A AP 470 e a opinião publicada

Continua atual como nunca a máxima de Malcolm X sobre a velha mídia conservadora, venal e golpista: “Se você não for cuidadoso, a imprensa fará você odiar os oprimidos, e amar os opressores”. E nós completamos: Muito cuidado para não confundir a opinião pública com a opinião publicada.

O exemplo mais emblemático de um passado recente foi a recusa da maioria dos excluídos em votar no candidato da Frente Democrática e Popular, Luiz Inácio Lula da Silva nos anos de 1982 para governador de São Paulo, e 1989, 1994 e 1998 para presidente da República. Lula se elegeu em 2002, na quarta tentativa, graças ao desastre das duas administrações tucanas, tendo à frente o Coisa Ruim (FHC), maior traidor da Pátria em toda a história republicana brasileira. Lula também teve de assinar uma “Carta aos Brasileiros” se comprometendo a não radicalizar e manter os fundamentos macroeconômicos herdados dos neoliberais. Mesmo assim teve de enfrentar um segundo turno tanto em 2002 como em 2006, dado o terrorismo midiático contra a sua candidatura.

Se retroagirmos há meio século, veremos que a opinião publicada influenciou a opinião pública – de setores atrasados da classe média e do clero católico a apoiar o golpe de Estado de 1º de abril de 1964 que depôs o presidente João Goulart, democraticamente eleito, dando origem à ditadura militar fascista que infelicitou esta Nação por longos 21 anos. À frente da campanha difamatória contra Jango estavam as organizações Globo – rádio, jornal e televisão, que somente agora, quase 50 anos depois faz um fajuto mea culpa afirmando que foi um “equívoco” apoiar o golpe militar. Agora é tarde demais.

Se retroagirmos mais ainda, há dois mil anos, veremos que a opinião pública de então foi manipulada pela opinião publicada pelos poderosos, levando um inocente à crucificação, e inocentando o perigoso bandido Barrabás. Os poderosos de hoje, que controlam a velha mídia contra os oprimidos são os mesmos de antes.

As mais recentes e revoltantes manipulações da opinião pública pela opinião publicada foram os casos do ex-ministro dos Esportes, Orlando Silva (PCdoB), acusado por um marginal que quis se vingar por ter sido denunciado pela não aplicação de R$ 4 milhões do programa Segundo Tempo. Orlando Silva foi massacrado pela velha mídia, sendo forçado a entregar o cargo à Presidenta Dilma Rousseff. Provada a sua inocência, a velha mídia simplesmente silenciou. O outro caso foi do ex-ministro do governo Lula, Luiz Gushiken que passou sete anos sendo massacrado por essa mídia desonesta. Ele foi acusado de peculato, mas sempre negando as acusações, até ser inocentado e ter seu nome retirado do processo. Mesmo assim não recebeu nenhum pedido de desculpas dos meios de comunicação que o acusaram. Este fato, com certeza, contribuiu para acelerar a sua morte por câncer, ocorrida no último sábado.

É de bom alvitre recordar o que disse o professor Ladislau Dowbor sobre a AP 470, batizada de mensalão pela velha mídia: “Este negócio do Supremo Tribunal Federal simplesmente não passa no filtro do bom senso. Se houvesse alguma prova concreta de mensalão, não seriam necessárias milhares de páginas nem tantos anos. Um documento bastaria” O professor é titular no Departamento de Pós-Graduação da PUC/São Paulo e da Universidade Metodista de São Paulo, e consultor das Nações Unidas.

O que se ver, ouve e ler desde a última quinta-feira 12, quando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, suspendeu a sessão em que estavam sendo votadas os embargos infringentes de 12 réus na Ação Penal 470, é a destilação do ódio de classe. A pressão da velha mídia, em especial da revista Veja e da Rede Globo em cima do ministro Celso de Mello para que desempate – o placar está de 5 X 5 – contra os réus, chega a ser não só desumana, mas irracional.

A grande preocupação de alguns ministros, da velha mídia e dos reacionários recalcitrantes é que o decano Celso de Mello mantenha a sua posição assumida na primeira sessão do julgamento, em 2 de agosto do ano passado, quando afirmou que “não sendo um julgamento unânime, serão admissíveis embargos infringentes do julgado”. É oportuno observar que o adiamento da votação objetivou forçar o ministro que desempatará o placar a mudar de posição até hoje. A forçação de barra de alguns colonistas amestrados é desmedida. O amestrado Merval Pereira, do O Globo, chegou a afirmar que Celso de Mello “terá de levar em conta não apenas os aspectos técnicos da questão, como também a repercussão da decisão para o próprio desenrolar do processo como até mesmo para a credibilidade do STF”. É muita chantagem!

O show de histeria na última sessão, dado pelo ministro Gilmar Mendes (ou Gilmar Dantas, conforme o jornalista Ricardo Noblat) e a descortesia do seu colega Marco Aurélio de Mello com relação ao ministro Luis Roberto Barroso chegaram às raias do absurdo, notadamente tratando-se de uma corte Suprema. Em tom de deboche, Marco Aurélio chamou seu colega Luis Barroso de novato. Bom lembrar que Mendes foi indicado pelo Coisa Ruim (FHC) e Marco Aurélio por seu primo Collor de Mello.

Quando recordo a máxima de Malcolm X não quero dizer que os réus José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, João Paulo Cunha e os outros requerentes sejam oprimidos e, como tal, merecem absolvição. Nenhum deles é inocente, pois cometeram crime de caixa 2, porém têm o direito a novo julgamento sobre o crime de formação de quadrilha. Eles tiveram quatro votos favoráveis, o que garante o embargo infringente. O que não quer dizer que serão inocentados.

Celso de Mello deve votar de acordo com as suas convicções.

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