Após Lasso dissolver parlamento, Equador decide eleições para 20 de agosto

Na melhor das hipóteses, o presidente tem 3 meses para governar por decreto, sem interferência de deputados que queriam seu impeachment. Na pior, pode ter quase 5, se houver 2o. turno.

Presidente Guillermo Lasso ainda não confirmou se participará das eleições no Equador

Os equatorianos vão às urnas em 20 de agosto para eleger o presidente e 137 deputados, em eleições antecipadas, uma semana após o presidente do Equador, Guillermo Lasso, dissolver a Assembleia Nacional, na semana passada. Se for necessário, o segundo turno foi marcado para 15 de outubro.

Com isso, o ex-banqueiro pode ter até cinco meses para governar por “decretos-lei de urgência econômica”, na ausência de Congresso. Já se previa que suas prioridades seriam projetos que a Assembleia Nacional não aprovaria, como as reformas tributárias para ampliar despesas dedutíveis. Ele também aproveitou para criar novas zonas francas em áreas fronteiriças.

Organizações sociais e indígenas avisaram que vão monitorar os decretos-lei sobre questões econômicas emitidas pelo Executivo, que dizem manter políticas neoliberais que afetam o custo de vida. Essas organizações são temidas pela capacidade de mobilização e instabilidade que conseguem contra o governo.

O presidente acrescentou que quer aproveitar os meses como “um dos poucos presidentes de centro-direita” da América Latina, para promover ordens executivas focadas em segurança, saúde, educação e infraestrutura. Lasso declarou que irá anunciar, na próxima semana, um decreto que aumentará as proteções para as forças de segurança armadas.

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Medida desesperada

Lasso dissolveu a Assembleia Nacional por meio de um mecanismo previsto na Constituição, a chamada “morte cruzada”, que permite que o presidente governe seis meses por decreto até a convocação de um novo pleito. A decisão de fechar o parlamento ocorreu para que não fosse votado o pedido de impeachment aberto pela Assembleia alegando delito de peculato por suspeitas de corrupção na estatal de transporte de petróleo Flopec.

Ao The Washington Post, ele alegou que a medida foi um “ato de generosidade para com o país, para encurtar um mandato presidencial para alcançar o interesse comum dos equatorianos e não ver esse espetáculo embaraçoso de brigas entre políticos”.

A “morte cruzada” é um recurso adotado em 2008 no Equador, que dá ao Executivo o poder de dissolver o Legislativo em três cenários: obstrução do Parlamento contra o governo “de forma injustificada e reiterada”; se o Legislativo assumir funções que não lhe correspondam; ou em uma crise política e comoção interna, motivo duvidoso que levou Lasso a adotar a medida.

O calendário divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) prevê ainda a posse dos parlamentares para 26 de outubro, para empossar o presidente eleito. Para as eleições dos prefeitos em fevereiro passado, 13,4 milhões dos 18,2 milhões de equatorianos estavam registrados para votar.

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Segundo a imprensa local, a dissolução da Assembleia não provocou maiores sobressaltos no país, onde, supostamente, a credibilidade da casa legislativa estava em torno de 2%, segundo pesquisa de opinião do instituto privado Perfiles de Opinión.

Nesta quarta-feira, Lasso, de 67 anos, apresentará seu relatório anual de trabalho — o mandato de Lasso terminaria apenas em 2025. Em seguida, o governante viajará para os Estados Unidos para uma intervenção médica. O retorno dele está marcado para o próximo domingo.

O ex-banqueiro conservador, que governou com um Congresso de oposição, também viu sua credibilidade despencar para 10% em dois anos. Ele promoveu uma violenta repressão contra manifestantes em 2022. No entanto, ele poderá concorrer novamente, de acordo com as autoridades eleitorais, o que ainda não foi confirmado.

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