Brasil envenenado e a agroecologia

Quero alertar sobre um dos maiores problemas que estamos enfrentando e que pode piorar: o cuidado com a nossa saúde e com a nossa alimentação. O Brasil está envenenado. Literalmente.

É uma situação que nos atordoa e que ameaça os brasileiros em todos os flancos, inclusive em relação à qualidade de vida. Desde que assumiu o governo, Bolsonaro começou a nos envenenar de maneira negligente e irresponsável. Este desgoverno liberou mais 42 tipos de agrotóxicos, numa lista que chega a 239 defensivos agrícolas desde janeiro. A maioria desses venenos é proibida em outros países. Para piorar ainda mais a situação, recentemente a Anvisa encontrou resíduos de veneno ‘chumbinho’ na comida do brasileiro. Agrotóxicos como Carbofurano na alface, laranja, goiaba, uva, chuchu, pimentão e batata doce. E o Terbufós, no feijão. Ambos são usados no conhecido – e ilegal – veneno para ratos.

Esses resíduos são substâncias usadas na produção de raticidas e foram proibidos desde 18 de outubro de 2017 por causar danos ao sistema nervoso, mas foram encontrados em amostras analisadas no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), divulgado dia 11 de dezembro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Entre os efeitos mais comuns sobre o sistema nervoso central estão: ansiedade, dor de cabeça, perda de memória, tremores, convulsões e eventualmente paralisia do aparelho respiratório, que pode levar à morte. Segundo Marcos Pedlowski, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, na prática, pode-se dizer que o brasileiro está sendo cronicamente contaminado por ‘chumbinho’.

Uma pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso aponta que os agrotóxicos mais utilizados são o glifosato e a atrazina comprovadamente associados a graves problemas de saúde, entre os quais, o câncer infantil. E tem mais um novo agrotóxico liberado no Brasil chamado pelo nome estranho de Florpirauxifen-Benzil e que nem está no cadastro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, considerado excessivamente tóxico e nocivo aos animais marinhos!

O agrotóxico chega às nossas mesas pelo alimento! E, essa linha de transmissão tem potencial para surgir uma sociedade com graves problemas de saúde. Entre as doenças que tais venenos podem trazer estão: a depressão crônica, doenças cardíacas, doenças renais e câncer, que atingem os consumidores e principalmente os agricultores – os primeiros a serem contaminados. Segundo a classificação desses produtos em listagem publicada no Diário Oficial da União (DOU), 17 são extremamente tóxicos, cinco pouco tóxicos e um altamente tóxico. E 27 desses produtos são perigosos ao meio ambiente e 18 são muito perigosos.

É bom ressaltar que por trás da liberação dos agrotóxicos está a lógica de governo, centrada no agronegócio, na comida tratada como commodities e voltada financeiramente às transnacionais do setor. Em nome do lucro elas precisam se expandir e mais hectares plantados demandam mais defensivos. Ou seja, o agronegócio é tratado como salvação da lavoura, enquanto na verdade, é uma ameaça à saúde e ao meio ambiente.

Está na hora de repensarmos a produção de alimentos, passando pela questão fundiária. E debater a importância da agroecologia como alternativa saudável para o planeta e para nós. A agricultura familiar ocupa uma área de apenas 24,3% da área total destinada à produção agrícola. Há uma concentração fundiária e uma distribuição desigual de terras no Brasil que revelam um enorme abismo entre o minifúndio e latifúndio. A agricultura familiar tem condições de crescer e ganhar mais espaço, ser mais orgânica, e sem uso de defensivos agrícolas. Ou seja, além de envenenar as brasileiras e os brasileiros, Bolsonaro corta a verba para a saúde para que não haja condições de, ao adoecer, procurar o SUS que está sendo desmontado!

Em contraponto a esta ideia predadora e maléfica ao planeta e aos seres que o habitam, vemos a região Nordeste e especialmente o estado de Pernambuco apresentar resultados notáveis nessa área. Segundo dados do governo do estado, das mil e onze iniciativas de uso racional dos recursos naturais na produção, 160 são desenvolvidos em Pernambuco que lidera a lista de práticas agroecológicas no País, segundo estudo realizado pela Organização Não Governamental Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). São ações que diferem da agricultura convencional em vários pontos. Além de não utilizar veneno ou produtos químicos para controle de pragas, não usam sementes transgênicas.

A agricultura familiar tem papel central e efetivo na construção do desenvolvimento sustentável, sendo uma possante alternativa de produção de alimentos ambientalmente saudáveis para o País. Mas seu desenvolvimento efetivo dependerá de uma nova política do Brasil para o campo, que leve em conta a saúde da população, o respeito ao meio ambiente e as condições dos agricultores. Infelizmente, este governo de Bolsonaro opta e se move na direção do agronegócio, sem atentar para a gravidade dos agrotóxicos e sem qualquer demonstração de apreço por opções ecológicas e socialmente justas.

Lute pela vida e pela saúde!

Lute pela democracia!

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