Brasileirão sem favoritos (ou com muitos deles)

Responda de bate-pronto: quem é o favorito para ganhar o Campeonato Brasileiro? Qual o primeiro time que veio à cabeça? Cruzeiro? Santos? Atlético-MG? Nenhum deles? O que os quatro primeiros meses do ano mostraram é que não há no país um time 100% confiável. Todos em algum momento deram razões para se ter um pé atrás. Como ninguém desponta como favorito absoluto para levantar o caneco nacional, o leque de candidatos é bem amplo.

O mais óbvio é o Cruzeiro. Atual campeã, a Raposa manteve praticamente todo o plantel que sobrou na disputa do ano passado e passeou no Brasileirão. Não deu nem graça. Mas, neste ano, o time de Marcelo Oliveira tem dificuldades em repetir as atuações de 2013. A classificação na Libertadores só veio na última partida, embora o grupo com Defensor-URU, Universidad de Chile e Real Garcilaso-PER fosse teoricamente fácil. No primeiro jogo das oitavas, contra o Cerro Porteño-PAR, mais dificuldades – o gol que evitou a derrota no Mineirão só saiu no último lance. O Cruzeiro tem um dos elencos mais extensos e qualificados do torneio – algo que sempre pesa em uma disputa longa -, mas o time ainda está travado em comparação ao estilo vistoso, leve e dinâmico do ano passado.

 
Principal rival do Cruzeiro, o Atlético-MG vive situação similar – a diferença é que o bom futebol ficou mais longe. Desde que venceu a Libertadores em 2013, o Galo caiu de produção. É verdade que após a conquista da América as equipes diminuem o ritmo e focam só no Mundial. O problema é que o Atlético passou vexame no Marrocos e sequer chegou à final. Na Libertadores deste ano, com Paulo Autuori no lugar de Cuca no banco, o Galo ainda não brilhou, embora não tenha passado sufoco para avançar em primeiro do seu grupo. Até mesmo Ronaldinho reconhece que ainda não está bem. Os clubes mineiros já provaram que conseguem vencer, só não deram indícios disso ainda.
 
Por sinal, a Libertadores é um bom termômetro da atual situação do futebol brasileiro. Pela primeira vez desde 2000, três equipes do país caíram na primeira fase. Flamengo, Botafogo e Atlético-PR não conseguiram ficar entre os dois melhores de seus grupos. No Brasileirão, dá para esperar um desempenho parecido do trio.
 
O outro classificado na Libertadores foi o Grêmio. O mesmo Grêmio que foi goleado por 4 a 1 pelo Inter na final do Gauchão. O Tricolor tem alguns nomes de peso (Barcos é o principal deles) e jovens promessas (destaque para Dudu e Luan), mas o elenco não é suficiente para brigar em duas frentes. O Colorado parece mais modesto que em anos anteriores. A história recente do Inter no Brasileiro se resume a grandes expectivas, nomes badalados que não vingaram – Forlán, Bolatti, Scocco e Cavenaghi são alguns – e decepções. Neste ano, nada de melhor jogador da Copa no ataque: o Colorado vai de Rafael Moura e Wellington Paulista mesmo, que serão servidos por D’Alessandro e Alex. Talvez a mudança ideológica vingue. Talvez não, afinal, as esperanças de gol são He-Man e WP9.
 
Em São Paulo, futebol bem jogado de verdade só com o Santos. Oswaldo de Oliveira montou um time leve, ofensivo, com muita velocidade e a mescla de promessas da casa, como Geuvânio e Gabriel, e atletas de mais bagagem, entre eles Cícero, Arouca e Thiago Ribeiro. Deu certo, o liderou a primeira fase do Paulistão, conseguiu alcançar a final, mas sucumbiu diante do Ituano. A derrota evidenciou algumas carências e mostrou que contar com jovens às vezes pode ser complicado devido à oscilação natural. E o Peixe ainda tem a questão Leandro Damião, que é um centroavante pesado, grandalhão, diferente de todo o time. Coincidência ou não, o Santos parece jogar melhor sem o ex-jogador do Inter. E isso é uma pena, pois ele continuará em campo, já que custou mais de R$ 40 milhões.
 
Dois rivais paulistas vivem situação parecida: bons jogadores, futebol decepcionante. O elenco do Corinthians, com Jadson, Guerrero, Ralf, Gil, Cássio e Romarinho, entre outros, tem material humano para a formação de um bom time. Mas, até agora, Mano Menezes não conseguiu fazer isso e o Timão sequer ficou entre os oito melhores de SP. A chegada do volante Elias, pedido especial do treinador, talvez ajude a situação. No São Paulo acontece o mesmo: Luis Fabiano, Ganso, Pato, Álvaro Pereira, Souza – nomes conhecidos no mundo do futebol que ainda não são uma equipe. Muricy Ramalho que trabalhe para fazê-los jogar. Já o Palmeiras, o grande que voltou à elite, não passa confiança. Está na Série A, mas a escalação é praticamente a mesma da Série B.
 
No Rio, por incrível que pareça, o único com alguma pinta de candidato é o Fluminense, embora um eventual flerte com o rebaixamento também não surpreenda. O fato é que o Flu tem Conca, um dos melhores meias do campeonato (se não for o melhor), Fred, o centroavante da Seleção, Walter, destaque no ano passado, e outros nomes de peso. Até agora são só nomes. Se encaixarem, dá para fazer barulho. No entanto, sempre há a possibilidade de Fred virar habitué do departamento médico, Walter se meter em polêmicas e Conca ficar que nem um louco correndo atrás da bola em um time totalmente bagunçado. Com o Flu, os extremos estão em jogo.
 
Palpites? O favorito de verdade é o Cruzeiro, seguido pelo Atlético-MG. São os dois times brasileiros que conseguiram sucessos recentes e mantiveram as bases vencedoras. Mas não dá para cravar nenhum deles como candidato indiscutível, até porque ambos estão com a atenção totalmente voltada à Libertadores. Depois deles vêm Corinthians, Inter e São Paulo: os paulistas estão na lista mais pelo potencial de onde podem chegar do que pelo que fizeram até agora; o Colorado, embora a amostragem seja pequena, atropelou o maior rival recentemente, o que rende alguns pontos. E o coringa é o Santos, que pode encantar com um futebol ofensivo ou cambalear com eventuais dificuldades que os garotos encontrem durante a trajetória para se firmarem.
 
Também vale lembrar: é ano de Copa, o campeonato irá parar por um mês e há ainda uma janela europeia de transferências inteira pela frente, que será especialmente aquecida pelo Mundial. Isso significa que os bons times podem perder suas estrelas, os fracos têm a chance de se reforçar e os técnicos terão um bom tempo para trabalharem com seus times. Ou seja, em meados de julho, grande parte do que você leu aqui pode não fazer mais o menor sentido e os candidatos mudarem completamente. Esse é o Brasileirão.
 
Série B

Na Segundona, o Vasco, como todo time grande que é rebaixado, tem obrigação de subir. A disparidade de orçamentos em comparação aos rivais é gritante demais. Não dá para imaginar que os cariocas sejam pioneiros em permanecer na Série B na era dos pontos corridos. Se a escrita for mantida, restariam três vagas à Série A. O palpite – e é puro chute mesmo – é que também subam Joinville, Náutico e Santa Cruz.



 

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