A hora de Keynes?

John Maynard Keynes ficou amplamente conhecido com a publicação em 1919
do livro ''As Conseqüências Econômicas da Paz'', relato da Conferência que
reuniu, em Versalhes, os principais representantes dos países envolvidos
no conflito denominado

A crítica implacável do jovem economista, representante do Tesouro
britânico, expôs as feridas que a feitura de uma paz cartaginesa ( a
implacável destruição de Cartago pelos romanos) iria acarretar numa
Europa dividida. Para Keynes, as reparações exigidas da Alemanha pelos
vencedores do conflito, quer em material de toda natureza, quer em
pagamento de ouro, inviabilizaria a participação da Alemanha e seus
aliados, no processo de reconstrução da devastada Europa. Os
prognósticos do economista irromperam com a maior inflação monetária
alemã, em 1923. A moeda morreu, seria o mote do autor de um livro que
expõe as misérias daqueles anos, ''Quando Muere el Dinero'' de Adam Fergusson.


 



No período imediatamente após o fim da primeira Guerra Mundial, a
atenção da economia universitária foi atraída para os problemas
estruturais. Esta renovação teórica foi suscitada por três séries de
acontecimentos: a revolução Russa de 1917; a crise de 1929; a
transformação da economia americana em economia dominante.


 


 


Keynes, que não ignorava a Revolução Soviética, publicaria, em 1926 , um
texto que seria, na época, a mais severa crítica contemporânea da
economia clássica. O texto emblemático aparece sob o título de ''O Fim do
Laisser Faire'' (The End of Laissez-faire). Keynes arguiu que o
equilíbrio da livre competição e o individualismo econômico são
abstrações deslocadas da observação imediata das relações entre os
agentes econômicos. Keynes produziu um documento de rica informação,
pois não se circunscreve a demolir a concepção econômica do
laissez-faire, e o liberalismo econômico, na expressão de Say (Jean
Baptiste Say 1767-1832) “o interesse privado é o mais hábil dos
mestres”. Keynes se opõe concomitantemente ao liberalismo filosófico.
Aceita, porém, o capitalismo, que pretende manter:


 


“Estas reflexões são dirigidas para os possíveis aperfeiçoamentos na
técnica do capitalismo moderno, por meio da ação coletiva. Nada existe
neles de seriamente incompatível com o que me parece a característica
essencial do capitalismo, ou seja, a dependência de uma intensa atração
dos instintos de ganho e de amor ao dinheiro dos indivíduos como
principal força motivadora dos mecanismos econômicos. Não devo, tão
perto de minha conclusão, dispersar-me para outros campos.”.


 


 


Voltou-se Keynes contra a Lei de Say, conhecida como a lei dos mercados,
para a qual, numa economia de mercado, todo bem produzido encontra seu
consumidor, ou seja, toda venda equivale a uma compra. Keynes assevera
que não é assim tão singela a transição entre a compra e a venda de um
produto. Numa economia monetária- onde o dinheiro é um elo entre o
presente e o futuro- um lapso de tempo pode transcorrer entre a oferta e
a demanda do bem. O vendedor nem sempre decide comprar imediatamente,
prefere resguardar-se, guardando o dinheiro para comprar mais tarde, ou
investir em um negócio. Esta situação é a mais plausível, dada a
diferença de renda entre os compradores, parte deles dispondo de
importâncias suficientes para cobrir todo o consumo desejável e mais uma
quantia que reserva para o futuro, ou seja, no momento, prefere a
liquidez. O consumidor não gasta toda a sua renda no consumo diário,
isto só ocorre com os mais pobres, e, na hipótese da renda aumentar,
gasta em menor proporção do que o aumento ocorrido. A preferência pela
liquidez monetária é uma inferência psicológica exponencial na teoria
keynesiana. Este desencontro entre os dois momentos da compra e venda
redunda numa queda no consumo das mercadorias, no desaquecimento das
atividades, da renda, e do investimento. Diminuído o investimento, setor
dinâmico da economia, reduz-se a procura de mão-de-obra provocando o
desemprego. A fim de evitar esta situação, e a crise possível nestas
circunstâncias, somente a intervenção do Estado pode impedir esta
ocorrência, adotando as denominadas políticas compensatórias, dentre
elas expandir o consumo mediante obras públicas, construção de moradias,
bens de infra-estrutura, etc., aumentando a renda da população e a
demanda de mão de obra . Propõe administrar a taxa de juros, a fim de
que esta permaneça inferior ao lucro presumido pelo investidor, mantendo
rentável o investimento.


 


 


Em relação aos ciclos econômicos, o liberalismo da escola clássica não
admite a existência de crises, pois a auto-regulação impediria
desequilíbrios dessa magnitude. Os liberais admitem, quando muito, algumas
medidas como as privatizações de empresas públicas, inovações
financeiras, desregulação dos mercados (ampla liberdade de iniciativa
das empresas privadas), redução drástica da intervenção direta do Estado
nos setores industriais e bancários. Esta ideologia neoliberal
predominou no último quartel do século passado, desaguando na enorme
crise vigente e sua coorte de desemprego planetário.


 


 


O keynesianismo desponta como o único caminho para evitar uma derrocada
do capitalismo contemporâneo, daí o interesse de acolher as suas
políticas econômicas para combater a crise. O socialismo oferece uma
opção, bem mais rica de conteúdo econômico e, sobretudo, social. Os
primeiros decênios do regime soviético foram inigualáveis, se
considerarmos o aumento da produção, o pleno emprego, a produtividade
industrial crescente, a despeito das invasões estrangeiras, da guerra
civil, da complexa situação camponesa, da ameaça permanente do nazismo
e, finalmente, da Segunda Guerra, que devorou parte da população,
principalmente da juventude, e arrasou o território, além de exigir um
esforço bélico que não redundou em “destruição produtiva,”, ou seja, a
indústria desta natureza pode, no capitalismo, contribuir para o
investimento,amenizando a superprodução, é o que se denominou
“militarização keinesiana”. Nem esta , porém, pode evitar as crises, como
se verifica das guerras presentes, desencadeadas por um imperialismo em
decadência.

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