A ignorância sexual de dom Majella

O ex-presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal dom Geraldo Majella, disse que a educação sexual induz à promiscuidade. Foi mais um lance da verdadeira orgia obscurantista promovida por religiosos, aproveitando as câmeras e a


Como todos os bispos e o papa, dom Geraldo é declaradamente virgem. Isso sendo verdade, ele, provavelmente, não teve sequer iniciação sexual. Mas teme o desconhecido, segundo o que declarou à BBC, dia 9 de maio: “Favorecer uma educação (sexual), para quê? Para estimular a precocidade da criança, do adolescente, como no caso da camisinha. Será que isso é educativo? Isso é mau educativo, isso é mau informativo, é induzir todos à promiscuidade. Isso não é respeito à vida, nem ao verdadeiro amor. Isso é fazer com que o homem se torne um animal”.


 



A falta de educação sexual, como toda a falta de conhecimento, não fez bem ao dom Geraldo. Ele leu, em Gênesis, 1, 27: ”E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher”. Mas se o livro sagrado indica que os humanos se dividem em dois sexos, não explicitou que as preferências sexuais são em maior número (um espectro que vai da abstinência, louvada pela alta hierarquia católica, às mais variadas experiências com a mesma espécie, com outras espécies ou com objetos). Tivesse acesso à educação sexual, ainda púbere teria sido informado que existem doenças sexualmente transmissíveis, e que preveni-las é possível, sem que para isso seja necessário desistir do prazer sexual (sim, dom Majella, sexo pode ser um desejo, uma atividade e um prazer!).


 


Saberia mais, o religioso quando na pubescência. Seria informado que é através da relação sexual que a humanidade se reproduz, e aqui ele teria uma grande decepção: Não, não é possível a uma mulher virgem ter um filho, como lhe foi incutido, ainda criança. Assim como não é possível a conversa de uma serpente com uma mulher, como é relatado em Gênesis 3, 1-5 (''A serpente era o mais astuto de todos os animais do campo que Javé Deus havia feito. Ela disse para a mulher: 'É verdade que Deus disse que vocês não devem comer de nenhuma árvore do jardim?' A mulher respondeu para a serpente: 'Nós podemos comer dos frutos das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse – Vocês não comerão dele, nem o tocarão, do contrário vocês vão morrer. Então a serpente disse para a mulher: 'De modo nenhum vocês morrerão. Mas Deus sabe que, no dia em que vocês comerem o fruto, os olhos de vocês vão se abrir, e vocês se tornarão como deuses, conhecedores do bem e do mal'''.); ou o diálogo entre uma jumenta e Balaão, registrado em Números, 22, 27-30 (“Vendo o Anjo de Javé, a jumenta caiu debaixo de Balaão. Este ficou furioso e começou a espancar a jumenta com o bastão. Então Javé abriu a boca da jumenta, e ela disse a Balaão: 'O que foi que eu fiz, para você me espancar três vezes?' A essa pergunta Balaão respondeu: 'É porque você está caçoando de mim. Se eu tivesse uma espada na mão, eu a mataria agora mesmo'. A jumenta disse a Balaão: 'Não sou a sua jumenta em que você tem montado sempre até hoje? Costumo fazer assim com você?' Balaão respondeu: 'Não'''.). Gênesis e Números integram a Bíblia, livro de cabeceira do bispo.


 



Ao ex-chefe da CNBB se revelaria, talvez ainda na sua juventude, que o homem não se torna, mas é e sempre foi um animal, e que a sexualidade humana não está obrigatoriamente vinculada à reprodução.


 


Informações como essas poderiam ter mudado completamente o rumo de sua vida. É que o conhecimento, como corretamente alertou a serpente a Eva, de fato permite saber do bem e do mal e não nos mata. Permite a escolha, por exemplo, do sexo responsável. Permite a interrupção, segura para a mulher, da gravidez indesejada. Permite pesquisar as células-tronco e abrir caminhos para novas curas de flagelos que atormentam a humanidade, em vez de ficar engolindo papeizinhos com textos em latim (''Post partum Virgo inviolata permansisti, Dei Genitrix Intercede pro nobis'' – Depois do parto permanecestes Virgem, Mãe de Deus, intercedei por nós) creditados a frei Galvão. Permite, até mesmo, a construção de uma sociedade mais justa, equilibrada, que não possibilite o recurso aos deuses e à crendice para manter a população na ignorância, no atraso e submetida à exploração.


 


Quando se depara com declarações como as de dom Geraldo Majella sobre a educação sexual, mesmo um ateu é levado a concordar com a irônica peroração atribuída por Mateus (5,3) a Cristo: ''Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu'' (sermão da montanha); ou com o lamento colocado na boca de Jesus por Marcos (15,34): '''Eloi, Eloi, lamá sabactâni?', que quer dizer: 'Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?'''…

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