A morte como símbolo de um governo genocida

O agricultor sempre foi símbolo de fartura e cordialidade. O governo Bolsonaro, no entanto, tenta imprimir violência até mesmo na imagem deste caricato personagem

Foto: Secom

Nada mais incompatível com a agricultura que uma arma. Agricultura é vida. Alimento é algo sagrado a todos os povos e nações, desde sempre.

Na mitologia grega, Deméter, a deusa da colheita e da fertilidade, era quem estabelecia o ciclo da vida. Cultuada como a “boa Deusa”, era homenageada em festivais que exaltavam a fertilidade.

Na Roma Antiga, Ceres era a deusa da agricultura. É em sua homenagem, inclusive, que deriva a palavra “cereal” que representa tantas espécies agrícolas importantes, dentre elas o arroz, o trigo, a cevada e o milho. Ceres também simboliza o amor maternal.

Exemplos pelo mundo todo, por diversas épocas, associam a agricultura à ícones e símbolos relacionados à vida. E em nosso país, até o presente momento, nunca foi diferente.

O agricultor brasileiro sempre foi uma figura querida por todos. Por vezes, até caricaturado como ingênuo, matuto ou desconfiado. Mas nunca como violento. É o personagem mais marcante de nossa história e, no imaginário popular, prevalece a cordialidade como marco essencial de sua personalidade.

Agricultor quilombola I Foto: Rômulo Serpa/MDA

Quem nunca foi convidado, pelo imenso interior de todo o país, mesmo sendo um estranho, a entrar para beber um café coado na hora por esse representante do campo brasileiro?

O agricultor brasileiro, há séculos, é retratado carregando uma enxada nas costas como representação do suado e digno trabalho do cultivo da terra. Jamais, em nenhuma ilustração, sua imagem foi vinculada ao belicismo de um jagunço portando um rifle ao ombro.

Tristes tempos em que vivemos. Até o agricultor brasileiro vai mudando de feição neste governo genocida de Jair Bolsonaro. Uma nova narrativa vai se impondo e mudando toda uma rica história marcada pela hospitalidade. Tudo neste governo remete à violência e ao confronto.

Há exatos 30 anos, desde quando comecei o curso técnico em agropecuária, me dedico a estudar a agricultura brasileira. Durante todo esse tempo aprendi sobre a história de vários símbolos e ícones que representam bem o homem do campo brasileiro. É a primeira vez que vejo uma arma.

Tanto o grande quanto o pequeno agricultor devem repudiar essa imagem que os retratam como um jagunço, um capitão do mato. Mesmo quem não carrega uma enxada no ombro, leva em suas costas um ofício que representa a vida em sua plenitude, a paz que só é alcançada com a supressão da fome. Jamais a morte.

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