Show no Brasil ajudou a cristalizar imagem de Tina Tuner como diva do rock

Apresentação foi registrada pelo Guinness como maior participação paga em um show de artista solo; Elza Soares homenageou Tina Turner em clipe de 2019

Foto: Facebook Tina Turner

O Brasil foi um dos locais que ajudaram para que a imagem de rainha do rock n’ roll de Tina Tuner se cristalizasse. Isso aconteceu em um show no Rio de Janeiro que passou a fazer parte do livro dos recordes, o Guinness World Records. Falecida na quarta-feira (24), aos 83 anos, a morte da cantora e dançarina foi oficializada em mensagem no seu perfil oficial no Instagram:

“Com a sua música e a sua paixão sem limites pela vida, ela encantou milhares de fãs em todo o mundo e inspirou as estrelas do amanhã. Hoje nos despedimos de uma amiga querida, que nos deixou seu maior trabalho: a sua música”, escrito pelos responsáveis de suas redes.

Com quase 200 milhões de discos vendidos e 12 Grammys, o legado de Tina solapou os percalços que teve durante a vida. Registrada pelos pais como Anna Mae Bullock, foi abandonada por eles aos 15 anos. Casou-se com o músico Ike Turner que já tinha uma carreira e com quem formou a dupla Ike & Tina Turner nos anos 60 e 70. Ela o deixou em 1976, devido às agressões sofridas ao longo do relacionamento. O comportamento abusivo e a violência física e psicológica que Ike cometeu foi revelado por Tina nos anos 80.

A conclusão do divórcio em 1978 a levou a falência, pois cedeu todo o patrimônio artístico ao ex-marido como responsabilidade por datas de shows perdidas e como forma de manter o nome artístico Tina Turner (ela se casou novamente em 2013 com o produtor e empresário alemão Erwin Bach, após décadas de relacionamento iniciado em 1985).

Os dez anos subsequentes ao divórcio foram de recuperação para a cantora. Recebeu ajuda de amigos e batalhou para reconquistar seu espaço com uma carreira solo, amealhando prêmios até o show de 1988, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, para 188 mil pessoas. O marco foi registrado no Guinness World Records como maior participação paga em um show de um artista solo.

Como relata o colunista Tony Goes, no F5, o show foi o “apogeu” da turnê “Break Every Rule” que rodou o mundo por um ano. Antes da apresentação que rendeu o recorde, Tina passou o réveillon no Brasil, se apresentou na Argentina, voltou para se apresentar em São Paulo, foi ao Chile e, finalmente, fez o show histórico no Rio.

Além de lendário, o show que cristalizou definitivamente a imagem de rainha do rock n’ roll de Tina Turner era um verdadeiro espetáculo para a época, com efeitos visuaus e um telão que retransmitia o show com edições instantâneas, revela Goes que faz um paralelo da artista norte-americana com a brasileira Elza Soares.

Com trajetórias parecidas, elas tiveram que lutar contra as dificuldades, relacionamentos abusivos e perdas até alcançarem o sucesso. Isso sem contar a semelhança no espírito e por terem vozes marcantes. Mas acima de tudo por serem símbolos da “resistência preta e força feminina”, como bem pontuou os administradores do Twitter da saudosa Elza ao lamentarem a morte de Tina.

“Hoje perdemos um dos maiores nomes da música mundial, uma lenda nos palcos e de voz e gingado hipnotizantes. Tina Turner, nossa rainha do Rock n’Roll, nos deixa com um legado gigante. Assim como Elza, foi e sempre será um grande exemplo de resistência preta e força feminina. Nossa rainha sempre foi uma grande fã da voz de “What’s Love Got To Do With It” e a tinha como inspiração. Ela costumava dizer: “Tina Turner sou eu dos EUA e eu sou a Tina Turner do Brasil”. Tamanha era seu respeito e admiração que a comunicação visual do álbum ‘Planeta Fome’, de 2019, foi inspirada nesta grande diva em ‘Mad Max: Além da Cúpula do Trovão’. Como exemplo, o clipe de ‘Comportamento Geral’, que abriu os trabalhos deste disco de Elza, foi gravado em uma locação que faz alusão a cenários do filme, assim como seu cabelo e o figurino metálico feito todo de alfinetes, em referência aos que prendiam a roupa que Elzinha usou em sua primeira aparição pública, no programa de Ari Barroso. E foi lá, utilizando as roupas de sua mãe, Dona Rosária, quando questionada por Ari “de que planeta você veio?” ela soltou a célebre e forte resposta: “do planeta fome”. Que essas duas rainhas possam se encontrar e cantar, juntas, neste outro planeta, de luz e amor, onde agora estão. Viva Tina Turner!”

Memória

O legado de Tina Turner pode ser conferido em uma exposição fotográfica no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo (SP). A mostra Tina Turner: uma viagem para o futuro fica em cartaz na capital paulista até o dia 9 de julho.

A exposição reúne 120 imagens nunca expostas no Brasil. As fotos estão organizadas por: carreira musical, poder feminino, participação no cinema (ela esteve em sete longas metragens) e em seu estilo único refletido nos figurinos e penteados emblemáticos. Consulte mais informações da mostra no site do MIS, que às terças-feiras oferece entrada gratuita ao público.

Tina Turner no MIS. Foto Rovena Rosa/Agência Brasil

* Com informações Agência Brasil