As novas tecnologias e o controle do “eu”

As novas mídias podem levar tanto a uma liberdade de expressão e informação cada vez maior, como a formas de repressão jamais vistas

As novas tecnologias, mídias e redes sociais possibilitam novas formas de expressão e a democratização da circulação de informação. No entanto, vivemos em um mundo onde a posse das mídias está cada vez mais centralizada e monopolizada, com concentração de interesses econômicos de grandes grupos de comunicação, que em geral priorizam os negócios financeiros em detrimento da efetiva liberdade de expressão e acesso à informação e conhecimento. Para se ter uma ideia, em nosso país, cerca de uma dezena de famílias domina a quase totalidade da posse dos jornais, revistas, televisões e rádios.

Porém, é importante ressaltar que a liberdade de manifestação e expressão não se dá apenas pela existência das novas tecnologias e mídias. A mesma tecnologia que permite qualquer ser humano seja um protagonista da comunicação também possibilita que grandes empresas, governos e órgãos de controle e repressão mapeiem, de forma mais eficaz do que qualquer outra já existente até hoje, onde as pessoas estão, que palavras elas usam (não só em seus blogs e redes sociais, mas em seus e-mails pessoais e conversas privadas em comunicadores e mensagens de texto, áudio e vídeo), assim como a localização das pessoas, a hora em que estiveram em determinado lugar e com quem estiveram. Além, é claro, de ouvirem e verem através dos microfones e câmeras dos cada vez mais multipresentes dispositivos nas casas das pessoas.

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Todas essas informações são obtidas através da coleta de dados em larga escala, incluindo a hora exata e a localização georreferenciada de cada interação. Esses dados são então cruzados com palavras e opiniões que você expressa, pessoas que você adiciona ou segue, pesquisas que realiza e suas preferências comerciais, eróticas e políticas. Essas informações são então utilizadas para alimentar um poderoso acúmulo de dados conhecido como Big Data, que é processado por algoritmos cada vez mais avançados, capazes de classificar, cruzar e tabular informações de forma inteligente.

Como isso tudo é utilizado? Além dos evidentes usos comerciais para as propagandas que nos invadem, poderá ser cada vez mais usado para vigilância e controle tanto da criminalidade quanto de ativismo social e o que mais se desejar. Hoje, a maior parte do uso dessas tecnologias inteligentes de manipulação das pessoas e das massas é feita por grupos de extrema direita, que souberam se apropriar, d’après Goebbels, do uso de técnicas de propaganda para disseminação de mentiras e distorções com o objetivo de manipular a opinião pública, que foi uma das principais estratégias utilizadas pelo regime nazista e que levou, nos dias atuais, às vitórias eleitorais do Brexit, de Trump e de Bolsonaro.

Freud, já há 100 anos, em sua obra “Psicologia das Massas e Análise do Eu”, abordou a dinâmica das massas e como as emoções e ações individuais são influenciadas pela psicologia do grupo. Ele argumenta que as massas possuem uma mente coletiva, que é diferente da mente individual, e que as emoções e comportamentos das massas são influenciados por fatores como sugestão, emoção e identificação com o grupo.

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Em outras palavras, assim como a metalurgia possibilita a construção de meios de transporte para facilitar a vida de todos, mas também permite a fabricação de armas de morticínio cada vez mais letais, as novas mídias podem levar tanto a uma liberdade de expressão e informação cada vez maior, como a formas de repressão jamais vistas.

O “front” das fake news e da ciência, tecnologia e inovação é muito amplo e exige nosso estudo mais aprofundado, para cumprir de forma mais efetiva os desafios e terefas que assumimos como protagonistas políticos.

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