Exposição resgata a história da Copa do Mundo das mulheres

Às vésperas da edição deste ano, o Museu do Futebol apresenta “Rainhas de Copas” com imagens inéditas da primeira Copa do Mundo organizada pela FIFA

Foto: Acervo Museu do Futebol | Coleção Márcia Honório | Direitos Reservados Copa 1988

“O condicionamento físico já tinha ido embora, estava entrando em baixa. [Então] foi inspiração, né? É você querer muito voltar com a medalha”, conta Suzana Cavalheiro. Suzana é uma das brasileiras convocadas para o primeiro campeonato oficial de futebol de mulheres organizado pela FIFA, em 1988.

No áudio, disponível na exposição Rainhas de Copas, no Museu do Futebol (Pacaembu), a ex-jogadora comenta a fadiga que a seleção brasileira feminina enfrentou para vencer, nos pênaltis, a China, diante de 35 mil torcedores. O país asiático sediava o torneio experimental que acabou sendo vencido pela Noruega.

“[Durante o campeonato] as equipes tiveram de lidar com o mesmo preconceito que por décadas afastou as mulheres do futebol: a descrença em sua condição física apta para praticá-lo”, explica um dos banners da exposição. “Cogitou-se a substituição da bola tradicional (nº 5) por uma de tamanho menor (nº 4), indicada para praticantes de 8 a 12 anos”.

Naquela mundial experimental, a ideia de uma bola menor foi descartada. No entanto, as 12 primeiras seleções do Torneio Experimental de Futebol Feminino “não escaparam do paternalismo e se viram obrigadas a jogar partidas de apenas 80 minutos. A medida se estendeu à Copa seguinte”. Como se sabe, as partidas oficiais têm 90 minutos desde 1886.

Naquela primeira experiência, não era só as regras elementares do futebol que definiam as diferenças nos campeonatos organizados pela FIFA para homens e mulheres. A competição não foi televisionada e realizou-se com muita precariedade para os participantes.

Para se ter uma ideia, de acordo com a mostra, somente uma repórter brasileira cobriu a campanha da primeira seleção feminina do país em um evento organizado pela FIFA.

O Torneio Experimental na China, com todas as suas limitações, decorrentes de mais de um século de desestímulos e boicotes da sociedade, no entanto, foi um dos momentos mais decisivos para o esporte desde a sua origem. Sua realização não é só um ponta pé inicial, mas um marco que representa toda riqueza e importância das mulheres para o esporte.

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Rainha de Copas

A exposição Rainha de Copas, que começou no dia 28 de abril e vai até 27 de agosto, conta o caminho percorrido pelas mulheres até conquistarem o direito de disputar uma Copa do Mundo, em 1991 – mesmo que 61 anos depois da primeira versão masculina do torneio, em 1930 – e como as sete edições seguintes do maior torneio da modalidade foram se modificando, ganhando mais visibilidade e investimento até chegar na Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2023 deste ano, que ocorrerá na Austrália e Nova Zelândia.

Com curadoria de Aira Bonfim, Lu Castro, Juliana Cabral e Silvana Goellner, a exposição começa contextualizando o começo da modalidade ou “quando tudo era mato”.

No Brasil, com a lei do Conselho Nacional dos Desportos, em 1941, as atletas tiveram que lidar com o veto da prática do futebol por mulheres. O decreto só seria revogado em 1979. No mundo, as mulheres só foram ver a FIFA se mexer para a realizar um torneio em 1978. A competição que seria em Taipé, Taiwan, no entanto, nunca se concretizou.

Nos anos 1980, depois de muita luta e resistência, começaram a pipocar no Brasil e no Mundo a realização de torneios nacionais e mundialitos. Clubes e seleções participavam com mais frequência de campeonatos nacionais e internacionais.

O movimento fez com que a FIFA começasse a se coçar para, de fato, realizar um evento a altura do desafio.

“O futebol de mulheres crescia, ganhava praticantes e clubes pelo mundo. Alguns times participavam de campeonatos regionais e ‘mundialitos’ internacionais sem apoio da FIFA, mas essas competições já não comportavam o desejo de legitimação da modalidade. A Copa do Mundo de Mulheres precisava acontecer, fosse prioridade dos cartolas ou não”, diz um dos informes da exposição.

O clima de “explode coração” das participantes e da torcida revelou o sucesso da modalidade, mostrando que, mesmo com o baixo investimento da FIFA, o futebol feminino é uma modalidade a ser levada a sério.

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A Copa do Mundo de Futebol de Mulheres é uma realidade!

A Rainhas de Copas é a terceira exposição do Museu do Futebol dedicada inteiramente ao futebol de mulheres. A primeira aconteceu em 2015, quando o museu incluiu a modalidade em sua programação cultural. Em 2019, “CONTRA-ATAQUE! As mulheres do futebol” contou os anos de proibição do futebol feminino no Brasil.

A exposição Rainhas de Copas vem para coroar a história de resistência, rebeldia e resiliência das mulheres que lutaram pelo direito de jogar futebol. A mostra perpassa as sete edições da Copa do Mundo Fifa de Futebol Feminino com ênfase na seleção brasileira.

Através do túnel do tempo, o público tem acesso a histórias até então pouco conhecidas, por meio de imagens que estavam restritas e que pela primeira vez são exibidas a todos, além de dados que engrandecem a trajetória das mulheres para participarem das Copas do Mundo

O ingresso para visitar a exposição “Rainha de Copas” custa R$ 20,00 (meia R$ 10,00), sendo que crianças até sete anos não pagam. O Museu do Futebol fica na Praça Charles Miller, no Estádio Paulo Machado de Carvalho (Pacaembu). A mostra vai até 27 de agosto e funciona de terça-feira a domingo, das 9h às 18h (horário de Brasília), com entrada até 17h.

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