A cova rasa de um debate fúnebre

Os grandes meios de comunicação no Brasil continuam a abrigar em suas redações um féretro de zumbis que, do alto de seus pedestais, determinam quem pode viver ou quem deve morrer (política ou fisicamente)

As redes sociais são palco privilegiado para debates rasos. Temas periféricos são desenterrados à sorte de acontecimentos fortuitos, bem como questões de fundo são sepultadas com o pesar de quem pensa construir um Projeto de Nação, muito além de um projeto eleitoral.

Neste cenário macabro, os alvos são invariavelmente os mesmos: indivíduos políticos. O ritual político estabelecido envolve sangrar o sujeito (até a morte, de preferência), independentemente de suas “boas ações” pretéritas ou daquilo que ele ainda pode oferecer.

Enquanto isso, a política que cada um representa é pouco ou quase nada combalida. Governos descartam seus quadros políticos para preservarem a necropolítica em curso. Assim, enquanto os cães ladram, a caravana passa.

Toda a esquerda ficou em polvorosa quando Bolsonaro indicou Vélez Rodríguez para o Ministério da Educação. Não era para menos. Vélez era da chamada “ala ideológica” do governo e representava concepções extremamente reacionárias para a educação brasileira. Mas uma das mais pesadas críticas que recebeu foi o fato de ter nascido na Colômbia. Daí veio Weintraub e, a despeito de todo seu compromisso em aniquilar a educação pública, o que pesou contra ele foi o pouco domínio da língua vernácula e outras superficialidades de ordem moral. Com sua queda veio outro que nem chegou a sentar na cadeira ministerial, deposto por… plágios e falsificações curriculares.

 Óbvio que essas e outras críticas são importantes. Mas periféricas. Indivíduos caem, mas a política continua como é este caso emblemático do rodízio de cadeiras no Ministério da Educação. Há um exército de reserva bolsonarista, como milhares de candidatos aptos a ocuparem o cargo assim que o mais recente ministro cair.

Na semana passada a morte de Bolsonaro foi desejada por um prestigiado colunista do jornal Folha de São Paulo. Tudo muito bem justificado. As redes sociais se dividiram. Em seu favor, teve até quem sugerisse que a humanidade não teria vivido o nazismo caso Hitler tivesse morrido antes de ter chegado ao poder. Nada mais estúpido.

Tal como o nazismo não foi criação de Hitler, o bolsonarismo também não foi inventado por Bolsonaro (embora leve seu nome). Com ou sem Hitler, com ou sem Bolsonaro, as ideias que movem a luta de classes, mais ou menos encarniçadas, se dão acima dos indivíduos. Não só Bolsonaro precisa ser afastado do cargo, mas fundamentalmente a política que ele representa.

Os grandes meios de comunicação no Brasil continuam a abrigar em suas redações um féretro de zumbis que, do alto de seus pedestais, determinam quem pode viver ou quem deve morrer (política ou fisicamente). É um dos aparelhos ideológicos do Estado a legitimar a cultura do ódio.

São os mesmos que, pouco tempo atrás, festejavam (aberta ou veladamente) o câncer de Lula e de Dilma, exortavam bestas-feras a hostilizarem petistas que se tratavam em hospitais particulares e caçoaram quando um agente de Estado pediu para que Lula fosse jogado do avião que o levava para a prisão.

Debater mais a política e menos as pessoas. Discutir as ideias ao invés de seus porta-vozes. Enquanto isso não ocorrer, entre mortos e feridos afundaremos todos na mesma vala comum da fulanização da política, sem entender de fato a causa mortis de nossa frágil democracia burguesa.

Quem precisa morrer é o neoliberalismo fascista que se abateu sobre o Brasil. Combater suas ideias moribundas é a base para varrer de vez todos os personagens sinistros que tomaram conta da cena política do país.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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