Ainda sobre a saída das tropas do Iraque

Em mais uma das suas visitas surpresas ao Iraque, como se fosse um imperador, George Walker Bush, presidente dos Estados Unidos declarou, para surpresa de muitos, que deverá reduzir as tropas estadunidenses que ocupam esse país desde maio de 2003.

Um beco sem saída


 


 


Esta é a terceira viagem de Bush ao Iraque. Todas elas foram surpresas, sendo que a primeira ele chegou a passar o natal de 2003 com os soldados americanos das tropas de ocupação, na cidade de Bagdá. A peculiaridade desta é que é a primeira fora da Capital. Ela deu-se na província de Anbar, na base militar de Al Asad.


 


 


Bush chegou acompanhado pelo seu Secretário de Defesa, Robert Gates, ex-presidente da CIA e pela Secretária de Estado, Condoleeza Rice, pessoas de sua extrema confiança. Talvez hoje inclusive as últimas de seu chamado núcleo duro (Bush vem perdendo diversos assessores conservadores, que vão abandonando o seu barco, de olho na derrota que os Republicanos terão em 2008).


 


 


A oposição do Partido Democrata criticou a visita como sendo apenas campanha e marketing, para angariar simpatias para o Partido Republicano de Bush, pois no ano que vem haverá eleições presidenciais e tudo indica que o Partido de Bush perderá as eleições fragorosamente. É parte da verdade que a visita tem componentes publicitários, pois isso mostraria para a opinião pública que Bush esta no comando, se preocupa com suas tropas e dá atenção e assistência de forma direta, sem intermediários.


 


 


No entanto, isso é só uma parte da verdade. Bush foi para essa província, que fica em meio a uma imensa região dominada pelos Sunita, para se reunir com o comandante em chefe das forças de ocupação no Iraque, general David Petraeus e com o embaixador americano nesse país, Ryan Crocker. E a questão central é debater o relatório que ambos irão apresentar junto ao Congresso americano na semana que vem, mais precisamente nesta terça-feira, dia 11 de setembro. Na mesma semana que vem, a própria Casa Branca deve apresentar o seu relatório aos congressistas. É tempo de afinar as versões.


 


 


Nesse sentido, há diversas especulações sobre o conteúdo do relatório militar. Se ele iria falar de retirada de tropas imediatamente ou se falaria em retirada em longo prazo. Como nossos leitores devem se lembrar – comentamos isto no início do ano – entre janeiro e fevereiro Bush aumentou em mais trinta mil homens no Iraque, elevando para mais de 160 mil soldados, especialmente reforçando a segurança na Capital, Bagdá e na Zona Verde, onde fica o governo iraquiano de apoio à ocupação e as embaixadas dos países.


 


 


Pessoalmente, aposto em que o general Petraeus deve mencionar a palavra retirada, mas não antes de julho de 2008 ou ainda além. Arrisco a dizer que mesmo se os democratas vencerem as eleições, sabe-se lá se com Hilary Clinton ou Barak Obama, a retirada na se consumará de imediato, até porque todos sabem que acaba imediatamente o tal governo do primeiro Ministro Nour El Maliki.


 


 


Até o novo primeiro Ministro britânico, Gordon Brown, que vem procurando se diferenciar de seu antecessor Tony Blair, tem manifestado desejo de retirar as tropas inglesas de ocupação do país, desejo da imensa e esmagadora maioria da população da Inglaterra. Agora mesmo, nesta semana, o exército britânico entregou às forças de segurança iraquianas a administração da segunda e mais importante cidade do Iraque, que é Basra.


 


 


Polêmica com Paul Bremer


 


 


 


Esse cidadão é de triste memória. Ele foi uma espécie de vice-rei do Iraque entre maio de 2003 e junho de 2004. Seu cargo oficial era o de Administrador Geral dos Estados Unidos no Iraque. Bremer governou com a mão de ferro.


 


 


Na semana que passou, mais uma biografia de George Bush saiu publicada no mercado editorial americano. Trata-se de Dead Certains (Absolutamente Convicto, publicado pela Free Press). O conteúdo da obra leva o tom oficialista pelo fato que o biógrafo é Robert Draper e a obra foi escrita quase que exclusivamente com base em depoimentos que o próprio Bush concedeu ao escritor.


 


 


A questão polêmica central da polêmica é sobre o desmonte, a destruição, a desmobilização de todo o exército iraquiano, que era altamente profissional. Na obra em tela, Bush parece dizer que não sabia da decisão de Bremer de desmontar o exército, colocando na rua da amargura, na miséria e mesmo empurrando centenas de milhares de soldados para a oposição e para a resistência, no combate às tropas de ocupação.


 


 


A tese de Bremer é que Bush sabia sim da decisão de desmontar o exército, como foi implementada a decisão de banir de toda a vida pública do país membros do Partido Baath (Socialista Árabe). Hoje essa decisão vem sendo amenizada, no sentido de assegurar que ex-baatistas possam participar da política e ter cargos público no país. Esse desmentido público partindo de bremer deixa o presidente em uma saia justa.


 


 


Não tenho dúvidas que a ordem do desmonte, do desmantelamento – ainda que profundamente equivocada do ponto de vista até mesmo dos ocupantes – foi dada mesmo diretamente pelo próprio presidente, pois bremer não teria autonomia para uma decisão dessa magnitude.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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