ONU condena racismo contra Vinícius Jr.

Alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Turk, cobrou investigações e mais comprometimento dos organizadores esportivos

O alto comissário da ONU para Direitos Humanos condenou as ofensas racistas a Vini Jr Foto: Jean Marc Ferré/UNHCR

O alto comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para Direitos Humanos, Volker Turk, condenou, nesta quarta (24), os insultos racistas proferidos à Vinícius Junior, no domingo, em Valência, pelo Campeonato Espanhol.

“O abuso racial enfrentado, mais uma vez, pelo jogador de futebol do Real Madrid, Vinicius Junior, na Espanha, no domingo passado, é um lembrete gritante da prevalência do racismo no esporte”, disse.

Turk cobrou daqueles que organizam eventos esportivos medidas para conter, combater e prevenir o racismo. “Quem organiza eventos desportivos [precisa] levar muito a sério esse tema”, disse o alto comissariado.

Nos últimos dois anos, o jogador brasileiro vive uma escalada de ofensas racistas nos estádios do campeonato do país. São mais de 10 denúncias à Justiça espanhola dede 2021. Ontem, a Polícia Nacional deteve sete suspeitos com envolvimento em dois casos, o de domingo, em Valência, e outro em Madrid, em janeiro, quando torcedores do Atlético simularam o enforcamento do brasileiro usando um boneco negro.

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“Eles (a Espanha) começaram a prender pessoas de forma muito rápida, mas também precisamos que quem organiza eventos esportivos leve essa questão muito a sério”, disse. “Sinto que as organizações de esporte precisam olhar de forma mais atenta aos direitos humanos”, completou.

Segundo Turk, o escritório de Direitos Humanos da ONU pretende criar um guia sobre padrões de direitos humanos para auxiliar os organizadores dos esportes no mundo. “Quero criar um guia para federações sobre padrões de direitos humanos. Esporte reúne as pessoas e é positivo. Mas também precisam lidar com as áreas de sombras”, disse.

Omissão da La Liga

Desde 2021, a La Liga vem tendo que enfrentar uma escalada de ofensas racistas, principalmente, à Vini Jr. No entanto, liderada por Javir Tebas, o presidente da liga desde 2013, a organização insiste em minimizar os casos.

Antes do caso de domingo tomar proporções mundiais, Tebas chegou afrontar o brasileiro nas redes sociais. Vini vem denunciando todos os ataques racistas que sofre nos gramados espanhóis e, após os incidentes de domingo, o presidente da La Liga contrariou duas dessas postagens. “Nem Espanha, nem a La Liga são racistas. É muito injusto dizer isto”, disse o cartola em resposta ao atacante.

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Não foi a primeira vez que Tebas tomou este tipo de atitude. Em dezembro de 2022, após sofrer ofensas racistas dos torcedores do Valladolid, Vini foi as redes sociais para alertar que a liga “segue sem fazer nada”.

“A LaLiga combate ao racismo há anos. Vini Jr, é injusto e não é verdade publicar que a LaLiga não faz nada contra o racismo. Se informe melhor. Estamos à sua disposição para que TODOS JUNTOS, possamos caminhar na mesma direção”, rebateu Javier Tebas.

Com a pressão internacional, no entanto, a Federação Espanhola de Futebol, órgão independente da La Liga, começou a tomar providências para punir os envolvidos de domingo e elaborar medidas de prevenção e combate ao racismo.

O Comitê de Competição da federação sancionou a decisão de fechar parcialmente por cinco partidas a arquibancada Mario Kempes, onde ocorreram as ofensas a Vini Jr, e multa de €45 mil para o Valência.

ONU já alertou Espanha sobre racismo

Segundo informações do blog do Jamil Chade, do UOL, a Espanha já foi alvo de questionamentos por parte da ONU por pelo menos três vezes. Em 2013, uma relatoria concluiu que os mecanismos e leis existentes para combater o racismo no país eram insuficientes.

Em 2016 e 2018, a ONU voltou a fazer alertas para situações de riscos e denunciou a “invisibilidade” da população negra no país ibérico. “Em várias ocasiões, o Grupo de Trabalho (da ONU) ouviu testemunhos de como os afrodescendentes são frequentemente parados de forma desproporcional em verificações de identidade nas ruas, nos portos e no transporte público, em comparação com outras etnias”, dizia o informe de 2018.

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