As cores do PIB e da Imprensa

Quando da invasão ao Congresso Nacional, promovida pelo MLST, a grande mídia, tradicionalmente intolerante e discriminatória para com os movimentos sociais, municiada por tendenciosas informações de parlamentares da oposição ao governo Lula, foi implacáve

Induzia o leitor a acreditar que o governo Lula remunera “grupos de delinqüentes” para que ameacem as Instituições. Somente não fica muito claro em que objetivo residiria esse interesse do Planalto. Não é nenhuma novidade o fato de a mídia estar sempre tentando criminalizar a esquerda, em especial os movimentos sociais, com especial destaque para o movimento dos trabalhadores sem-terra.


 


Por outro lado, conforme noticia o jornalista Nelson Breve, da revista Carta Maior, fita apreendida mostra que a “barbárie” não foi premeditada e que o conflito ocorreu porque a ocupação foi mal planejada, pois não previa mudança de planos para situações imprevistas. Concorreu, em grande monta, o despreparo do setor de segurança do Congresso Nacional. Isso, conforme relato do jornalista, está claro na fita de uma hora e dezoito minutos de gravação apreendida pela Polícia Legislativa.


 


Não é demais lembrar que, através das investigações promovidas pela CPMI da Terra, revelou-se que entidades ligadas aos grandes proprietários de terra, como CNA e OCB, receberam volumes de recursos muito maiores do que os destinados às entidades ligadas aos trabalhadores. Enquanto a CNA e OCB receberam um bilhão e 50 milhões de reais no período entre 1998 e 2005, as entidades ligadas aos trabalhadores (ANCA, CONCRAB e ITERRA) receberam apenas 40 milhões de reais. Isso, deliberadamente, não é informado aos leitores. Há uma seletividade estratégica para a importância dos fatos noticiáveis.


 


Também passou quase “em branco” um fato de significativa dramaticidade e gravidade que ocorreu em fins de junho de 2005: as entidades patronais, “uderreanas”, realizaram um famoso “tratoraço”, em Brasília. A turba não somente sitiou o Congresso Nacional, na Praça dos Três Poderes, com enorme constrangimento para parlamentares e funcionários do legislativo, como também provocou graves danos ao trânsito local. Ninguém foi preso. Nem houve tanta repercussão pela imprensa. A não ser a apologia às reivindicações – as intermináveis farras de perdões e alongamentos das dívidas realizadas com o dinheiro público – dos “com-terras” que, no evento, eram liderados pelos grandes latifundiários e mega-empresários do setor. Não há, em nenhum espaço da nossa mídia, o menor registro dos mais de um bilhão com que o governo generosamente contempla as entidades patronais do setor.



 
Mais: a mídia não dá uma única linha a respeito do motivo da manifestação dos sem-terra no Congresso Nacional. Talvez porque já dura mais ou menos 500 anos e ninguém parece se importar. Haveria uma reivindicação justa? Vejamos pelo menos um aspecto do relatório sobre os Crimes do Latifúndio, elaborado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, Centro de Direitos Humanos Evandro Lins e Silva e Instituto Carioca de Criminologia, informou que menos de 50 mil proprietários rurais possuem áreas superiores a mil hectares, controlando 50% das terras cadastradas. Cerca de 1% dos proprietários rurais detêm em torno de 46% de todas as terras.


 



Outro aspecto: dos aproximadamente 400 milhões de hectares titulados como propriedade privada, apenas 60 milhões de hectares são utilizados como lavoura. O restante das terras estão ociosas ou sub-utilizadas. Segundo dados do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), há cerca de 100 milhões de hectares de terras ociosas e cerca de 4,8 milhões de famílias sem-terra no Brasil. Ainda, conforme o Incra: entre 1992 e 1998, a área ocupada pelos imóveis maiores de dois mil hectares foi ampliada em 56 milhões de hectares, quase quatro vezes mais do que os 14,3 milhões de hectares desapropriados em sete anos de governo FHC.


 



A grande mídia tem uma grande tendência a repercutir seletivamente os fatos, principalmente no interesse do seu objetivo político. Para isso, conta com os instrumentos de dominação que foram secularmente plantados no arcabouço institucional. A mídia alternativa costuma encontrar intransponíveis barreiras à sua livre expressão, principalmente quando divergente da ideologia conservadora. Assim, com a ajuda de equivocada (ação deliberada?) decisão do TSE, a mais nova revista semanal, Revista do Brasil, órgão ligado às instituições de trabalhadores, foi retirada de circulação. Motivo formal: prática de conduta ilícita, porque algumas das matérias visavam “ressaltar a suposta força eleitoral do atual presidente da República, ao informar que seu governo não desmantelou programas sociais e não privatizou direitos sociais e culturais”. Além disso, alegava-se uma suposta “panfletagem eleitoral” em favor de Lula e “propaganda negativa” em relação ao candidato Geraldo Alckmin, referência à matéria sobre as CPIs contra o candidato tucano que foram engavetadas pela Assembléia Legislativa de São Paulo. Como se vê, a revista Veja e os jornalões mais conhecidos detêm a exclusividade de fazer “panfletagem eleitoral” e “propaganda negativa”. É a liberdade de imprensa em mão única.


 



Mais seletividade, panfletagem eleitoral e propaganda negativa, em mão única: a capa do Correio Braziliense do sábado, 5 de agosto, trás como principal manchete a prisão, pela Polícia Federal, de parte significativa da cúpula dos três poderes de Rondônia. Deixando de informar, como jamais deixa de fazer em outras coberturas, que quase todos os políticos envolvidos pertencem à base de apoio ao candidato Alckmin naquele Estado e que, além do mais, nenhum integrante daquela máfia é filiado ao PT. A segunda manchete revela que as doações para a campanha do Presidente Lula ficaram aquém do esperado. Nem uma manchete ou chamada, de capa, sobre a pesquisa revelada na noite anterior que apontou uma provável vitória da reeleição de Lula já no primeiro turno.


 


 
Dia seguinte (Domingo é sempre dia de se inventar ou de se requentar notícias antigas), o jornal volta a atacar de crise das sanguessugas informando que o empresário do caso – e esses bandidos são sempre tratados como heróis pela mídia quando interessam aos seus objetivos – teria financiado o caixa-2 de 14 parlamentares. Também não informa as filiações partidárias desses parlamentares. Já sabemos porque. Nesse mesmo fato, alardeia-se que a maioria dos parlamentares envolvidos pertence à base de apoio ao governo. Mas, que governo? A máfia se organizou desde 1998 e esses mesmos parlamentares – não esqueçamos disso – também pertenciam à base de sustentação do governo passado.


 


O jornalista Franklin Martins continua com a razão: “A imprensa e o PIB brasileiros estão ao lado do candidato tucano”.

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