Anistia, não!

Defender a democracia neste momento histórico e concreto significa exigir e gritar a plenos pulmões: Anistia, não!

Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Brasil, perplexo e indignado com quatro anos de desgoverno e canalhices institucionalizadas, se uniu em ampla frente política para derrotar Bolsonaro nas urnas em 2022. Lula e Alckmin foram a expressão política e eleitoral desta unidade e de uma histórica vitória.

Contudo, os mais atentos já sabiam que a derrota eleitoral de Bolsonaro não traria como subproduto imediato a derrota do que se convencionou chamar de bolsonarismo. Mesmo porque este movimento conseguiu importantes vitórias nos demais cargos nesta disputa eleitoral. Este movimento se constituiu como força social com relevante base social, desenvolveu uma cultura, uma ideologia,  método e política próprios. E nisso o bolsonarismo não é uma jaboticaba: trata-se de fenômeno global, que tem a ver com inédita e intensa comunicaçao digital – a globalização da idiotice – e com os limites da democracia liberal. Assunto para reflexão apartada deste texto.

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Derrotado nas urnas, o bolsonarismo fora do poder ataca, usando sua mobilização de massas, presença no aparato do Estado e forte esquema de financiamento. E de novo os mais atentos sabiam que isto aconteceria, questão de tempo, caso prosperasse a lerdeza na punição ou a hipotese da anistia aos que desde há muito são autores intelectuais, provocadores e agitadores, prevaricadores, omissos ou executores diretos de toda sorte de atentados contra a democracia e suas instituições.

Este ovo de serpente foi parido ainda em 2013, quando – hoje sabemos melhor – fascistas se misturaram com anarquistas e esquerdistas extremistas para solapar os políticos e a política indiscriminadamente, expulsando forças, símbolos, cores e pessoas daqueles atos, montados num sentimento legítimo de impaciência do povo. Estava ali embarcada, sendo também expulsa, em meio à neblina ideológica dos atos, uma democracia frágil e adolescente. O resto já é história.

O impeachment de Dilma, a prisão de Lula, o assassinato de Marielle, o genocídio durante a pandemia, o negacionismo, Jovem Pan cometendo crimes, Daniel Silveira com indulto, blogueiros criminosos foragidos, atos abertamente pedindo golpe, Roberto Jefferson sorrindo com agentes públicos após fuzilar viatura da PF, Zambelli zombando do STF, generais com e sem pijama desrespeitando a Constituição, hordas de criminosos colocando fogo em veículos e tentando invadir a PF em Brasília, acampamentos em todo o Brasil em frente a quartéis pedindo intervenção contra a democracia… Em tudo isto, e muito mais, um fator comum e encorajador: a impunidade.

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E é por isso que a reação da sociedade aos atos criminosos e inaceitáveis contra os três poderes que vimos neste domingo em Brasília não pode se restringir à defesa difusa da democracia. Devemos defender uma democracia que saiba se defender de quem a quer morta. E defender a democracia neste momento histórico e concreto significa exigir e gritar a plenos pulmões: Anistia, não!

O oxigênio que nossa democracia precisa para seguir respirando e com vitalidade é a punição exemplar a todos que, direta ou indiretamente, quebraram as vidraças dos três Poderes e ousaram tocar e macular o texto original da Constituição de 1988. Povo na rua! Anistia, Não!

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