A Copa no Brasil real

Às vezes a aridez da rotina nos amortece para as verdadeiras belezas da vida. Aquelas que, na retrospectiva da hora fatal, serão as lembranças a descer os fatídicos sete palmos conosco. É o sorriso do filho, é aquela namorada, a carraspana olímpica com os amigos, é o orgulho dos pais quando recebemos o primeiro salário, é a alegria do estádio em dia de clássico. Enfim, é tudo aquilo que importa e, por isso mesmo, é o que interessa.

Recentemente, eu e alguns amigos fizemos uma verdadeira “longa marcha” por esse Brasil de meu Deus. Não, não foi a viagenzinha-balada que só vê o país do litoral; muito menos foi a excursão cult-bacaninha para algum paraíso de hippie de boutique. Não. Foi um verdadeiro banho de Brasil. Uma Coluna Prestes contemporânea que percorreu mais de seis mil quilômetros de ida e volta, saindo do concreto paulistano, rasgando as alterosas Minas Gerais, cortando a Bahia de todos os santos e religiões, atravessando o velho Chico em Pernambuco, rompendo o estrelado céu do sertão piauiense até chegar aos verdes-mares cearenses e, de lá, fazer a romaria até o Padim Padre Ciço – afinal, 2014 é ano de Copa; ano de Copa no Brasil!

Nessa imersão sertanejo-praiana pudemos todos ver e sentir como pulsa o Brasil real. Não é o Brasil-Leblon do Manoel Carlos, é verdade; mas também não Brasil ferrado, fracassado, todo torto que a mídia, a elite antinacional e os “revolucionários” de Moema tentam nos enfiar goela abaixo.

O Brasil de verdade, minha gente, tem mais o que fazer. Ele trabalha – e trabalha bem mais que alguns anos atrás -, ele estuda, ele mora, ele planta, ele colhe, ele bebe, ele come, ele “descome”, ele vive. Aliás, ele vive, é feliz e torce por um Brasil cada vez melhor. Ele não é contra a Copa. Ele não sai por aí quebrando nada, e nem fica de boca aberta engolindo tudo que lhe empurram. Ele não é burro, ele não vê contradição: quer a Copa e também quer saúde e educação.

Vai ter Copa e vai ter Hexa!

Existe uma onipresença no Brasil real: o futebol. Quaisquer três pedaços de pau formam uma trave, e qualquer terreno baldio dá um campo. Uma laranja, uma meia, um iogurte amassado… com criatividade, de tudo se faz uma bola. Aliás, perguntem pro Julinho, moleque de 15 anos, palmeirense com muito orgulho e o “melhor guia do Preá”, qual foi o presente de Natal que ele mais gostou. Certamente foi a bola que ganhou para brincar com o irmão Juscicleudo.

E é por isso que vale dizer aos maganos de todos os tipos, aos mascarados da Vila Olímpia, aos quatrocentões dos Jardins, aos novos ricos de Anália Franco, aos udenistas que não passam numa malha fina do Imposto de Renda: sim, vai ter Copa, ela vai ser no Brasil e, pior pra torcida da reação, levaremos o caneco com as bênçãos do Felipão.

E sabem por quê? É simples: para cada Itaim Bibi existem 10 Itains Paulistas, 50 Madureiras, 100 Brasilândias; para cada novo-rico existem 1000 antigos pobres e atuais remediados prontos a fazer o que o momento exige: juntar a vizinhança, pintar a rua, acender a churrasqueira, assar uma carne, tomar uma cerveja, vestir a canarinho e, principalmente, varrer o pessimismo vira-lata e torcer pelo Brasil!

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