A lição Boliviana e suas contradições
Publicado 09/05/2006 22:14
Isso permitiu às multinacionais adquirir reservas de petróleo, gás e ferro, eletricidade, telecomunicações e até mesmo a água, como no Amazonas.
O que ocorre na Bolívia e, provavelmente, se repetirá no Peru, com a vitória de Humala, é a expressão dessa contradição e não um fato isolado.
A British Gas, a francesa Total, a espanhola Repsol YPF, e a Petrobrás – responsável por 15% do PIB Boliviano e por quase 10% das reservas de gás do país – pagam 5 centavos de reais pelo m3 de gás. Comprariam toda a reserva de 680 bilhões de m3 com algo como 16 bilhões de dólares. Obtém lucros e correm riscos inerentes ao capitalismo, inclusive o de eventuais processos de nacionalização, como ocorreu em 1937,1969 e agora. São vítimas da política neoliberal.
A Bolívia é um país pobre, cujo PIB de 9 bilhões de dólares é menor do que os 18 bilhões faturado pela ZF de Manaus em 2005. Se não vender seus recursos naturais pelo menos por um preço justo, seu povo não terá perspectiva. É o que pretende fazer. O caminho escolhido talvez não seja o mais simples, mas eles não têm “um novo caminho, apenas um novo jeito de caminhar”, conforme ensina o poeta Thiago de Melo.
A grande lição desse episódio é que não se pode depender de recursos alheios em setores estratégicos. A Petrobrás precisa concentrar seus esforços no Brasil para, enfim, viabilizar o gasoduto Coari-Manaus, Coari-Porto Velho e a exploração da bacia de Santos, dentre algumas de suas grandes reservas.
Destilando um mal disfarçado ranço autoritário e expressando uma injustificada arrogância contra um povo irmão pobre, reconhecidamente frágil e sem maiores recursos bélicos, esses arautos do autoritarismo recomendam uma “ação enérgica contra a Bolívia em defesa dos interesses da Petrobrás!”.
Ah, como eu aplaudiria se essa “coragem” fosse contra uma ameaça real, digamos, os Estados Unidos. Mas para esse eles só batem palmas.
Como “a história não se repete, a não ser como farsa ou tragédia”, essa repentina mudança em relação à Petrobrás, que eles chamavam de “petrossauro”, está na categoria da farsa. Como?
Apesar de ter o controle administrativo da empresa, o governo só detém 32% de suas ações. Pequenos acionistas, incluindo trabalhadores, controlam 9%. O restante foi privatizado no governo FHC: 40% foi negociado em Wall Street e 19% foi parar nas mãos de especuladores como Daniel Dantas (Banco Oportunity), aquele que na CPI dos Correios recebia tapete vermelho da turma do PFL/PSDB.
Ainda bem que pouca gente tem saudades deles!