Apontamentos de conjuntura (2)

Comentários pontuais para novas inquietudes. A energia nuclear é apenas uma pequena parte, da ordem de 10%, das preocupações energéticas do nosso país, e pode ser muito importante para a equação energética regional dos estados do RJ e SP. Menos má a soluç

Entretanto, ficamos dependentes da tecnologia externa. A núcleoenergia se insere, hoje, com mais força, nos projetos de desenvolvimento de energias alternativas. Demanda que decorre do deslanche de crescimento da nossa economia que, como já vimos, após mais de 20 anos de estagnação, está duas vezes maior do que a dos EUA e a da Europa.


 


 


Por outro lado, a produção de bioenergia será tarefa particularmente espinhosa face à grande demanda que se anuncia. Tanto pelo incessante crescimento do seu uso interno quanto pelas novas investidas externas. Bom para a economia brasileira? Haja esforço para controlar em nossas continentais extensões uma desenfreada corrida na produção de matéria-prima. Prováveis prejuízos à produção de alimentos, aumentando, mais ainda, o preço da cesta básica familiar. Para piorar, os conhecidos problemas das perversas relações de trabalho e de agressão ao meio-ambiente que a cultura da cana-de-açúcar costuma causar. A preocupação é consenso para estudiosos no mundo inteiro, depois de o presidente Fidel Castro, por bem saber das coisas, haver alertado.


 


 


Sobre o desenvolvimentismo em uma ou outra fase da ditadura militar, questiono e condeno o seu caráter elitista-concentrador (“primeiro, deixar o bolo crescer…”, dizia-se) e a sua atrelagem automática à política expansionista-predadora de Washington. Como conseqüência, uma perversa concentração de renda ainda hoje de difícil solução. Esta tendência é, sem dúvida, parte da origem do “sucateamento” das nossas instituições, a exemplo das Forças Armadas, da Educação, da Saúde. Uma acumulada priorização do “mercado” a atrasar no setor público o aporte de novas tecnologias e a desestimular a correta remuneração, a habilitação e o aperfeiçoamento profissional.


 


 


Navegar contra essa tendência tem sido um dos grandes desafios do atual governo. Portanto, é errado e injusto lhe atribuir uma pretensa falta interesse em suprir tanta deficiência acumulada e, ao mesmo tempo, afirmar que há uma deliberada intenção de humilhação ou de vingança. O que há é a cristalização de uma cultura que reflete a onda neoliberal que assolou o mundo, pressionando a adoção de um estado-mínimo, portanto um estado fraco. Como resultado, grande avanço na vulneração do patrimônio estratégico nacional e na debilitação de nossas instituições. As Forças Armadas no meio. Carlos Menen e FHC conduziram essa privataria em Nossa América. Uma tragédia para nações carentes de crescimento como a nossa.


 


 


O cartão vermelho dado à RCTV na Venezuela abre espaço para revisão do que se entende por “imprensa livre”. Uma concessão do poder do Estado a pregar abertamente a derrubada desse mesmo poder. Agressão explícita à Democracia. No mesmo viés, discordo da explicação dada para a queda de Collor. Certamente ela não se deu pela força da “imprensa livre” enquanto representativa da opinião pública. Isto ela há muito tempo já não representa. E a liberdade de expressão anda na contramão da ética, atrelada aos grupos políticos e/ou econômicos. Collor caiu porque contrariou os interesses dessas mesmas forças que lhe puseram no Planalto. Já não mais lhes servia.


 


 


A Rede Globo muito se parece com a RCTV: veja-se a tentativa de linchamento público do governo Lula em vários episódios, notadamente na recente crise da aviação comercial. Em janeiro, nas obras da futura estação do metrô, em Pinheiros, uma enorme cratera matou sete pessoas, desalojou famílias. Até hoje o governo estadual não concluiu as investigações, não apontou as causas, nem os responsáveis pela tragédia. O fato já não mais interessa à mídia nem à tucanalha. Imprensa “livre”? Neste caso, estão envolvidos, em consócio, os principais consumidores de sempre do dinheiro público no país: Odebrecht, Camargo Correia, OAS, Mendes Júnior. “Coincidentemente”, os maiores financiadores, também de sempre, de campanhas eleitorais e da mídia no Brasil.


 


 


Não consigo pensar em suposta força venezuelana de quem, hoje, nossas Forças Armadas “apanhariam”. Vejo-a como mais uma força a se somar no caminho da integração regional em benefício de cada um e do conjunto e, portanto, um passo significativo no enfrentamento das adversas relações internacionais. Por isso, nossos decrépitos senadores querem atrapalhar e nossa mídia “livre” também quer (vide os comícios diários da Mirian Leitão, do Alexandre Garcia, entre muitos outros, nos “partidos” da Tv Globo e de outras mídias). Fiéis escudeiros de interesses externos contrariados pela perspectiva do fortalecimento do Mercosul e da integração regional.


Outra questão a se colocar nos trilhos é a necessidade pós-constituinte do poder executivo somente funcionar com o apoio de uma “base aliada”. Muita gente vem sendo “base aliada” desde os tempos da ditadura. Veja-se Marco Maciel, ACM… Somente largaram a rapadura no atual governo. O senador Renan foi ministro da justiça de FHC e hoje é peça fundamental, não digo insubstituível, do governo Lula. Idem Jobim. Coisas de “base aliada”. É que a constituinte de 88, que produziu inestimáveis avanços para nossa cidadania, produziu alguns monstros insanos, como um caráter parlamentarista de governo casado com um regime presidencialista.


 


 


As vaias ao presidente Lula, combinadas com aplausos ao prefeito César Maia, no âmbito do estádio Maracanã, na abertura do PAN, ambiente tradicionalmente festivo, ecumênico, harmônico e apolítico, não podem ser simplificadas em seu significado como impopularidade presidencial. O universo presente ao evento comprou ingressos a 150 e 250 reais. Os ingressos de 20 reais foram distribuídos pela prefeitura de quem? Coincidentemente, foi a prefeitura de César Maia, com popularidade em baixa no Rio e aplaudidíssimo no estádio Maracanã, quem coordenou a seleção do exército de voluntários que vem trabalhando no PAN. No Youtube vem circulando um vídeo do ensaio da abertura do PAN em que se percebe, com perfeita audição, o ensaio das vaias.


 


Em nossa pauta, mais assuntos, como: gestos “obscenos”, Urubush, Drácula. Acharemos tempo.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor