Aliado G: Um exercito com 17.337 guerreiros

Salve!



Escrevo em primeiro lugar porque preciso dizer 17.337 vezes obrigado! Preciso agradecer a cada voto, a cada um que acreditou, cada guerreira e a cada guerreiro que no dia 1º de outubro foi até as urnas e digitou para deputado es

Dezessete mil, trezentos e trinta e sete votos é muito voto, mas não o suficiente para eu ser eleito deputado estadual em São Paulo.



Tenho recebido muitas mensagens, telefonemas e tenho encontrado com muita gente que me diz: – Valeu Aliado, votei em você!



Muitos perguntam o que vem agora? Outros se preocupam em saber como estou e o que estou fazendo…



Eu enxerguei no mandato de deputado a possibilidade de termos uma arma. Se até hoje íamos para guerra de estilingue, conseguiríamos com este mandato um fuzil G3. Não contar com este instrumento é sem dúvida uma grande perda, mas não é de modo algum o fim da luta.



No dia primeiro de outubro, dia das eleições, acompanhei a apuração com minha família voto a voto. E no final da noite senti um misto de tristeza e alegria.



Alegria por saber que posso contar com a confiança de 17.337 pessoas. Tristeza pelas mesmas 17.337 pessoas que acreditaram, foram para as urnas, votaram, pediram voto, fizeram atividades, debates, panfletaram, se esforçaram… Essas pessoas mereciam a vitória, mas só posso pedir para cada um de vocês, paciência. A paciência revolucionária, pois a chama da liberdade permanece acesa, no coração de cada um de nós. No coração de 17.337 guerreiros de fé. E um guerreiro de fé nunca gela.



Quero dizer uma coisa pra vocês. Quero dizer que estou extremamente satisfeito. Satisfeito por ter feito dessa campanha uma verdadeira escola de guerrilheiros.



Enquanto escrevo, revejo em minha memória cada cena, cada rosto, cada lugar que visitei, como num filme visto em câmera lenta. Me emociono, lembro de momentos que começava a falar com as pessoas, e começava a chegar cada vez mais e mais gente. Quando me dava conta tinha até crianças muito pequenas com chupeta na boca olhando atentamente pra mim. E eu estava explicando coisas como o funcionamento do processo eleitoral brasileiro. Que coisa louca!



Isso me faz acreditar que é possível construir outra realidade. Tenho muito orgulho de saber que foi assim que conquistamos cada um dos votos. Sem medo de ninguém que queira zombar: – Mas o Aliado G teve pouco voto!



Quem disser isso está enganado, pois não tive pouco voto, eu tive exatos 17.337 votos, e nenhum deles foi comprado.



Quem achou que perdemos, errou. Quem achou que eu abandonaria o rap, errou. Quem achou que eu não voltaria nas cidades por onde passei durante a campanha, errou. Quem se acovardou, errou. Quem conspirou, errou.



Neste momento estou compondo letras do novo disco do Face da Morte. O som logo mais estará batendo nas caixas. O grupo continuará com a mesma postura que sempre tivemos nestes 12 anos. Muitas das coisas que vivi, das lições que aprendi percorrendo este estado durante a campanha estão retratadas nestas letras.



A Nação Hip-Hop Brasil, passou a ser reconhecida em todo canto do estado de São Paulo. Assim como é no restante do país, a entidade teve papel fundamental não só em minha campanha, mas também no Rio Grande do Sul onde minha aliada Manoela foi eleita a Deputada mais votada do estado com muito voto da periferia e do movimento hip-hop. A Nação Hip-Hop Brasil foi fundamental também no Ceará onde meu parceiro Bob PTG teve uma expressiva votação com uma campanha parecida com a nossa aqui em São Paulo. Com recursos modestos, mas com muita vontade, muita luta e militância.



Este momento eleitoral foi também um processo muito interessante para sabermos quem é quem. E me sinto privilegiado por ter tido o apoio de pessoas como MV Bill, Mano Brown, Rappin Hood, DBS, Paulo Brown, Marcão, Nega Gizza, Lecy Brandão, Dudu Nobre, Gilberto Gil entre muitos outros. Preciso agradecer a cada um desses apoiadores, que não receberam cache algum e me apoiaram porque acreditaram no projeto e no nosso trabalho.



Quando olhamos num passado recente, temos noção do quanto somos agente da história e quanto evoluímos. Há alguns anos, eu dava uma entrevista aqui mesmo no Hip-Hop a Lápis, foi o texto de estréia da seção. Na ocasião Lula era candidato disputando a presidência contra o José Serra. Fui perguntado em quem votava e não só disse que votava no Lula. Como também contei que meu pai assim como o Lula também é metalúrgico e me dizia quando eu era criança que quando o Lula for presidente ele poderia me dar a bicicleta que eu tanto queria.



Hoje, passado quatro anos, eu volto aqui neste mesmo espaço, o Hip-Hop a Lápis que naquele momento engatinhava se tornou livro e depois Ponto de Cultura. O Lula que eu manifestei apoio naquela entrevista, se tornou presidente da república e candidato a reeleição com 62% de intenções nas pesquisas. Durante o meu programa de TV quem diria, o mesmo Lula apareceu dizendo o slogan de minha campanha: ''Somos Todos Aliados''. Sobre a bicicleta, não é mais necessário que meu pai me dê uma para que eu perceba que a vida do pobre melhorou com um presidente que venceu com a força do povo.



Domingo agora dia 29 de novembro é a eleição do segundo turno, e agora ''Somos Todos Lula''.



Quando eu propus durante minha campanha que as revistas nos presídios sejam semelhantes as dos aeroportos, com esteira de raio x e detector de metais, pois as mães, as esposas e os parentes dos detentos não cometeram crime algum e deve ser tratado com respeito. E mesmo sem o mandato eu vejo que o projeto foi incorporado no programa de governo do presidente Lula e também do candidato a governador Aloisio Mercadante. Passo a ter a certeza de que a batalha eleitoral não foi em vão.



Não foi em vão sobretudo porque durante a campanha, muitos passaram a integrar a Nação Hip-Hop Brasil, outros se filiaram na UJS a maior organização do mundo fora do poder da qual também faço parte, outros ainda conheceram melhor o PCdoB, partido do qual sou filiado e tem 84 anos de luta contra as mazelas do capitalismo. Por tudo isso, não foi em vão!



No começo da campanha escrevi uma carta endereçada ao movimento hip-hop, nela disse de forma bem clara e repeti isso durante toda a campanha. Que eu não prometo nada, mas assumiria um promisso e disso poderiam me cobrar. O meu compromisso é com a luta, muita luta.



Posso não ter me tornado deputado, mas lutar não deixarei de fazer nem por um instante.



Muita luta!



Somos Todos Aliados!

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