a etapa atual, conduzida desde 2012 por Xi Jinping.

Na primeira etapa, a ação revolucionária exerceu papel decisivo dentro do PCCh e o sua principal realização foi a unificação da nação chinesa e a fundação da República Popular da China em 1949. Nessa referida etapa, a vanguarda do Partido era composta essencialmente por quadros revolucionários forjados em um ambiente de guerra. Na segunda etapa, passou a preponderar o desenvolvimento das forças produtivas e a construção material do país e os quadros políticos-técnicos-científicos assumiram a vanguarda do processo; e na etapa atual, que poderíamos denominar de revitalização nacional, o foco do PCCh deve se voltar para a formação de lideranças capazes de articular o avanço da prosperidade material do país com a restauração e o fortalecimento do seu grande legado civilizacional.

No último 28 de setembro, dia em que se celebrou 2.573 anos do nascimento de Confúcio, foi o meu mais recente encontro com o amigo Saulo. Desta vez, o foco principal da conversa foi a questão ambiental na província de Zhejiang, da qual Hangzhou é a capital, e o conceito de prosperidade comum (Sobre este assunto, veja o artigo “Zhejiang e a Prosperidade Comum”, publicado nesta coluna em 19/07/2022).

Nesse nosso último encontro, também teve espaço para um empolgante relato do amigo Saulo sobre sua participação na travessia do Rio Qiantang, evento de natação que ocorre no principal rio da Província de Zhejiang, desde 1960. O ponto da travessia é justamente onde se encontra o trecho final do Grande Canal Hangzhou-Pequim, uma obra com seus mais de 2500 anos.

Realizada no último 21 de agosto, a travessia teve a participação de mais de dois mil nadadores e Saulo foi um dos poucos, senão o único estrangeiro. A atividade serviu também para promover a 19ª edição dos Jogos Olímpicos Asiáticos 2022, que devido a pandemia, foi remarcado para 2023, de 23 de setembro a 8 de outubro.

Leia também: “A tendência da balança geopolítica mundial é pender para o lado asiático”

No seu relato sobre a travessia do rio Qiantang, Saulo disse-me que fazer amizade e nadar ao lado da nadadora Zhao Jiayi, de oito anos, foi a experiência que mais o emocionou. “A amizade com a nadadora mirim começou no ônibus que transportava os nadadores até aplataforma da partida, no imponente centro esportivo de Hangzhou, recém inaugurado para receber os Jogos Olímpicos Asiáticos. Uma vez acomodada no ônibus ao meu lado, Jiayi despediu-se da mãe Zhu Xiuhui. Para minha surpresa, Jiayi passou a comunicar-se comigo em inglês, ajudando-me a ajustar o cordão do flutuador na cintura e fixar neste o selo de identificação de participante da travessia”.

“Quando chegamos no Centro Esportivo Olímpico, Jiayi sinalizou para acompanhá-la até entrarmos no rio. Em estilo peito até a chegada, parou apenas para comentar a mudança da temperatura da água, que passava de quente para muito quente e depois esfriava e voltava a ficar quente, indicando a chegada das pororocas da maré do Mar do Leste da China subindo pelo estuário”.

Para o meu amigo Saulo, a capacidade de comunicação de Jiayi, assim como sua atitude humana e habilidades técnicas é um reflexo direto dessa nova etapa do desenvolvimento chinês liderada por Xi Jinping e um exemplo convincente de que essa nova grande marcha do Partido para a revitalização da nação já começa a gerar bons frutos.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor