Agenda positiva

Bom seria se o decantado espírito natalino e os bons augúrios desse início de ano pudessem contaminar os meios de comunicação para que eles levassem ao povo brasileiro predominantemente as mensagens de esperança contidas em muitos fatos positivos, pouco r

Dessa forma, haveria uma correspondência dos fatos noticiados com o perfil de recente levantamento realizado pelo Datafolha sobre o sentimento desse mesmo povo quanto à sua expectativa de felicidade. Nossa pretensão parece uma tarefa difícil uma vez que a própria Folha de São Paulo não se interessou muito pelo resultado de sua pesquisa. Talvez porque a candidatura oficial a reeleição fosse pegar carona como beneficiária dos resultados, o que, evidentemente, contrariava o interesse político do jornal.


 


A pesquisa revelou, por exemplo, que aproximadamente 8 brasileiros, em cada 10, consideram-se felizes, 1 não sabe definir bem seu sentimento de felicidade e outro, apenas 1, declara-se infeliz. Parece justo supor que entre esses últimos esteja a própria mídia, tal o tamanho do seu mau-humor refletido em má-vontade na divulgação de notícias com alto astral. Ao leitor e ouvinte mais atento foi possível garimpar fatos positivos importantes em meio ao cipoal de estrondeantes notícias a respeito de inoportunas pretensões pecuniárias de desacreditados parlamentares, sobre a movimentação do banditismo urbano no Rio e a respeito de homéricas trapalhadas no setor aeroviário. Abramos a agenda positiva.


 


Na última quinzena do ano, o Brasil ganhou Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas que vai turbinar quase todo o segmento empreendedor brasileiro desse porte pela via da minimização da burocracia e do volume dos impostos, estimulando a criação de mais empregos. Os trabalhadores também ganharam um novo mínimo. A vigorar em 1º de abril, o valor de 380 reais, acordado pelos setores interessados, consolidará um aumento real de quase 33% nos últimos cinco anos. Benefício direto para mais de 40 milhões de trabalhadores brasileiros. Indireto para muitos outros. No mesmo embalo, as centrais sindicais fecharam acordo com o Governo para que a tabela do imposto de renda fosse reajustada, já em 2007, em 4,6%. No acordo, a elaboração de uma tabela de reajuste que será resultado do PIB e a inflação do período.


 


No dia 21, a multinacional Aracruz – cuja única atividade no Brasil é dependente da monocultura de eucaliptos, que produz graves e irreparáveis danos ao meio ambiente – foi condenada por causar, desta vez, danos morais coletivos. A empresa publicou material difamatório contra indígenas brasileiros, em sua página eletrônica e em outdoors espalhados na cidade de Aracruz, de caráter abusivo, distorcido e capcioso, estimulando ações de racismo. Vitória da Justiça contra o crime. No dia anterior, a Comissão de Trabalho da Câmara Federal aprovara projeto de fixação da jornada de ferroviários e metroviários. Embora tardia importante vitória da categoria. Pena que a mídia não anda de metrô.


 


Aprovadas a medida provisória que estabelece incentivos para o esporte e a que define novas regras para os alimentos transgênicos. Em comissão da Câmara, aprovado o PLC 105/06, importante instrumento de celeridade para os processos trabalhistas. Muito mais: promulgado o Fundeb, que vai garantir e ampliar os investimentos na educação básica, no ensino fundamental e creches. No Senado, aprovação do projeto de lei que atualiza mecanismos de isenção fiscal da Lei Rouanet e cria o Fundo Setorial do Audiovisual. A medida redefine regras para o incentivo cultural e injeta até 40 milhões de reais a mais no setor. E ainda permitirá às distribuidoras brasileiras independentes acesso aos mesmos mecanismos de financiamento que hoje só são acessíveis distribuidoras internacionais.


 


Nesses dias, foi lançado com sucesso o foguete russo que transportou o telescópio espacial Corot, um projeto francês com participação do Brasil e de outros países, que vai operar por 30 meses tentando achar planetas pequenos e rochosos, semelhantes ao planeta Terra, fora do Sistema Solar. É o Brasil participando dos novos descobrimentos e da tecnologia de ponta. Já no âmbito da euforia patrocinada pela virada do ano pôde-se comemorar o menor risco-país da história e recordes, também históricos, na bolsa de valores, na poupança do país em moeda internacional, na relação dívida/PIB e no saldo da balança comercial. Nesta área, o nível da inflação é a mais significativa e emblemática conquista dos brasileiros neste ano.


 


Além disso, dados IBGE, divulgados dia 20, mostram que as desigualdades sociais no Brasil estão diminuindo: enquanto o rendimento dos 10% mais ricos era 21,2 vezes maior que o rendimento dos 40% mais pobres em 1995, em 2005, essa relação passou para 15,8 vezes. Mais: entre 2004 e 2005, houve uma evolução positiva na renda do trabalhador, que subiu 4,6%. Some-se, ainda, o índice criado por pesquisadores do BNDES que une ranking da ONU ao de sustentabilidade e nosso país passa da 54ª para a 39ª posição em desenvolvimento sustentável. Em outra ponta, o Ministério da Cultura comemora aporte de recursos da Petrobras, triplicado para 2007, com destinações prioritárias aos editais de segmentos indígenas e negros e restaurações de patrimônios culturais. Não esqueçamos de que a cultura produz riquezas econômicas e bem-estar que giram em torno de 10% das riquezas brasileiras.


 


Em meio à pesquisa realizada pelo Datafolha, dia 13 de dezembro, em que a amostragem populacional concede ao atual presidente a melhor avaliação entre os ocupantes do cargo nos últimos 50 anos, há uma forte manifestação de expectativa positiva para o próximo mandato: 59% esperam que o governo seja ótimo/bom. Há razões técnicas para o otimismo: foram criados os pressupostos econômicos, principalmente de blindagem contra os fatores externos, para o destravamento desejado. No entanto, há uma profunda discordância desse sentimento com o que apregoam aqueles que se dizem formadores de opinião. É incorreto comparar nosso crescimento com o da Índia ou da China, muito menos do Haiti, pois não sabemos como, para crescer, eles tratam o meio-ambiente em suas estruturas de produção e não conhecemos seus padrões de justiça social. E sabemos pouco sobre o nível de satisfação dos seus trabalhadores.


 


É, portanto, a expectativa e a crença num desempenho melhor da nossa economia, com a responsabilidade e a garantia da busca permanente da diminuição do fosso social, que semeia uma forte coloração de otimismo na maioria do nosso povo. Não desejamos a nossa mídia fora da trincheira de cobrança de uma agenda positiva que permita o impulso prometido. Ela, entretanto, não tem o menor direito de esconder o sentimento positivo que vem das ruas.


 


(Com informações de: Agência DIAP, Folha de São Paulo, Notícias UOL, Valor Online, Agência Carta Maior).

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