Conhecendo pecusburgo

Alguns leitores me perguntam sobre o misterioso missivista, sempre preocupado com as coisas de Pecusburgo. Por uma questão de fidelidade a uma promessa de anonimato, estou impedido de fornecer seu nome e detalhe que possa identificá-lo. Esclareço apenas que fez parte de uma geração que carregava sonhos. Foi atropelado pela história de dias escuros que jogou por terra velhas utopias. Tenho dificuldade de explicar a ele que a vida em Pecusburgo pouco mudou. Continua fiel à sua origem pecuária, ao mandonismo e a permanente confusão entre as coisas que seriam de todos os cidadãos e os acervos particulares. Particulares, refiro-me àqueles que, em algum momento, ganharam projeção e apropriaram-se das esperanças das pessoas e cuidam da coisa alheia como se própria fosse. Meu missivista não compreende a propaganda que Pecusburgo faz por todas as repúblicas e reinos do mundo sobre certo progresso que estaríamos vivendo. Fica pasmo quando digo que há hoje muitas Pecusburgo. Uma que trabalha, produz, paga impostos, dança carnaval e torce pelo futebol. Uutra que cria grupos de extermínio vende proteção, monta saques mensais, semanais e diários contra a população. Embora empanturrem os legislativos de leis e vomitem incansavelmente decretos e medidas provisórias, são os primeiros a desrespeitar as próprias disposições. Exemplifico com as últimas atitudes da plutocracia pecusburgana que, sem qualquer tremor ético, vem sendo multada e processada por avançar intempestivamente no bolo das eleições que se aproximam. Apenas risos em resposta. As multas são ínfimas e os procedimentos infindáveis. Já não escondem sua impudicícia e preparam em espetáculo público os valetes do jogo armaram. Vale tudo. De espalhar pão e circo ao populacho, a remasterizar candidatos para serem oferecidos, adrede negociadas, opções ao eleitorado pastoreado pelos meios de comunicação. Responde o meu missivista que sempre foi assim. O que haveria de novo? Quando chegará o dia de claridade que o fará tomar um vôo direto para afogar as saudades de Pecusburgo? Digo que, de novo, há uma festa da Pecuária. Aliás, a festa ou farra como se poderia chamar, é do boi, e dos donos dos bois. Ali armam barracas de toda sorte de lazer. Leilões de animais, de Venus siliconadas, suspensas em suas botas campeiras, exibindo com orgulho o cuidado dos criadores e a qualidade das rações oferecidas a esse tipo de cria. A gentalha está pagando ingressos caríssimos para desfrutar dos mugidos, berros, relinchos e o cativante odor de estrume, com a certeza de, no fim da noite, alimentar a parva sensibilidade com espetáculos de mau-gosto que, chamam sertanejos ou histéricos gospels. É claro que essas trupes nunca viram uma enxada, e pensam que bois e vacas foram feitos apenas para exposição, como misses, na festa da Pecuária. Bem, a pauta é extensa e ia me enveredando por outros temas. Peço desculpas aos leitores. Vai ficar para outra vez a explicação da origem de Pecusburgo. Até Breve.

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