A quem interessa um segundo turno?

A luta pela presidência da República tende a se acirrar a cada instante. O jogo duro acontece em todas as frentes. As oposições concentram todas as energias na tentativa de provocar um segundo turno, na contra-tendência do que têm revelado as pesquisas

Nada mais natural e compreensível. A perspectiva de ter Lula por mais quatro anos deixa oposicionistas, à direita e à “esquerda”, ansiosos. Aliás, quando estivemos (alguns integrantes da direção executiva nacional do PCdoB) com o presidente numa conversa matinal no Palácio da Alvorada, dia 29 de junho, ele, em meio a conjecturas acerca de uma desejável reforma política e eleitoral, a ocupar o rol das prioridades de 2007 em diante, especulava justamente nesses temos. “Penso que deveríamos acabar com a reeleição e estabelecer um mandato de cinco anos para o presidente da República”. Algum dos nossos sugeriu seis anos. O presidente, então, retrucou bem-humorado: “Seis anos é demais, a oposição ficaria muito nervosa”.


 


Nervosa está agora. Não apenas os partidos, mas outras instituições que compõem o sistema de contestação ao governo Lula. Como a mídia. Alguém tem dúvidas das intenções que estão por trás do espaço destacado, diário, no Jornal Nacional inclusive, que a Rede Globo tem dado à candidatura da senadora Heloisa Helena? Basta ver as manchetes a propósito da última pesquisa Datafolha: “Heloisa chega a 10% e pode levar o pleito a um segundo turno”.


 


Tudo bem, faz parte do processo. Apenas as análises deveriam ser feitas com mais rigor e respeito pelos leitores, ouvintes e telespectadores. Seria preciso assinalar que Alckmin obteve razoável crescimento na faixa de eleitores que se inclinava por Garotinho, que saiu da disputa, e que Lula se estabilizou em patamar que lhe daria a vitória “na primeira volta”, como dizem os portugueses.


 


E não é só isso. Tem também a natureza das intenções de voto no presidente, semelhante à aprovação do seu governo: trata-se de um eleitor mais ou menos amarrado, de uma opção que tende a se consolidar. O que não quer dizer, que se deva subestimar a possibilidade de alterações nas tendências ora manifestadas. Até porque a campanha propriamente dita agora é que vai começar. E aí a porca entorta o rabo, ou seja: variáveis como as repercussões das realizações do atual governo no seio da sociedade, e a visibilidade que alcançarão através do programa de TV e rádio; e o peso da amplitude das forças políticas (formais e informais) e sociais que apóiam a reeleição de Lula, etc. E, obviamente, a movimentação tática de cada uma das candidaturas competitivas.


 


Aos adeptos da reeleição do presidente, entretanto, não cabe subestimar nenhum obstáculo, nem os riscos inerentes a uma peleja dessa magnitude. Cabe, sobretudo, a mobilização de suas bases sociais, que pode ser decisiva. Isto porque, por mais importante que seja, e é, o palanque eletrônico, não substitui, nem dispensa, a movimentação do povo nas ruas.

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